A Aventura da Deflação da Tuna da Academia do Porto





Talvez o termo deflação não seja o mais apropriado. Talvez descapitalização seja o mais correcto.



A Academia do Porto sempre teve duas características geneticamente tuneris absolutamente a par e desde o boom: Aliava alta qualidade genérica a quantidade quanto baste. Muitas e boas Tunas sempre foi a brand, a label da Academia do Porto. Não era difícil fazer um certame competitivo de altíssima qualidade apenas e só com Tunas da Academia do Porto. Era por essa mesma razão imagem de marca a nível nacional: Tantos certames de Tunas na cidade tiveram nos seus cartazes 3 ou mais tunas da Academia do Porto precisamente pela qualidade transversal apresentada - algo difícil de ver fora do Porto. Lembrar por exemplo as primeiras 4 edições do Festival de Tunas da Academia do Porto, elencos de altíssima qualidade fosse onde fosse.



Contudo, tudo tem o seu ciclo, tempo, momento e circunstância.



Actualmente não é assim. Assiste-se desde há uns anos a esta parte a essa descapitalização generalizada nas Tunas da Academia do Porto e principalmente a nível qualitativo. Se aqui e ali se vai vendo alguns sinais de tunas em retoma – umas mais timidamente, outras mais pujantemente – a verdade é que a Tuna da Academia do Porto perdeu qualidade, aquela que teve e manteve praticamente desde o boom de finais do Século passado até há uns bons anos atrás. Se o impacto de Bolonha não se fará hoje sentir tanto como causa para tal, mais causas existem e que subsidiam claramente essa descapitalização.


Não será a este cenário alheio o facto de a oferta cultural na cidade ter disparado, criando novos pontos de interesse a muitos que não os que a Universidade oferece. A noite do Porto dá sempre menos "trabalho" que uma Tuna e hoje, então, nem se fala. Há mais atractivos para passar apenas pela Universidade e não para nela estar e ser. A própria leitura que a geração actual tem da Tuna estudantil é muito menos complexa – o que pode ser bom se bem usada – mas ao mesmo tempo completamente desprendida – o que pode ser mau se mal usada – daquilo que era a organização interna da tuna em tempos não muito idos. Cumprir datas, horários, comparecer in loco a reuniões, saber de regimentos estatutários e de Lei, entre outras coisas banais noutros tempos, começam a ser longínquas memórias que subsidiam parte da explicação daquilo que são hoje as gerações que estão nas tunas – cada vez mais apostadas no mínimo denominador comum. São ciclos. Mas cada um deles tem um preço. A comparação com outros ciclos anteriores é, por isso, inevitável.



Na Academia do Porto continuamos a ter as clássicas Tunas de sempre, claro. Umas com mais pujança, outras com menos - e cada uma a cumprir o seu ciclo. A verdade, porém, é que à excepção de 3 ou 4 das clássicas, as restantes apresentam-se hoje com dificuldades claras e óbvias – pouca gente nas suas fileiras, reportórios gastos/saturados, etc - levando à natural quebra qualitativa a que poucos estariam habituados. Quando essa evidência se apresenta na maioria das clássicas decanas tunas Portuenses parece evidente a conclusão a retirar. Noutros tempos uma tuna com 20 elementos era mais que suficiente para garantir qualidade interpretativa – provavelmente porque os recursos que tinha era aproveitados até à exaustão ou porque a dinâmica interna era uma que não a de hoje; Actualmente não podemos dizer tal pois os factos mostram o oposto. Por outro lado, dizer que as gerações mais velhas que ainda restam são a causa do declínio é falso; em alguns casos é até precisamente o oposto. A criação musical quase que desapareceu; cavalgam-se os Hits de sempre. Tudo somado a conta traduz menos valia genérica. E nota-se mais quando genericamente a Tuna da Academia do Porto era sinónimo de mais-valias, inovação, criação, qualidade, quantidade.


A responsabilidade cabe apenas e só às clássicas Tunas da Academia; foram estas que colocaram a fasquia alta, serão sempre as mesmas a retomar a mesma fasquia. É sua sina, destino e obrigação fazê-lo. São estas as Tunas da Academia que portam o seu Estandarte, a missão é apenas delas e são elas, as vetustas e decanas Tunas que devem assumir o seu histórico papel, hoje perdido – mas não irrecuperável.

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