A Aventura da "Colisão"

Não há dúvida nenhuma que uma Tuna, seja ela qual for, é aquilo que ela mesmo quer que seja.

No entanto, a minha experiência pessoal enquanto Tuno diz-me que a frase acima não se basta a ela mesma. É essencialmente a Tuna aquilo que ela quer ser a dado momento mas note-se com propriedade que será sempre a Tuna fruto dos seus actos e omissões, o que poderá potenciar ou hipotecar o seu futuro a prazo.

Muitas vezes "evita-se" as coisas para fugir ao problema, o que acaba a prazo não por o resolver mas sim por o agravar, por falta clara de maturidade e de encarar as dificuldades a dado momento, de forma a tornea-las e mais tarde, dar à Tuna com essa resolução do problema outras bases de auto-sustentação sólidas.

Escrevo por experiência própria no passado. Vi muita coisa a ocorrer que eu sabia - e julgo que qualquer pessoa mais apaixonada pela sua Tuna mas ao mesmo tempo com uma visão desapaixonada e mais racional e não emocional somente - que a prazo iria trazer maus frutos, más consequências, péssimo adevir e logo, um claro hipotecar do futuro. Pior será quando o futuro deveria ser preparado a fim de dar a melhor guarida possivel aos vindouros - caloiros da Tuna - e não com vista a complicar esse mesmo futuro.

A Tuna só pode ser atraente se vista internamente como sendo algo a quem nós servimos e não algo de que nós nos servimos. Quando isso ocorre, estamos na antecâmera do estado de coma da própria Tuna, porque pura e simplesmente o grupo que a forma está desarticulado e desenquadrado da sua missão principal: Tunar.

Hoje assistimos precisamente a esse fenómeno em real time até: Tunas consagradas a caminharem - com todo o respeito e infelizmente o digo - para o fim ou perto dele. Mas ao mesmo tempo, outras resistem - precisamente porque souberam preparar o futuro com lógica, coerência e acima de tudo, com visão de futuro - e outras há que surgem a plenos pulmões (e aqui haverá muitas variantes deste ultimo cenário, cada qual com a sua lógica interna muito própria).

A expontaneidade de uma Tuna é fulcral na mesma e é, aliás, sua condição sinequanon para a sua própria existência. Concordo com a afirmação que quando uma dada Tuna perde essa expontaneidade está automaticamente a perder-se na sua finalidade e natureza; logo, a hipotecar-se a si mesma.

A competição enquanto for encarada saudavelmente não é prejudicial à Tuna que sabe Ser e Estar enquanto tal; acontece é que hoje em vários casos é a mesma encarada até como motivo principal para a sua própria existência. Aí, é uma questão de tempo porque quando deixar de ser moda o certame competitivo ou mesmo o ser Tuno - ainda que estéticamente - então tudo voltará aos seus devidos eixos, num ciclo normal neste tipo de manifestações culturais estudantis e não somente estudantis.

Não me restam dúvidas que a Tuna só sobrevive com Tunos, aqueles que amam esta Arte de forma incondicional e não de forma circustancial. E isso é a base de tudo, quer da sustentabilidade interna de uma dada Tuna ao longo dos tempos, quer da sustentabilidade do fenómeno no seu todo.

Aquele que se diz "tuno" e se comporta como caloiro (sendo que este tem a "vantagem" da ingenuidade e da inexperiência a desculpá-lo..) e não como Tuno porque precisamente não o é porque nunca o foi sequer (e nestes casos estes nunca assumirão que nunca o foram porque nunca souberam o que é ser-se Tuno) irá mais tarde ou mais cedo encontrar outras razões para se divertir, desculpas para sair, beber uns copos e conhecer umas "Marias".

O Tuno, aquele que o é de facto porque sempre o foi pois sabe o que é ser-se Tuno - e o que custa, com todo o gozo que isso proporciona ao mesmo - esse será sempre a garantia ad eternum de que haverá sempre alguém predisposto a pegar numa guitarra e correr as ruas, janelas e varandas estejam elas onde estiverem.

Por isso é que concordo plenamente que "muita Tuna irá ao ar" - citando alguém. Mais adianto, algumas já "foram ao ar" e não se deram conta sequer de que estão em plena rota de colisão com o seu próprio final. Olhemos à nossa volta com olhos de ver: Verão com total clareza o que aqui afirmo. Mais adianto, muitos até alertados foram a tempo. Mas mais cego é o que não quer ver...

Concluíndo - e gabando a paciência a quem conseguiu chegar a este ponto da leitura:

Ser Tuno é atitude. A Tuna que é Tuna é dura mas educa. Quem dela retirar educação e preparação para o resto da vida de cada um de nós perceberá a importância real da Tuna num contexto pessoal mais alargado. Por isso é que uns passam pela Tuna mas nunca a deixam para trás. Já outros rasparam na Tuna e às costas dela deixaram para trás má fama, má reputação, má imagem. Do todo ainda por cima. Sim, porque para destruir basta um minuto; para construir são precisos anos e anos...

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