A Aventura reposta....

Este texto é datado de 2005 e é uma reposição, já que constou noutros foruns tunantes, quer portugueses quer espanhois.

O Maestro Moran escreveu o seguinte e numa tradução livre ( Artigo publicado na Revista Aventuna Nº 66, 1998, exemplar monográfico entitulado “La Tuna en el 2000”). Fica a mesma pela sua real pertinência e acima de tudo, actualidade face ao desnorte patente...


"Estas linhas trazem somente um desordenado esboço de alguns males que, no meu entender, afectam de forma desigual demasiadas Tunas actualmente. O assunto merecia um estudo profundo ( …)

1. Por muito que estejamos todos no mesmo magistério, cada pessoa é distinta e não é possível nem recomendável que todos sejamos cópias de um mesmo molde. Tentar a uniformidade seria cortar as asas a uma Tradição que é caracterizada pela espontaneidade. Mas também é indesejável que cada um, à luz de tal, faça o que lhe dê na gana, ignorando o caminho percorrido, de séculos.

Quando se decide entrar para uma Tuna, as referências mais apelativas são o traje, o alcool e as festas. A Tuna é bastante mais que isso. (…) A Tuna é um caminho a percorrer. Os veteranos devem guiar o caloiro dando bom exemplo, ensinado o respeito e o cumprimento da Tradição de que vão a formar parte, o companheirismo, etc.

Não se trata de que todos sejam estudiosos da Tuna, antes que tenham suficientes elementos de juízo para saber onde se meteram, decidindo continuar ou não e poder entregar um digno testemunho a futuros componentes. Alguns querem chegar a veteranos para somente fazerem o que lhes apetece.O caloiro acredita no que contam, faz dele também isso mesmo e assimila os comportamentos que vê à sua volta quase como dogma de fé.

Quando chega a tuno não aceita que algum iluminado lhe diga coisa distinta, porque o Tuno sabe tudo...

2. - Cada vez menos Tunos conhecem a simbologia da Tuna, sua tradição e significado. Outras vezes a algo que se “ouviu” acrescenta-se um ponto, (…) etc. As Tunas que cumprem os rituais de Tuna contam-se pelos dedos…de uma orelha. Perdeu-se o fio condutor da Tradição, “apanhando-se” só o que dá jeito.(…)

Há tunos que parecem os soldados que conquistaram o Perú, outros toureiros...vêm-se botas altas, panos de cores à volta da garganta, etc. Outras vezes são fitas na cabeça tipo “karaté kid”…

Nos festivais, algumas tunas padecem de uma espécie de endogamia, fechadas ao resto (…) Aqui estão também as rivalidades e invejas tontas.São comuns “façanhas” tais como esvaziar extintores em hoteis, faltar ao respeito às raparigas e oferecer na rua um penoso espectáculo; As pessoas não distinguem e a tuna que deixe o seu rasto condena a que vem a seguir. Claro que há “tunos” que se riem destas façanhas..

Nega-se a natureza da tuna a formações não universitárias; Nega-se as femininas porque são mulheres. E também as de Colégios Mayores, Universitárias e masculinas, sem saber que a ligação de uma tuna a uma faculdade é recente. (…)

Instados a exigir, sejamos coerentes: Se quase é delito não levar a Capa para palco, tambem deveria sê-lo interpretar cantares distantes do repertório estudantil. (…)

3.- Resulta paradoxal falar de medidas correctoras numa tradição espontânea por natureza, mas chegados a este ponto, permitam-me propôr as seguintes:

• Dar exemplo, colectiva e individualmente, irradiando outra imagem, outros comportamentos.

• Nos festivais, marcar limites precisos em coisas como a vestimenta, comportamento e repertório, penalizando o distante da tradição e pontuando a recuperação de instrumentos, costumes e cantares. E que, chegado o momento, se aplique.

• Ler livros sobre a Tuna, visionar e comentar videos de festivais. É imprescindível que cada Tuna tenha um arquivo.

• Tomar consciência da responsabilidade que é levar um traje, não só individualmente mas também para o colectivo da Tuna.

• Recuperar canções populares de serenata. (…) Aceitar canções de outras Tunas; não se é menos tuna por isso.

• Cada Tuna poderia elaborar um código interno de conduta de cumprimento obrigatório.”

Comentários