A Aventura do Encontro...

Encontro.

Palavra bem tunante e cada vez com menos - infelizmente - importância no "mainstream" das tunas nacionais, num cenário cada vez mais egoísta e muito pouco dado à partilha de ideias, de debate acesso mas positivista, de real e são convívio mormente as diferenças entre todos - e que "seca" seria se assim não fosse...

Estamos em vésperas de mais um Encontro Nacional de Tunos - ou Tunantes - e que vai já para a sua quarta edição ininterrupta, numa prova de dinamismo e de vontade que, por sí só, é louvável, respeitável e acima de tudo, motivador. O ENT - como ficou conhecido de forma simplista - é muito mais que um encontro, atrevo-me a dizê-lo e visto por uma perspectiva perfeitamente sóbria e objectiva, senão vejamos:

- É de organização voluntária: organiza o mesmo quem se propõe a fazê-lo no ano anterior, ciente da responsabilidade e custos inerentes. Pergunta de retórica: Quantos terão coragem em se predisporem a gastar dinheiro e recursos humanos, para lá de tempo, a organizar algo que não seja objectivamente um festival, que não tem a musica como principal mote e que não atribuí prémios, com o unico objectivo de promover debate saudável entre quem participa a favor de um todo? Nos dias de correm, vamos convir a mais valia deste voluntarismo e tirar-lhe o chapéu.

- É de presença voluntária: Vai quem quer ir e não quem é somente convidado, numa espécie de porta aberta, de forum geral público, onde cada um vale "per si" sem se olhar a prestigio institucional, simbolos e "pseudo-ranking´s" tunantes; vai quem quer e pode ir, para participar inter pares numa agradável e imensa tertúlia de dois dias. Só por isso, vale novamente referência quanto mais não seja pela diferença na pré-disposição de quem nele consciente e livremente participa.

- É o único momento no ano em que todos podem debater com todos; foge ao tradicional "diz que disse" e às conversas de corredor de um qualquer teatro; todos podem questionar todos. Só por isso, deve-se dar valor acrescentado a uma organização do género e só por isso, por oposição, se entende as ausências de alguns, sendo certo que não sendo possivel a muitos - que gostariam de ir - participar, já outros preferem promover(-se) outro tipo de esquemas, tentando diminuir a olhos vistos algo que por si só, é demasiado maior seja para quem seja. Não há Tuna seja ela qual for mais importante que a lógica do ENT, porque nenhuma tem a capacidade de promover o que o ENT promove. Nenhuma.

- É o unico momento do ano tunante em que se sabe claramente quem NÃO vai lá estar presente e porque motivos: Desde a tradicional parcimónia da "grande instituição que tudo sabe e por força dela, nada tem a aprender e só a ensinar", desde aqueles que dizem "são sempre os mesmos 5 donos da verdade a falar " não percebendo que para lá de não serem os mesmos 5 (quanto muito, os mesmos 200, 300...) a questão não se prende com a arrogância de se ser dono da verdade - a verdade custa e doí, eu sei... - mas antes com a clara e notoria falta de argumentação lógica e sustentativa de outros pontos de vista, furtando-se assim com uma clamorosa falta de comparência e por consequência ao diálogo entre tunos e tunantes, terminando naqueles que nem sequer se dão ao trabalho de saber o que é o ENT que fará quando e onde ele vai decorrer...

Bem sei que não é obrigatório participar-se num encontro desta natureza e ninguém é "obrigado" a participar em algo que, presume-se, poderá não ter para esses qualquer interesse; nem todos gostam de saber e procurar saber mais e mais sobre uma cultura genérica e alguns até preferem que não se saiba mais sobre essa mesma cultura, numa espécie de "idade das trevas do conhecimento tunante" que só aproveita a quem da falta da informação retira dividendos próprios, numa atitude obviamente definida na frase "quanto menos se souber, melhor será, quanto menos se debater, melhor será, quanto menos informação mais lucramos".

Essa "idade das trevas do conhecimento tunante" trouxe (é passado, claramente) óbvios prejuízos ao fenómeno. Hoje não é assim e nem sequer foi o ENT o precursor dessa atitude tão característica de uma sociedade de informação como a que vivemos hoje, há exemplos anteriores que são, grosso modo, um claro abrir de horizontes ao diálogo e à natural aprendizagem entre todos e com todos. Mas entre todos há sempre alguns que querem sobreviver da ignorância, da desinformação, da falta de informação e o ENT termina, a cada ano, com isso mesmo.

Outros - os mesmos por via de regra - ainda "advogam" a questão da representatividade do ENT, se é efectiva ou se é um mero encontro de café para trocar "larachas", numa tentativa clara de diminuição da função base de um encontro desta natureza, tentativa fustrada por patética, até porque seria impossivel contar o ENT com a participação de todos os tunos e tunantes deste país, até por fisica e logisticamente impossivel. Mas se atentarmos a um pequeno exercicio, recorrente do número das participações pessoais em anos anteriores, contata-se que por média temos uma assistência ao ENT desde Évora a rondar as 300 pessoas, o que dá em proporção às tunas existentes em Portugal um rácio de uma pessoa por cada Tuna existente em Portugal, só se lamentando que não estejam efectivamente todas e cada uma representadas.

Mesmo que assim não fosse, era em rigor absolutamente igual face ao propósito do ENT enquanto tal, pois a ele acorre quem quer de forma voluntária, a suas expensas. Como não vão por via de regra os mesmos "5 donos da verdade", depreende-se que não vivem os participantes uma imensa alucinação colectiva e muito menos os referidos "donos da verdade" (!!??) pagam ordenados para que outros participem ou dão prémios para motivar a participação.

Se calhar, se houvesse prémios para a melhor Palestra ou para a melhor Interpelação à Mesa, se calhar teríamos muitos mais a "participar"....

Comentários