Chegados ao fim do ano civil, a verdade é que constata-se que no plano artistico muito pouco haverá a referir como tendo sido realmente novo. Continuamos a ver os mesmos reportórios, mais tema menos tema, as mesmas tunas nos mesmos sitios de sempre - e continuam certames entrincheirados em si mesmos - onde a oferta ao público aficionado está de forma clara segmentado. Uma ou outra pequena evolução no sentido mais beneficiente da Tuna estudantil - consequência da crise geral que vivemos e onde se sente mais essa actividade - e pouco mais a denotar de facto com real importância.
Continua-se. E é essa constatação que, por um lado, garante a mera continuidade e, paradoxalmente, por outro, não permite o surgimento - pelo menos não se vê - de algo realmente evolutivo. É pois, uma evolução quase por inércia, derivada da apatia geral que nos indicía reprodução do que já há, sem que surga algo novo que de facto, nos remeta para mais valia a somar ao todo do fenómeno.
Monta-se o cavalo dos reportórios já existentes para simplesmente os desbobinar, com uma naturalidade que faz entender a preguiça generalizada na criação de novos temas, sejam originais ou adaptações. Temos hoje uma identidade muito própria de cada grupo, que nos remete quase por antecipação aos que vamos ouvir e ver em palco, com uma probabilidade altíssima de se acertar nos temas e até na sua sequência. Não há, pois, grandes destaques a fazerem-se neste final de ano, já começando a ser repetitivo por esta altura tal análise - o que define desde logo o estado real do fenómeno tuneril português.
O que de verdadeiramente de novo surgiu este ano foi a revolta clara e efectiva das tunas estudantis face a outros fenómenos que lhe são colaterais e que por sua culpa, levam sempre por arrasto as tunas estudantis, tendo havido uma clara demarcação em alguns locais das mesmas face a situações recentes que têm denegrido a imagem geral do estudante, mais concretamente dos que intervêm na dita Praxe. Começamos timidamente a ver um binómio claro, um divórcio efectivo, onde as águas se apartam claramente e com consequências positivas para as tunas estudantis, mesmo com todas as retaliações. E isso é sempre bom naquilo que deve ser a afirmação cultural e independentemente histórica desta expressão musical que é a tuna estudantil face a coisas que não têm com ela qualquer relação.
Em sentido oposto, assistimos neste ano a autênticos tiros nos pés, com situações absolutamente execráveis, tamanhas as atrocidades que se foram cometendo amiúde, onde foram utilizados meios, tácticas e posturas que se julgariam não serem possiveis de acontecer por estes tempos, muito menos no seio de um fenómeno que começa agora a caminhar pelo seu pé e em autonomia clara - já requerendo necessário comportamento à altura - sendo não menos verdadeiro que é precisamente sob essa autonomia que, e usando-a da pior maneira possivel, se perpetraram actos que oscilam entre a mais pura vingança pessoal de vão de escada e a ilegalidade de facto, com tudo o que se possa imaginar pelo meio de mais baixo e comezinho. Trocou-se em alguns casos o uso da Praxe para justificar atrocidades pelo abusivo uso de regimentos legais para o mesmo efeito que, interpretados ao sabor das conveniências, serviram para se auto-justificarem em atitudes que trarão inevitáveis consequências.
No meio deste cenário também houve elacções positivas a retirar, desde logo a percepção real retirada sobre certas coisas impróprias que mais não fizeram do que trazer à superficie o pior que este mundo tem e, por oposição de fase, revelar o que de melhor existe neste pequeno universo, aqueles que realmente prezam valores instrínsecos a uma qualquer Tuna que se preze, como a camaradagem, amizade, solidariedade, numa multitudinária manifestação de elevação do que realmente importa, deixando de lado tudo aquilo que manifestamente denigre a imagem geral da tuna estudantil. Na hora certa soube tranquilamente o todo do fenómeno dar importância a quem realmente a tem e, com a sua atitude solidária e de defesa de valores morais sérios, condenar - e o tempo dará tal à estampa - quem pratica actos que em nada são de uma Tuna Estudantil que se digne de tal epiteto.
Em resumo, um ano de 2014 com mais do mesmo, sem grandes alterações ou oscilações no que seria previsivel, com umas pinceladas de coisas ignóbeis e outras dignificantes pelo meio, com um claro afastamento da tuna estudantil de outras coisas que a ela sempre lhe foram alheias, o que é sempre de denotar. Mesmo em ano sem ENT, conseguiu-se levar a mensagem que realmente importa mais além, o que significa credibilidade da parte de quem a emite e sensibilidade e bom senso da parte de quem a recebe - mesmo que muitos continuem a passar ao lado destas questões.
Previsões para 2015? Sempre complicado mesmo atendendo aos factores apontados em cima que caracterizam o hibernar do fenómeno. Mas em todo o caso, prevejo mais do mesmo, sendo certo que veremos muito provavelmente algumas agremiações a vingar com mais pujança, a maioria a manter o profile e algumas a cair para a subcave de forma estrondosa, até.
Da minha parte, ano onde muito aprendi, como sempre aliás. Onde muito vi que nunca julguei possivel ver. Mas vi. E retirei as minhas conclusões. Que aliás, a bem dizer, reforçam apenas as linhas que em cima derramo. De muita clarificação foi este ano, disso não há a menor dúvida. Nada como ter tudo bem claro. E isso é, afinal, algo sempre positivo. E é precisamente isso que me motiva, curiosamente, a continuar. Assim será. Os filtros vão sendo colocados ao longo do tempo de forma a fazerem o seu sábio trabalho. Assim, foi mais um ano, apenas. O que interessa são os vindouros. Sempre. Cá estaremos, algures, por essas ruas e palcos!
Feliz Natal e Bom Ano Novo!
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