Admito que seja uma inevitabilidade, ainda que ache francamente que a maturidade é possível - talvez noutros tempos vindouros, veremos.
Pese o fenómeno tuneril nacional ter, à data, pós boom, quase 40 anos, a verdade é que continua a comportar-se como um adolescente de 20.
Dir-me-ão - lá está, a tal inevitabilidade que citei a abrir... - que é natural que assim seja, dada a natureza da maioria dos intervenientes. Concedo, mesmo que algo contrariado:
Um estudante universitário, por génese, deve ir mais além. Pedir mais reflexão e menos excitação, no caso em apreço, não será uma incompatibilidade; podem bipolarmente co-habitar, digo eu. Não vejo porque um Tuno estudante seja - apenas porque o é - alguém desprovido de espírito crítico, de procura de conhecimento e reflexão sobre o tema. Sendo estudante....
Talvez - dir-me-ão - porque a Tuna é, precisamente, o refúgio para a realidade quotidiana, já ela séria q.b. Até poderá ser por aí, mesmo que a Tuna nunca tenha sido per si uma actividade principal, antes colateral, sucedânea, para auto-recriação musical e vocal, um escape social. E mais razões se poderão advogar a favor desta, digamos, auto exclusão social - chamemos-lhe assim - dos Tunos face até à própria Tuna em sentido lato e desta, depois, face ao todo da sociedade.
Paradoxalmente, enquanto decorre há quase 40 anos essa auto exclusão social, parece - e desde sempre - que há uma ávida procura incessante de validação por parte da restante sociedade: Vejam a quantidade de festivais de Tunas que existem, por exemplo; também eles são prova de vida para fora do entorno tuneril, obviamente.
Esta bipolaridade é deveras curiosa - e pelo menos: Se por um lado, se gastam rios de tempo nas redes sociais à procura de validação exterior, por outro, não há qualquer interesse em projectar superiormente o próprio fenómeno nesse mesmíssimo exterior. Estranho, não? A tal coisa umbiguista da "a minha Tuna" como se fosse uma ilha remota, isolada de tudo e todos - todos esses, que são os mesmos para quem ensaiam, tocam e Instagramizam....
Ainda há pouco, alguém me perguntava porque raio ainda me dedicava ao fenómeno, seu quotidiano e seu estudo, quando os seus actores se estão, em bom rigor, nas tintas.
Não sei, confesso. Talvez por ser estupidamente crente em algo que gosto profundamente.
Na verdade, não há uma única razão lógica para o fazer, nem sequer retiro qualquer interesse objectivo para mim em tal postura. Pelo oposto. Não raras vezes - e ainda por cima - sou epitetado de forma pouco elegante, ora por desdém, ora por inveja do néscio. Se mais razões houvessem para alinhar cavernicolamente com a manada, ora cá estão algumas. Afinal, lutar quixotescamente contra moinhos de vento porquê?
Só que não. Feitio meu, admito.
Estou seguro da irresponsabilidade que a imaturidade confere ao fenómeno. Nunca seremos vistos culturalmente de forma superior - como já fomos, aliás, em finais do Século XIX, início do de XX. Mais avanço, nem sequer como fomos vistos, então, aquando do boom - onde, longe de se ser Santo, se granjeou uma respeitabilidade social a anos-luz do que hoje temos.
A realidade mostra-nos que a Tuna portuguesa se deu ao acantonar, entrincheirou-se, numa vala comum alta e estreita, que circula fechada e com fachada, para consumo apenas dos seus pares, completamente desligada da sociedade que a rodeia e seus ditames a cada momento, achando - ainda por cima - que o que essa mesma sociedade quer é o que se oferece e basta, quando na realidade, a sociedade se está, ela mesma, nas tintas para o que somos, achamos e fazemos, até.
A verdade é esta, goste-se ou não. E aqui, meus caros, a culpa é toda nossa: Se oferecemos à sociedade ouro, é ouro que iremos receber em troca. Se for lixo, já se sabe o que acontece. A correlação é essa, porque é assim que as coisas são, seja uma Tuna, um clube de futebol ou outra coisa qualquer.
Enquanto estivermos montados no asno de sempre, olimpicamente calibrado na albarda com garrafões de tinto e liliputianos quejandos de mais do mesmo, nunca iremos almejar ser vistos de outra forma que não aquela com que nos rotulam e pintam. Daí a pertinência do autoconhecimento tuneril, porque é o 1º passo para ir-se mais além - como foi o Fado ou o Cante Alentejano, p.ex.
Até lá, seremos mais do mesmo. Aparentemente, é o que a esmagadora maioria quer. Tudo ok, então.
É a herança que vão deixar. Pela parte que me toca, não dei um cêntimo para a mesma.
O meu quinhão hereditário é outro e escreve-se por si mesmo. Sem jactância. Ninguém pode acusar-me de outra coisa, sequer.
Que continue a "festa" da imaturidade, pois.

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