Foi alvo de critica construtiva, de aposta até, comentário e pool online, com os resultados mais do que esperados. Até o Notas & Melodias já se lhe referiu aqui nesta ligação. Provavelmente faz algum sentido tentar perceber-se porque razão o processo criativo tuneril nacional se encontra hibernado.
Mais uma vez a memória auxiliou-me neste particular: Recordo, nos anos 90, a Tuna de Medicina de Múrcia, que montou claramente, então, um reportório para durar a vida toda se fosse caso até, ora vejamos: A abrir o pasodoble "Te Quiero", depois "Dos Palomitas", a "Primavera" de Vivaldi, o tema Canário "Maria Va" e terminava com o tema popular argentino "La Banda", todos temas do seu CD datado de 1994 e que comemorava então os 25 anos desta Tuna.
Este reportório era, para lá de extremamente bem escolhido, equilibrado, eficaz, de grande qualidade no seu todo, eclético, extremamente fluído e acima de tudo, de grande exigência técnica (que os seus componentes então conseguiam cumprir com distinção e louvor). Ou seja, resultou no que todos sabemos (saberão, alguns....?): Onde Medicina de Múrcia ia, limpava tudo tipo furacão Katrina. E note-se sempre que falamos de uma tuna espanhola, atenção, não esquecer. Se repararmos, já fugia este reportório ao habitual "Clavelitos & Fonseca e cª ldª" da esmagadora maioria das tunas espanholas. Ainda hoje seria um caso sério, se fosse tocado pelos mesmos componentes de então. Note-se, pelos mesmos componentes de então.
Este exemplo serve como uma luva para se perceber algumas coisas desde logo:
A hibernação criativa nas tunas nacionais é um facto, principalmente naquelas tunas que sabem que o reportório que tiveram em tempos, mais coisa menos coisa, funcionará apesar de tudo. E mesmo assim pode até nem funcionar. Naturalmente, nos (re)inícios da Tuna em idos do "boom" seria imperioso ter-se reportório, naturalmente, o que "obrigou" ao incremento do processo criativo, fosse pela via das versões ou originais; hoje, após alguns anos iniciais de processo criativo, quem chega ás tunas não precisa sequer, não sente sequer a necessidade de proceder à criação. Afinal, "hino da tuna" só há um e está feito. O problema é que aqueles 10 temas dos tempos da fundação servem, chegam perfeitamente, mais facelift menos peeling.
Não há qualquer comparação - regra geral - possivel entre o que se criou antes e após 1995, 1996, grosso modo. Aliás, o processo criativo entrou em hibernação de tal forma que a edição de trabalhos fonográficos após a 1ª geração do "boom" diminuíu drasticamente. Ou seja, fez-se um pouco como fez a Tuna de Medicina de Múrcia: Montou-se um espectáculo com 5, vá, 6 temas e cavalgou-se o mesmo reportório até ao infinito, até deixar de dar, até deixar de ter os que o conseguiam executar e por aí fora. O impasse começa precisamente neste ponto, quando os que levavam o reportório até ao infinito deixavam...de estar. É aqui o "break-even" desta questão, ou seja, onde supostamente o investimento estaria pago, em teoria. Mas não, nada disso, entrou-se ao invés em recessão.
Recessão porque deveria-se ter apostado na continuação de um trabalho essencialmente criativo - seja de versões, seja de originais, é indiferente aqui, também- por um lado, e por outro, facultar às gerações que iam chegando o que para trás foi feito, construíndo assim um capital acumulado e em crescimento, ou seja, criar novo e saber de cor o que de mais antigo havia. Na esmagadora maioria dos casos, aconteceu uma de duas coisas: ou se cavalgou o que havia antes - com cover´s, versões de versões, arranjos de arranjos e por aí fora, como ainda hoje se vê - esquecendo o processo criativo (porque mais trabalhoso e moroso, etc) ou se apostou - mais raro - em coisas realmente novas mas esquecendo o que para trás foi feito, ao ponto de as novas gerações saberem apenas 5 temas da sua tuna, precisamente os que estavam a rodar quando chegaram à mesma; no entanto, não sabem os 40 que para trás ficaram.
Actualmente assiste-se ao fenómeno mais do que previsivel da recuperação, até, de alguns dos tais 40 temas que para trás ficaram, com mais arranjo, menos arranjo, ao invés de se investir claramente no processo criativo. Os festivais mais recentes comprovam precisamente essa acomodação, essa não-novidade, essa repetição, que por sua vez comprova uma de duas coisas: a facilidade em pegar no que já está feito (e pergunto eu se uma versão de um tema que nunca foi tocado é mais trabalhoso do que fazer uma versão de um tema da própria tuna mas com uns valentes 15 anos em cima?) e a total incapacidade em trabalhar coisas novas, a fim de levar ao público...coisas novas. Curioso, logo numa época onde há paradoxalmente tanto, mas tanto tempo para inventar tanta cena freak para levar a palco.....
Não é tanto a hibernação creativa que critico, note-se; são antes as opções que são tomadas, as prioridades que se estabelecem e que são reveladoras, em grande parte dos casos, da real postura e intenções dos seus intervenientes. Falta gente para criar? Não, não acredito, acredito no oposto, que há hoje muito boa malta nova - tão a ver como os valorizo? - mais do que capaz e qualificada para criar boa música. O problema não é esse; o problema é que criar boa música não basta por si só para ganhar certames (erro crasso achar-se tal mas percebo face à paródia que se assiste de quando em vez...), mais vale investir num bom estendal da roupa pendurado num pau e tocar as mesmas cenas de há 20 anos atrás.....
Louvados sejam os que continuam a criar, a apostar no novo, a renovar reportório ciclicamente, a surpreender o publico seja de onde seja, nem que seja com um único tema novo; porque assim, não se saturam, não saturam os outros - público, entenda-se - surpreendem e surpreeendem-se, acrescentam mais background à própria tuna e todos, neste processo, ficam a ganhar. Antes, preparava-se a ida a um determinado evento de uma dada cidade com algo especial dedicado a ela, um bom exemplo de dinâmica creativa. Hoje, tirando um caso ou outro, é raríssimo isso acontecer. Claro que falo musicalmente, não de outras "paródias", note-se bem. Estou a falar de tunas, relembra-se. Os acessórios serão sempre acessórios, do principal, claro está.
A hibernação criativa é, lamentavelmente, um facto. Assumir tal é positivo desde que isso provoque uma mudança. Querem provocar a mudança? Que as organizações dos certames competitivos lançem desafios às tunas participantes realmente profiláticos e interessantes. Exemplo? Simples: "Obriguem" as tunas participantes a levar um tema que nunca tenham tocado, valorizem o mesmo - desde que bem tocado e cantado - na pontuação final e verão como desata tudo.... a criar. Quebrem esta hibernação criativa usando os festivais e com isso, mudando de alguma forma, até, o paradigma dos mesmos.
Seria, para lá de inteligente, um serviço a toda a comunidade tuneril nacional, estimular por via dos certames, a criação e valorizar a mesma. Mais, ao fazerem tal iriam provocar um efeito curioso: diminuir o excesso de importância que é - erradamente - dado às "javardices cénicas da moda". Era um dois em um. Pensem nisso....
Mais uma vez a memória auxiliou-me neste particular: Recordo, nos anos 90, a Tuna de Medicina de Múrcia, que montou claramente, então, um reportório para durar a vida toda se fosse caso até, ora vejamos: A abrir o pasodoble "Te Quiero", depois "Dos Palomitas", a "Primavera" de Vivaldi, o tema Canário "Maria Va" e terminava com o tema popular argentino "La Banda", todos temas do seu CD datado de 1994 e que comemorava então os 25 anos desta Tuna.
Este reportório era, para lá de extremamente bem escolhido, equilibrado, eficaz, de grande qualidade no seu todo, eclético, extremamente fluído e acima de tudo, de grande exigência técnica (que os seus componentes então conseguiam cumprir com distinção e louvor). Ou seja, resultou no que todos sabemos (saberão, alguns....?): Onde Medicina de Múrcia ia, limpava tudo tipo furacão Katrina. E note-se sempre que falamos de uma tuna espanhola, atenção, não esquecer. Se repararmos, já fugia este reportório ao habitual "Clavelitos & Fonseca e cª ldª" da esmagadora maioria das tunas espanholas. Ainda hoje seria um caso sério, se fosse tocado pelos mesmos componentes de então. Note-se, pelos mesmos componentes de então.
Este exemplo serve como uma luva para se perceber algumas coisas desde logo:
A hibernação criativa nas tunas nacionais é um facto, principalmente naquelas tunas que sabem que o reportório que tiveram em tempos, mais coisa menos coisa, funcionará apesar de tudo. E mesmo assim pode até nem funcionar. Naturalmente, nos (re)inícios da Tuna em idos do "boom" seria imperioso ter-se reportório, naturalmente, o que "obrigou" ao incremento do processo criativo, fosse pela via das versões ou originais; hoje, após alguns anos iniciais de processo criativo, quem chega ás tunas não precisa sequer, não sente sequer a necessidade de proceder à criação. Afinal, "hino da tuna" só há um e está feito. O problema é que aqueles 10 temas dos tempos da fundação servem, chegam perfeitamente, mais facelift menos peeling.
Não há qualquer comparação - regra geral - possivel entre o que se criou antes e após 1995, 1996, grosso modo. Aliás, o processo criativo entrou em hibernação de tal forma que a edição de trabalhos fonográficos após a 1ª geração do "boom" diminuíu drasticamente. Ou seja, fez-se um pouco como fez a Tuna de Medicina de Múrcia: Montou-se um espectáculo com 5, vá, 6 temas e cavalgou-se o mesmo reportório até ao infinito, até deixar de dar, até deixar de ter os que o conseguiam executar e por aí fora. O impasse começa precisamente neste ponto, quando os que levavam o reportório até ao infinito deixavam...de estar. É aqui o "break-even" desta questão, ou seja, onde supostamente o investimento estaria pago, em teoria. Mas não, nada disso, entrou-se ao invés em recessão.
Recessão porque deveria-se ter apostado na continuação de um trabalho essencialmente criativo - seja de versões, seja de originais, é indiferente aqui, também- por um lado, e por outro, facultar às gerações que iam chegando o que para trás foi feito, construíndo assim um capital acumulado e em crescimento, ou seja, criar novo e saber de cor o que de mais antigo havia. Na esmagadora maioria dos casos, aconteceu uma de duas coisas: ou se cavalgou o que havia antes - com cover´s, versões de versões, arranjos de arranjos e por aí fora, como ainda hoje se vê - esquecendo o processo criativo (porque mais trabalhoso e moroso, etc) ou se apostou - mais raro - em coisas realmente novas mas esquecendo o que para trás foi feito, ao ponto de as novas gerações saberem apenas 5 temas da sua tuna, precisamente os que estavam a rodar quando chegaram à mesma; no entanto, não sabem os 40 que para trás ficaram.
Actualmente assiste-se ao fenómeno mais do que previsivel da recuperação, até, de alguns dos tais 40 temas que para trás ficaram, com mais arranjo, menos arranjo, ao invés de se investir claramente no processo criativo. Os festivais mais recentes comprovam precisamente essa acomodação, essa não-novidade, essa repetição, que por sua vez comprova uma de duas coisas: a facilidade em pegar no que já está feito (e pergunto eu se uma versão de um tema que nunca foi tocado é mais trabalhoso do que fazer uma versão de um tema da própria tuna mas com uns valentes 15 anos em cima?) e a total incapacidade em trabalhar coisas novas, a fim de levar ao público...coisas novas. Curioso, logo numa época onde há paradoxalmente tanto, mas tanto tempo para inventar tanta cena freak para levar a palco.....
Não é tanto a hibernação creativa que critico, note-se; são antes as opções que são tomadas, as prioridades que se estabelecem e que são reveladoras, em grande parte dos casos, da real postura e intenções dos seus intervenientes. Falta gente para criar? Não, não acredito, acredito no oposto, que há hoje muito boa malta nova - tão a ver como os valorizo? - mais do que capaz e qualificada para criar boa música. O problema não é esse; o problema é que criar boa música não basta por si só para ganhar certames (erro crasso achar-se tal mas percebo face à paródia que se assiste de quando em vez...), mais vale investir num bom estendal da roupa pendurado num pau e tocar as mesmas cenas de há 20 anos atrás.....
Louvados sejam os que continuam a criar, a apostar no novo, a renovar reportório ciclicamente, a surpreender o publico seja de onde seja, nem que seja com um único tema novo; porque assim, não se saturam, não saturam os outros - público, entenda-se - surpreendem e surpreeendem-se, acrescentam mais background à própria tuna e todos, neste processo, ficam a ganhar. Antes, preparava-se a ida a um determinado evento de uma dada cidade com algo especial dedicado a ela, um bom exemplo de dinâmica creativa. Hoje, tirando um caso ou outro, é raríssimo isso acontecer. Claro que falo musicalmente, não de outras "paródias", note-se bem. Estou a falar de tunas, relembra-se. Os acessórios serão sempre acessórios, do principal, claro está.
A hibernação criativa é, lamentavelmente, um facto. Assumir tal é positivo desde que isso provoque uma mudança. Querem provocar a mudança? Que as organizações dos certames competitivos lançem desafios às tunas participantes realmente profiláticos e interessantes. Exemplo? Simples: "Obriguem" as tunas participantes a levar um tema que nunca tenham tocado, valorizem o mesmo - desde que bem tocado e cantado - na pontuação final e verão como desata tudo.... a criar. Quebrem esta hibernação criativa usando os festivais e com isso, mudando de alguma forma, até, o paradigma dos mesmos.
Seria, para lá de inteligente, um serviço a toda a comunidade tuneril nacional, estimular por via dos certames, a criação e valorizar a mesma. Mais, ao fazerem tal iriam provocar um efeito curioso: diminuir o excesso de importância que é - erradamente - dado às "javardices cénicas da moda". Era um dois em um. Pensem nisso....
Comentários
É uma realidade em - quase - todas as tunas...
Mas dei por mim, ainda ontem à noite, ouvindo um CD de um grupo canário que nem sequer é uma Tuna, a pensar com os meus botões, que seria giro revisitar alguns temas "dos antigos" vestindo-os agora com um Know-how que não havia na altura.
É claro que o gostava de fazer não para percorrer os circuitos festivaleiros mas por puro deleite pessoal e seguramente para muitos que gostariam de revisitar esses momentos indeléveis do seu passado.
Agora fazendo disso modo de vida de tuna actual, isso é que não.
Abraço
Abraços!
"El Payador"
"Marta"
"Imagenes de Ayer"
ou por cá
"Serenata das Fitas"
"Meu Primeiro Amor"
"Vida de Estudante"
E sei lá eu que mais...