A Aventura da Eternidade

Frio e brutal. Como se fosse um sonho tornado pesadelo numa fracção de segundos.

Um dos nossos partiu, numa noite invulgarmente fria de Junho, quase que estupidamente a querer preparar-nos para algo também fora do seu tempo, absolutamente despropositado, inesperado e acima de tudo, injusto, profundamente injusto. A chuva que batia na minha janela companheira deste blog assumiu o seu papel triste e taciturno, a querer preparar-me talvez para algo tão descabido e absurdo....

Duas da manhã. E leio no meu telemóvel aquilo que ninguém quer ler, que ninguém quer escrever, que ninguém poderia supor. Fazia poucos dias que convivera alegramente e despreocupadamente com ele, entre copos tunantes carregados de sabedoria e alegria em ser Tuno. E agora, lia o que nunca alguém gostaria de ler seja com quem seja, que faria àcerca de alguém que é um "brother in arm´s" tunante. Que estupidez! Tamanha é a estupidez quando se trata de alguém que sendo Tuno, partilha alegria por pura convicção e espalha festa por ser precisamente..Tuno! O Tuno nunca deveria morrer quanto mais não fosse por isso, quanto mais não fosse porque neste mundo tão ingrato, frio, duro e pejado de tristezas diárias vindas de todo o lado e a todo o momento, é uma brutal contradição. O Tuno num mundo assim, só por sê-lo, nunca deveria morrer!

Mas tratando-se de um Tuno, o pasacalles a caminho da Eternidade torna-se absoluto e inquestionável. A reduzida dimensão do ser humano perante o facto de o ser torna-se, no Tuno, algo maior, algo que ultrapassa qualquer juri da vida ou da morte, que decide numa fria madrugada algo tão triste e tão penoso para nós, os que por aqui ficamos a Tunar sem ele, sem os outros que um dia partiram a caminho da Eternidade. E é aí quando percebemos todos que afinal, o importante é o que é de facto importante e o resto é o que nos vai animando a vida por cá, fazendo-nos a todos perceber o que é realmente importante de facto e o que de todo não o é. Não será este escriva de penosa ocasião o melhor exemplo dessa distinção, assumo-o frontalmente. Mas pelo menos tenho o bom senso de nestas ocasiões profundamente tristes perceber o que de facto é importante, seja para um Tuno, seja para quem seja.

Nessa madrugada em que ele partiu num ultimo desfile a caminho da Eternidade, todos nós ficamos muito mais pequeninos perante nós mesmos. A alegria de um Tuno partiu num caminho sem regresso; a nossa tristeza permaneceu numa vida que há que continuar em nome de quem partiu até, em honra da sua alegria, amizade, companheirismo, enfim, em honra de um Tuno em tudo que um Tuno encerra por natureza. A Eternidade é alcançada por aquilo que ele foi, é, representa, fez, pelas amizades que cativou e alimentou, pelo dedo de conversa junto à barraquinha da cerveja, pelo sorriso de quem tinha tudo para sorrir, por ser, enfim , Tuno. A dimensão humana de um Tuno deveria corresponder à imortalidade. Mas não, não corresponde..

Resta-nos ficar com o que de bom a Eternidade lhe trará, porque já trouxe por cá, embora nós não o tenhamos percebido, entendido, porque somos seres humanos enfim e só á falta de quem amamos é que percebemos a falta que essa pessoa nos faz. Somos assim, mesmo sendo Tunos, com as nossas coisinhas pequeninas, com o nosso mundinho. O que vale é que sendo de Tunos que falamos, a alegria da vida é uma constante e essa constância é o passaporte para a Eternidade, é o carimbo que vamos colocando a cada saída que fazemos, é a festa da vida que vamos espalhando num mundo complicado e triste que é este em que vivemos todos nós.

Ele não morreu. Ele está cá. Anda junto de nós, agora que alcançou a Eternidade onde os céus se abriram de par em par como janelas em noite de serenata, à sua passagem. Um Tuno nunca morre, um Tuno vai de guitarra em mão para alegrar outras paragens. Um Tuno alcança sempre a Eternidade....

Comentários