A Aventura da Consciência Credibilizante.....

Só o português é capaz de separar a consciência dos actos que pratica, já dizia alguém. E pelos vistos até faz algum sentido, bem vistas as coisas. O discurso dito "consciente" por norma resulta numa prática algo desviante da mesma consciência que, pretensamente, preside ao acto. Coisa muito "tuga", façamos a devida vénia....

Já por algumas vezes - pelos vistos, poucas - abordei esta temática. Outros blogues idem e até com mais acutilância, devo dizer. Talvez porque se acredita - mesmo assim - que a credibilidade é algo que se conquista naturalmente e não se impõe ao berros, à força, pela saturação ou através de outras coisas, digamos, pouco ortodoxas.

Mas afinal, o que é credivel e o que não é credivel, neste mundo tão particular? Será por se dizer até á exaustão que algo é "credivel" que esse algo efectivamente o será? Temo que não seja exactamente assim, devo dizer. Neste mundo tão peculiar toma-se como sendo verdade insofismável e portanto, incontrariável - ou seja, um dogma - algo que basta ao seu remetente dizer: "Eu sou credivel e o que eu faço também o é". E pronto, temos automaticamente a credibilidade chapada em Outdoor e obviamente, aí de quem disser o oposto. Pior que isso, se alguém se "atreve" a dizer o oposto - tendo ou não razão de facto para tal - então é "dôr-de-coto", "azia" ou  "inveja". Ou seja, um must,  a famosa pescadinha-de-rabo-na boca, onde para se sair deste circuito fechado dá efectivamente trabalho, necessita-se de alguma capacidade argumentativa mas acima de tudo, de credibilidade. Consciente, preferencialmente.

É, na tuna "tuga", um exercício de altíssimo risco, mais perigoso que atravessar o Afeganistão vestido com a bandeira do Tio Sam da cabeça aos pés. Demonstrar que algo, supostamente credivel, afinal não o foi ou não o é, neste mundinho, é mais arriscado do que jogar à Roleta Russa. Pior, correndo-se o risco de sair da faena com o rótulo costumeiro - "dor-de-coto", "azia" ou "inveja" e por aí fora. Como bom espartilho que esta coisada é, só dele saí, das duas uma , quem é descendente de Houdini ou então, quem efectivamente pode dele sair porque é conscientemente credivel, mantendo uma postura assertiva onde não procura diminuir ninguém, nem justificar nada, mas antes e sim perceber a verdade dos factos. Até por uma questão de consciência, nada mais, nada menos. Só para alguns - geralmente os patrocinadores da tal pescadinha-de-rabo-na-boca - é que a procura da verdade é igual a azia, dor-de-coto e quejandos. E mais afirmo: se o é para esses tal coisa confusa, então são esses mesmos os principais interessados em que não se saiba a verdade, se não esclareça as coisas. Porquê? Porque lhes interessa que assim seja., simples.

Apurar factos não é procurar polémica, justificações inócuas - que de nada servem - ou tentar diminuir algo ou alguém, é simplesmente apurar factos. E é por força dessa postura naturalmente tranquila, normal e natural, mais diria, perfeitamente aceitável - tratando-se de Tunos, digo eu... - que se credibiliza conscientemente todos os intervenientes e, em suma, o todo do fenómeno. Procurar confusão na mistura de coisas absolutamente distintas só atesta da falta de rigor, veracidade e da má-fé até, de quem mistura estações tão distintas como o são a água e o vinho.

Regressando ao inicio desta "Aventura"  a consciência deve acompanhar o acto, tentando-se alguma coerência entre o propagado e o realizado, no limite. Credibilizar em -e as - tunas é como na vida em geral, não carece de grandes delongas. Contudo, conforme acima descrito, muitos, a maioria, pregam algo que não "bate certo" com o que fazem e  pior, nestas matérias, caem no tal Dogma da Auto-Infalibilidade Supra-Terrena, tornando assim difícil distinguir coisas naturalmente distintas, muitas vezes reforçando essa mesma confusão como forma de esvaziar a tal procura dos factos.

A Consciência Credibilizante é aquela que devemos ter para fazer a auto-critica - não esperando pelos outros, pelos Júris, pelos vídeos, pelas palmas - quando ela deve ser feita - o que nos ajuda no árduo caminho daquilo a que nos propomos -  mas também é aquela que devemos ter para não credibilizar o que não tem de todo qualquer credibilidade; o maior favor que muitas vezes uma tuna faz a terceiros é simplesmente falar sobre esses, seja lá o que for dito ou mesmo pensado. Ser-se conscientemente Credível é apurar factos e não alimentar o tal espartilho que acima referi . É saber olhar no espelho por se ter a consciência de que é possivel falhar - e não dispensar o espelho por se achar o maior da rua. É saber gerir a sua própria credibilidade com a credibilidade dos outros que também a têm - e não patrocinar a falta dessa mesma credibilidade que outros claramente NÃO têm. É ser-se maduro na análise dos factos - e não "puto" parvo a medir as pilas.

Com isto dizer igualmente que, em tunas, aquilo que elas fazem também é sujeito ao escrutínio de terceiros, como em tudo na vida. E não basta - lá voltamos nós - dizer que e por exemplo. "este festival é do melhor que há por aí"; como diz um Tuno espanhol meu amigo "este certamen es muy bueno hasta el dia en que deje de lo ser". Ou seja, não basta repetir até à exaustão os clichés costumeiros, há que demonstrar de facto, concretamente, que o é; não conheço nenhum certame cujos organizadores digam à partida que "isto é fraquinho mas pronto, quem dá o que tem a mais não é obrigado". Logo, deduz-se que, sendo o discurso o mesmo em todos, o que os distingue de facto é o que fazem, de errado ou de correcto, no terreno. E aqui é que se mede a real credibilidade consciente ou não; quando se facilita e se coloca nas mãos de terceiros a nossa própria credibilidade, a coisa mais tarde ou mais cedo vai dar mau resultado. E sim, há quem dê tiros nos pés, permita asneiras colossais em sua própria casa, se ponha a jeito para o absurdo. Há, claramente há.

Falar mais alto regra geral não é falar melhor. E muito menos bem. E para falar bem e melhor há que ser credivel. Conscientemente credivel. Um discurso muito bonito a apelar à paz feito por um Taliban é tudo menos credivel.

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