A Aventura do " Tempo que passou e que perdi...."

Um dia ainda leremos algo parecido com isto....Entenda-se com propriedade: Eu irei ler isto um dia, da parte de alguém, assim o Tempo faça alguns cairem em sí.... passo a citar alguém:


"Porto, 3 de Fevereiro de 2036:


Pois é, meus Netos. Fui um dia Tuno de uma grande Tuna. Quer-se dizer, já não era naquela época uma grande Tuna mas tinha uma história fabulosa quando lá cheguei. Uma história única e era um exemplo até, pasmem, para as outras. Que historia, que palmarés, que prestígio!!! Era assim a minha Tuna quando lá cheguei, sabiam?

Claro, naquela época, lá pelo ano de 2005, 2006, a Tuna para mim era tudo; festa, folia e algum - pouco - trabalho que os mais velhos já vinham fazendo. Eu, olhem, juntei-me à malta de então. E a bem dizer, só da Tuna tirava a festa e a folia, que o resto deixava aos mais velhos, aos chatos como eu lhes chamava então. O que eu queria naqueles tempos era um festival ou outro, gritar uns FRÁs quando era preciso e tocar umas musiquitas da maneira menos trabalhosa se possivel. Ai como os tempos mudam!

Mas depois começaram os problemas, uns queriam fazer mais e mais mas isso dava muito trabalho, perdia-se muito tempo com reuniões e debates e eu estava na Tuna era para viver cada segundo como se não houvesse amanhã, queria lá bem saber do resto....se a Tuna ia aqui ou acolá, eu queria era farra e que os meus pais me chateassem pouco. Mas na Tuna de então, havia quem gostasse daquilo de uma forma diferente da minha, faziam, eram empreendedores e porque eram assim, de vez em quando lá lhes ganhava um pó do caraças porque aquilo não me servia de nada estando eu na Tuna, eu queria - mais aqueles que foram caloiros comigo um dia na Tuna - era copos e farras e o resto não era sequer pra se falar, que fará fazer! A Tuna era para se ir curtindo á medida dos segundos e os velhos da Tuna começaram a ser uns verdadeiros chatos, pois punham sempre questões e problemas, não gostavam de viver aquilo, pronto (como estava eu enganado, meus netinhos....)

Um dia, os mais velhos, aqueles que antes já tinham estado em tudo de bom que a Tuna tinha e alcançou, foram embora porque não percebiam que eu - nós, de então - queríamos era ir pró Brasil e gastar o subsidio todo que o Reitor nos deu em quinze dias e eles (claro) sempre a dizer "cuidado, que o dinheiro não cai do céu...", "se querem que esta Tuna vá longe, mais ensaios e menos passeios" e por aí fora...Foram embora e caímos numa orfandade tal, pois não sabíamos fazer nada do que eles faziam então, o que nos custou alguns dissabores. Hoje percebo, meus netinhos, que deveríamos era ter aprendido. Maus tempos vieram e a malta de então apontou o dedo aos que então foram embora (que cegos estavamos, a culpa não foi deles, foi nossa que nunca quisemos saber...).

Aí, as coisas começaram a correr mal; já não íamos onde antes íamos, já ninguém nos convidava para nada pois tinhamos feito das "nossas" por aí fora e não tocavamos grande coisa, diga-se e alguns atiram-se então para cima dos que sairam, julgando - coitados de nós! - que se não íamos a lado algum era porque havia má vontade ou esquemas dos que sairam, quando não vimos o evidente: enquanto andamos a beber uns copos ao invés de trabalhar, outras tunas fizeram o contrário e "ocuparam" o nosso lugar. Não compreendemos então, porque não poderíamos ter compreendido sequer quando nos julgavamos uma boa Tuna - e só nós não víamos o que realmente eramos e no que nos tínhamos tornado...

Depois ainda houve uns de então que, não percebendo que a culpa era só nossa e não de quem saiu, atiraram-se aos que saíram acusando-os de serem culpados de tudo o que de mal nos acontecia (que inocentes que fomos, a culpa era só nossa!!). Alguns dos mais velhos até foram para outras paragens e continuaram a ir aqui, ali e acolá e nós, na nossa cegueira sedenta de "vingança" nem isso percebemos porque acontecia. Queridos Netos, aconteceu porque nós então, eu então, nada fiz para que fossemos a lado algum bem pelo contrário; apenas recolhemos o que andamos a semear e os que sairam aconteceu-lhes o mesmo, só que colheram tudo de bom...

Queridos Netos, a Tuna, sabem, como em tudo na vida, implica gostar-se dela, acarinhá-la e não maltrata-la, usa-la, como então fizemos nós.....E tantas vezes antes tinhamos sido alertados para isso....

Hoje, o que é que me resta? Uns copos valentes e pouco mais. Dos que ficamos então julgando-nos fieis á Tuna, desiludidos tornamo-nos depois porque julgavamos estar a ser maltratados e incompreeendidos pelos outros quando fomos nós quem nos maltratou.... um foi para o seu lado, outro para o outro, outro voltou a desaparecer como já tinha feito antes e assim sucessivamente, restamos 3 ou 4 e afinal, amigos amigos...e cada um à 1ª oportunidade foi á sua vidinha. Um dia, tudo terminou como se nada fosse. É triste mas é a mais pura das verdades.... a Tuna tinha terminado...

Meus queridos Netos:

Termino a dizer que hoje percebo o quão inconsciente fui. Passei e passamos então todos aqueles ao lado de muita coisa boa que a Tuna nos pode oferecer. De muita não, de quase tudo de bom que a Tuna tem, essa é a verdade. Julgávamos que a Tuna, então, tinha de bom os copos e as farras e mais nada. Mas era mais que isso, muito mais....só agora percebi, na amargura da idade e ao ver Tunas na rua hoje de manhã.....quem me dera ter sido assim como aqueles que vi hoje!

Ficam as Queimas e a Semana do Caloiro. Mas é triste hoje, com esta idade, escrever estas linhas. Mas é a verdade que vos lego nestas palavras. também para se estar na Tuna se tem de ser competente, dedicado, esforçado, não basta estar nela....

Do Vº Avô que um dia julgou ter sido um Tuno e afinal, não passou de uma pálida coisa parecida....

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