A Aventura do "Copista"..

Como se sabe e reza a História os Sopistas – "avós" dos actuais Tunos - eram estudantes pobres que, com as suas músicas, simpatia e brincadeiras percorriam casas nobres, conventos, ruas e praças em troca, muitas vezes, de um prato de sopa (daí o seu nome - sopistas) ou de uma moeda que os ajudasse a custear os estudos.

Quando caía a noite e tocavam os sinos de recolha, cantavam serenatas às donzelas que queriam conquistar, sendo, muitas vezes, perseguidos pelas policias universitárias (visto que o recolher era obrigatório para os estudantes). Daí que os sopistas começaram a utilizar longas capas negras para, na noite escura, se poderem esconder dos polícias. Diz também a mesma História que os caloiros que queriam fazer parte da comunidade sopista tinham de oferecer escuderia, ou seja, os seus serviços aos Sopistas mais velhos em troca de aprenderem a sua arte.

Assim, até terminarem o período em que eram pupilos serviam lealmente os mais velhos à espera de um dia se tornarem como eles. Isto permitia aos Sopistas levarem uma vida parecida com a dos estudantes ricos. Estes costumes, ainda hoje presentes nas Tunas, foram uma das origens mais remotas da Praxe (sendo que outra das grandes influências foram as polícias universitárias aquando da sua extinção).Isto é o que nos legou a História e que serve de base para aquilo que é - ou deve ser – por definição tradicional uma Tuna universitária.

Evidentemente que os tempos são outros, o mundo evoluí a cada segundo e muitas das práticas de outros tempos não cabem no mundo tunante dos dias de hoje por ineficazes ou mesmo ridículas se levadas à letra.Mas se repararmos com alguma atenção, os traços mais importantes, a filosofia de vida, o modus faciendi é – ou deveria ser – em rigor o mesmo, com as naturais adaptações temporais, pois é esse modus faciendi que distingue uma Tuna de um outro qualquer grupo de estudantes com um traje e instrumentos. Aliás, relativamente a instrumentos, dizer claramente que os instrumentos eram, e ainda deverão ser , maioritariamente cordofones pois isto permitia às Tunas andarem pelas ruas carregando-os (tal como hoje deveria ser).

Mas é precisamente nesta temática da prática reinterada que consubstancia a Tradição que hoje, podemos dizer que algo não está correcto, que algo, actualmente, não parece fazer sentido. Não é de todo admissível que se reivindique a Tradição intitulando-se Tuna quem não pratica, repete, reproduz esta vivência enquanto Tuna digna desse nome. Há quem esteja nesta Tradição desrespeitando-a constantemente, atentando contra ela, mais ainda, dizendo que é quando não é.

Mais ainda, há quem à sombra da mais pura Tradição Tunante seja reconhecido pelos demais que, ignorantemente, não percebem que ao reconhece-los como tal, estão simplesmente a dizer que aquilo que são nada vale, ou seja, também lhes é indiferente ser Tuna ou outra coisa qualquer.São os tais copistas, que andam de terra em terra de copo na mão, dizendo-se Tuna mas que apenas ostentam alguma simbologia de fácil acesso para parecem algo que não. Antes, os Sopistas tocavam para poderem sobreviver, comendo a “sopa dos bobos” (como se dizia, então).

Hoje, os bobos são todos aqueles que cumprem com o legado histórico de fazer cumprir a tradição tal qual os Sopistas porque o que “está a dar” é ser-se “copista”, esse sim, de copo em copo, dando uma imagem a terceiros que não corresponde aquilo que deveria ser a realidade. Todos sabemos a imagem que vamos tendo e que por cada “copista” que há ficam logo “carimbados” 300 ou 400 sopistas dos dias de hoje, simplesmente porque é fácil destruir em 5 segundos a imagem que custa anos a construir junto da sociedade.

E essa imagem é destruída não só pelo leit motif dos “copistas” – os copos e outras coisas que me escuso a comentar – como também pela usurpação do nome Tuna e Tuno, usados a belo prazer por muitos e defendido por cada vez menos.Não se pretende fazer a apologia do protótipo histórico do Tuno, apenas proteger uma Tradição e um legado histórico único no mundo. O “copista” de hoje não é aqui caricaturado somente pelos copos mas sim porque algo muito mais abrangente, sendo obviamente o termo “copista” uma metáfora comparativa para que se estabeleçam algumas semelhanças e acima de tudo, diferenças.

Não basta gritar FRÁ´s, tocar castalholas e vestir um traje para se ser Tuno. Ser-se Tuno é muito mais, é um estado de alma, é a crença numa forma de ver a vida, é uma postura única no seio da Universidade, é, ao fim e ao cabo, aquilo que o Sopista de outros tempos fazia, dizia, cantava mas em pleno século XXI. Tão simples quanto isso. Não deixemos que outros, os tais copistas, destruam uma noção histórica que faz todo o sentido, cada vez mais.

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