A Aventura do Imperativo








É outra das "tendências" que se constatam quando se interage com alguns que julgam saber sobre a Tuna estudantil: O imperativo.


Lamento desapontar Vªs Senhorias outra vez mas o que o estudo de facto da Tuna nos diz é que muito pouca coisa - ao longo de pouco mais de um século e meio de Tuna estudantil - é Regra.


Pode parecer contraditório mas não, pelo oposto, se se parar para pensar com rigor. A dimensão dinâmica da Tuna estudantil ou Estudantina (dois termos que servem para designar precisamente a mesma coisa, relembra-se a talhe de foice) ao longo dos tempos foi, também de adaptação constante ao meio. Logo, ao fazê-lo, foi sobrevivendo.


A tudo, desde guerras mundiais e civis, até a regimes de todo o tipo, passando por catástrofes naturais e até pandemias. E tal só é permitido a estruturas sociais dinâmicas e com forte resiliência para se adaptarem. É o que nos diz a investigação e, aqui, até diz o mesmo uma mera visualização rápida a olho nu.


Por tal, o imperativo é mais uma "moda" actual, que se traduz naquelas afirmações que soam a regra quando, afinal apenas são mero opinativo de quem as produz.


Quando se diz p.ex. que a Tuna Estudantil é exclusivamente composta por estudantes universitários, conviria saber que nem sempre assim foi antes de arremessar tal "regra" para cima da mesa do debate. Por exemplo, a Tuna Universitária do Porto apenas em 1937 é que passa a ter na sua formação exclusivamente estudantes universitários. Por exemplo.


E mais exemplos há de  tal "regra" que, afinal, não passa de uma mera opinião derivada do tal emular da experiência própria de cada um (que pode ou não coincidir com a verdade dos factos). O facto de ter sido assim quando fomos Tunos NÃO significa que tenha sido sempre assim - e presume-se, salvo algum Highlander que possa existir com 150 anos de idade - que o que sobra de Tuna além da nossa vida de comum mortal é muito mais do que aquilo que cada um de nós experienciou. Bastaria perceber isto para não arriscar um "Imperativo".


Mais: Quantas tunas do boom de finais dos 80/inícios dos 90 do Século XX não começaram com formação mista e, acto contínuo, porque emprenhando pelos ouvidos então, renegaram de imediato a Mulher - e a história tuneril mostra que a Mulher está na Tuna desde finais do Século XIX? Absurdo imperativo o da "Mulher na Tuna , não!", não? Não será fazer figura de parvo?


Continuando: E que dizer da "regra" de que só podem estar nas tunas estudantis aqueles que ainda estudam, quando em várias alturas da história tuneril de pouco mais um Século e meio, o que mais se viu foi Tunas estudantis formadas por quem já não estudava? No "boom" atrás referido a tuna espanhola, onde fomos "beber" muito do que fomos e somos, era composta exclusivamente por garbosos jovens de 18 anos? Não, pois não? Pois é. 


"Ahhh, mas eu quando estive na Tuna era assim!". Pois era. Mas isso não é regra e muito menos a produz. Até porque hoje algumas não só estão repletas de ex estudantes como até as há de uma dada instituição com tunos oriundos de outras instituições que não a original. E porquê? Porque o instinto de sobrevivência da tuna estudantil é maior do que qualquer suposta regra - e mesmo naquelas que as têm a este nível, mais tarde ou mais cedo irão ceder se quiserem continuar a existir. Uma vez mais, qual "regra" qual carapuça...


E ainda: Apontam algumas limitadas mentes o dedo aqueles que têm tunas estudantis com ex estudantes na sua maioria, dizendo que são "quarentunas" e que, portanto, "não deveriam ir a concurso" (decidem eles, claro...) com as ditas tunas regulares (??!!??). Bastaria tudo o atrás dito para desmontar esta pseudo teorização que não passa de uma mera vontade do que outra coisa qualquer. Quando a Tuna de Segreles veio a Portugal pela primeira vez (e seguintes) ninguém se atreveu a dizer que eles eram "entradotes" e que por isso "iam contra a regra (??!!)" - a tal que não existe, mais uma vez - e que "deveriam ser desclassificados!".... Curiosa dualidade criterial que "isenta" quando é estrangeira mas surge vincada se for uma tuna estudantil portuguesa. Esta "regra" deve estar no Código Tuneril Penal de algum iluminado, com toda a segurança - e que demora a aparecer como Lei, tipo os documentos que dizem que a Tuna X nasceu no Séc. XII...


Há vários clichês de época que mostram claramente a idade avançada de alguns componentes de tunas. O facto de no "boom" a tuna estudantil nacional ter sido composta exclusivamente por estudantes de então NÃO torna tal em regra. Na Tuna civil - popular e urbana - a idade nunca foi uma premissa, nem o sexo (Vide Grande Tuna de Alfredo Mântua, p.ex.). Na Tuna estudantil espanhola há a constância de crianças na tuna. 


Mais uma vez, o uso do imperativo aqui é um despropósito. O que cada um de nós acha é apenas isso, o que cada um de nós acha. E aqui, como em quase tudo na tuna estudantil, o que a realidade nos mostra inequivocamente é o contrário. E por ciclos o mostra. Já mostrou o contrário, sim, certo. Mas é precisamente essa dinâmica no tempo e no espaço que nos impede, em bom rigor, de dizer que a Tuna estudantil é mais ou menos tuna estudantil consoante o nosso gosto pessoal.  Quando vejo dizer-se coisas no imperativo que NÃO correspondem à verdade - sabendo-se perfeitamente qual a mesma de facto - nada mais apraz dizer que fazer prova.



Outra que tal é aquela que nos diz, qual inteligência suprema, que o tipo que anda em mais que uma tuna não é tuno - ou então usar-se termos depreciativos para caracterizar tal situação -  ou pior, aquele que salta de tuna em tuna "é um vendido" e coisa e tal. Lá está, se o Napoleón estivesse vivo ia mandar essa gente para aquele sitio que ele tanto gostava de vociferar num galego perfeito - Napo que, recorde-se, passou por várias tunas.....Mais uma vez, a mera percepção de uma pessoa não é uma regra, é a percepção dela e não passa daí.


Concluo: Não há regras neste - e em muitos outros - apartados e quanto a matéria tuneril estudantil.

 Há, no limite, hábitos que alinharam com os tempos respectivos porque acima deles, a sobrevivência da tuna estudantil mandava e manda. A parvoíce que encerra um considerando no imperativo sobre estes temas é, além de arriscada manobra sem rede, certamente condenada a ser facilmente contrariada (como vimos em cima), uma mera vontade moldada pela experiência que cada um tem e que, por isso, não significa sequer que tenha sido alguma vez assim, que fará "regra".


Até ao início deste Século XXI (!!) admitia-se algum erro baseado na experiência de cada um, de cada Tuno. Actualmente, de todo. Chega a ser risível. Já há dados que permitem, facilmente, não fazer figura de burro.


Sendo a música a génese da Tuna, uma expressão musical por excelência e antes de tudo (é o que a investigação prova), conviria tentar perceber essa mesma genética como sendo o ponto mais importante: Toda e qualquer tuna tudo fará para continuar a tocar, contra ventos e marés, haja mais gente ou menos, mais homens ou mulheres, novos ou mais velhos. Basta perceber o óbvio. 


E  parar para pensar, também. A incontinência verbal pejada de erros e de "meu-conceito-de-tuna" só desqualifica quem a pratica. Além de escusada por hilária. A Tuna sobreviveu até hoje precisamente por quebrar supostas "regras"....





Comentários