A Aventura do Encontro de Tunas


Eu ainda sou "pertença" desses gloriosos tempos onde praticamente só existiam encontros de Tunas e um pouco por todo o país, ou seja, consigo perceber todo o percurso que acabou por de há uns anos a esta parte, colocar as tunas num roteiro competitivo e assim, invertendo o cenário de inícios dos anos 90 do Século passado (o XX, relembro). Como ainda me recordo do que era um encontro de tunas.

Embora perceba - e se explique até por convergência com outros fenómenos ligados à afirmação de academismo que as Tunas assumiram - o caminho que inverteu o número de encontros de tunas em festivais de tunas - e então era o rácio igual mas ao contrário, ou seja, muitos encontros de tunas e poucos certames - foi rápido e, pela sua rapidez, iludiu os mais incautos até quanto ao propósito principal da Tuna enquanto intituição cultural e secular única.

A transição para a "festivalitis aguda" foi demasiadamente rápida e obviamente irreflectida a prazo - com os resultados hoje por demais óbvios - deixando quase como parente pobre o encontro de tunas se virmos este tipo de espectáculos como montras por excelência para se mostrar o trabalho desenvolvido - que não o que cada Tuna é ou deveria ser, coisas distintas.

Se virmos com clareza a agenda anual dos eventos de tunas, para lá de uma sazonalidade natural - mas que poderia e deveria ser também ela combatida - constata-se que os Encontros de tunas com regularidade anual em Portugal são menos de dez por cento dos eventos existentes de Tunas, bem menos até direi eu.
É obvio que o certame potencia uma eventual realidade - e digo eventual sim senhor - que será um espectáculo de maior qualidade - pretensa, note-se, pretensa melhor qualidade. Não está provado que assim seja mas é certo que um certame competitivo por regra implica um cuidado maior das intervenientes, isto no plano teórico.

O Encontro de tunas e face ao que hoje assistimos, face à tal "festivalitis aguda" acaba actualmente - como sempre teve, aliás - por recuperar uma série de noções tão próprias das tunas que andavam arredadas de todo e qualquer certame - e de forma generalizada, note-se novamente - e que são noções basilares para o fenómeno Tuna como sendo a camaradagem, a troca de experiências, o convivio saudável e despreocupado, a junção de vários grupos congéneres pela prórpia junção, entre outras noções bem mais condizentes - e há que o dizer - do que aquelas que - normalmente - ocorrem num certame competitivo. Ou seja, o espirito dos Jogos Florais do longinquo ano de 1000 que ocorriam na Bretanha está mais refletido, curiosamente, no encontro de tunas do que no certame, porque o espírito dos Jogos Florais - que davam prémios à melhor poesia, trova ou tema - essencialmente previlegiava a troca de fluxos culturais entre trovadores, juglares, etc, todos nas mesmas artes de então, numa saudável e altamente importante união localizada.

O instinto migratório tipico das Tunas é uma das suas caracteristicas inatas e que providenciava outras tantas coisas tão tipicas das Tunas, desde o encontro entre pares até à troca de experiências musicais e outras, passando pelo levar um bocado da nossa terra a outras paragens longínquas. O certame de tunas em Portugal desvirtuou ou vetou ao esquecimento algumas dessas premissas essenciais, basta analisar o que se passa em 3 quartos dos programas de actos dos vários festivais existentes em Portugal.

O Encontro de tunas deverá ser mais acarinhado e mais, deverá ser para as Tunas um momento a ser levado com natural ombridade e clara oportunidade para levar a cabo uma série de coisas que o Encontro de tunas permite, por oposição ao que se passa na esmagadora maioria dos certames competitivos em Portugal, que omite o essencial com favor claro ao acessório ou então previlégio ao palco, aos tais 25 minutos num evento que deverá durar 48 horas. O Encontro de tunas deverá ser um tónico para toda e qualquer Tuna que se preze dessa denominação, quase um must na sua agenda ainda que com a actual dificuldade em poder assistir a um.

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