A Aventura da “competição.”

Foi sempre algo que ao longo dos anos, me fez pensar por infinitas vezes, e que continua a ser um mistério para mim - ou não..- estando nós a falar de música inserida numa tradição mais ampla, como é possível então, só avaliar…a música? Não será a mesma coisa que um gajo dizer da “maria” do lado “ é boa moça e tal…mas e …alinha? É que se alinha, temos Gaja, se não….bah!”. Não é olhar só para o obvio e esquecer toda a envolvente da questão, pergunto eu? E se, pior, for...travesti e se chamar Wanderlei? Mesmo que engane tudo e todos? Isto dá que pensar, não acham?

É um bocado como vejo, pessoalmente, esta coisa da competição entre supostas Tunas e/ou mesmo Tunas. O único que, coitado, não sabe nada de nada é o desgraçado no público que, esperando ver “uma gaja boa” lhe sai um excelente travesti. Mas acontece que o gajo do público dirigiu-se a uma “boite” exclusivamente para ver “gajas” e até compara-las, porventura, umas com as outras. Que acontece nas Tunas? Vamos ver “gajas” e aparecem “travestis”. Um bom travesti, por sê-lo, não deixa de ser o que é; uma “gaja” pode ser feia, horrível mas é uma “gaja” e não deixa de o ser por isso. E é esta confusão que está ainda por esclarecer, pasme-se, mesmo quando a Milene diz a pés juntos que é mesmo “Milene e é muito fêmea” e, ao mesmo tempo, o B.I. acusa ..Wanderlei…

Às vezes dou por mim a ver este cenário todo como se fosse um “copy/paste” do Festival Eurovisão da Canção mas em versão tunante, aquele em que ganham sempre os mesmos 4 ou 5 países, no fim estamos lá quase sempre nós, Chipre e Malta, às vezes nem lá íamos, onde o Júri da Suécia vota sempre na musica da Dinamarca nem que seja um par de grunhidos “viking”, onde a música que vence normalmente tem sempre umas palavritas em inglês pelo meio, mesmo que sejam Israelitas ou Eslovacos ou então uma fonética apelativa tipo “Abanibi”(lembram-se desta?) e pronto, temos a competição subvertida pela base neste exemplo que é (era?) o Festival da Eurovisão da Canção. A prova dos nove do que digo foi o 7º lugar honroso do José Cid que, nos idos de 80, cantou algo que tinha no refrão “adio, adiós, aufiderzen, goodbye” e zás, quase que “ganhava aquilo”…..

A competição é definida como sendo “pretender uma coisa simultaneamente com outrem”, o que nada tem de extraordinário ou ofensivo. Eu sou a favor dos festivais, dos prémios e isso tudo, nada contra. Desde que essa competição pressuponha sempre igualdade de circunstâncias à partida, ou seja, um Ferrari é um F1 e um Minardi também, mas antes de se fazerem aos tempos, “poles position´s” e isso tudo, são, antes de tudo, F1 e não F16 sem asas. Mais, para haver competição, tem de haver “outrem” – é tipo Direito Sucessório, só há sucessão se houver morto, no caso, só há competição se houver…outro – mas o outrem terá de ser do mesmo ramo, da mesma espécie, da mesma cadeia, da mesma linha de montagem, da mesma marca, da mesma raça.

Acho graça aos defensores a todo o custo e qualquer preço da competição, sem regras ou igualdade de circunstâncias, que ao defenderem a ausência de princípios competitivos, apenas e somente demonstram a sua própria fragilidade por não assumirem frontalmente a competição; antes, pervertem a mesma, contornam-na, “dão-lhe a volta”, “fintam-na”, compram a meia rosa, a mini saia de napa preta, o tacão alto, a peruca loira e o top da Maluka e bute lá fazer de mulher pra todos verem….

A competição também traz alguns erros de cálculo, se vista de forma cega e monocular. Não é por se ganhar sempre ou perder sempre que a dignidade e natureza se perdem ou ganham; confundir o prémio com o grémio é tão perigoso quanto ingénuo; O prémio, num grémio digno desse nome, está para o mesmo como os brindes do Chokapic estão para o PIB da União Europeia, ou seja, nada. E porquê? Porque o grémio para o ser, basta-lhe o objectivo final a que se propõe; se nas tunas for Tunar, então muito certo – e alie-se o útil ao agradável, claro que sim – se o objectivo final for ganhar e só, parece claro que um dia se perderá. E nesse dia, que resta? Que sobra? Um baú com a meia rosa, a mini saia de napa preta, o tacão alto, a peruca loira…..

Ao contrário da “moral vigente” a respeitabilidade não se alcança só com distinções, antes com acções coerentes face ao fim a que cada um se propõe. O bem sucedâneo a mim sempre me fez muita espécie, devo dizê-lo.Competir é saudável, competir potencía qualidade e todos lucram com isso. Acho muito bem e concordo com tal. Desde que observadas as premissas atrás referenciadas. Quando as mesmas estão ausentes ou são subvertidas, não há competição mas sim usurpação, adulteração, manietação, perturbação, subversão. E a competição não serve para subverter, antes pelo contrário, serve para a dado momento, ordenar, escalonar, com vista a um potenciar futuro. Mas ordenar com lógica e não colocar o F16 a correr com o F1 só porque ambos começam por F…….

Palavra da Salvação: “ Quem compete, ou é são ou compromete…”

Comentários