A Aventura do Diálogo - parte II

À boca do tunel pra entrar para o estádio tive de recuar e acabei por não comparecer - para pena minha - a esta edição do ENT. Paciência, ao que sei, tudo correu bem como seria óbvio e o ENT cumpriu com as suas principais e essenciais premissas genéticas: promoveu aproximação, diálogo, interacção, convívio, aprendizagem, intercâmbio de experiências.

Aliás, a renovação de caras também em sede de ENT é importante até para que não soem as coisas sempre ao mesmo e, por outro lado, que mais gente dê o seu contributo a este Encontro que se mantêm de forma firme no panorama nacional e anual das tunas nacionais. Nova gente surgiu a participar e isso é por si só altamente positivo, para lá de ser o espaço de debate e reflexão por excelência. Daqui consegue-se perceber que o ENT, tenha o número de participantes que tenha - e pelos vistos mantem-se a média desde há uns anos a esta parte - acaba por se renovar em si mesmo, o que é a prova dos nove da sua dinâmica muito própria e única. Dar-lhe continuidade será importante e fundamental até e, ao que julgo saber, a sua continuidade está assegurada, algo que me apraz sobremaneira.

Quanto ao assunto porventura mais "hot" deste - e de outros ENT´s realizados - a constituição de uma associação/federação de tunas, nesta fase do caminho até agora percorrido, após leitura e auscultação atenta de várias sensibilidades, reitero a minha posição que constitui nem um "sim" redondo nem um "não" redondo, antes uma "terceira via" e que em qualquer dos casos observe sempre a seguinte lógica de base, uma espécie de ante-câmera de algo mais preemente:

Continuo - cada vez mais - a ter uma posição de "apartheid" (tradução: desenvolvimento separado) em toda esta matéria: Tunas de um lado e "paratunas"/similares de outro. Reconheço direitos a todos mas defendo a minha Donzela e o apartheid aqui é entre desenvolvimento das Tunas versus o desenvolvimento dos outros, sejam eles o que forem e quem forem.

Por conseguinte, não aceito uma associação que tenha no seu seio quem não seja Tuna de facto, que tenha indigentes tunantes, insolúveis tunantes ou imbecis tunantes que agem como snipers perante os alvos fáceis que são aqueles que se expõem em defesa do património de todos. Nessa continuação de raciocinio, permitam-me que, e atendendo ao projecto em si, ao comportamento de alguns em todo este processo, quer por acção quer por omissão, quer com dôlo ou até mesmo enxovalhamento de quem defende a Tuna e dá por ela o corpo às balas, ao conhecimento que detenho da realidade actual e essencialmente, a uma clara coerência entre o projecto e o seu objecto, nunca aceitaria estar numa associação/federação com alguns que pululam no meio, saíndo de imediato do processo à 1ª entrada de alguma daquelas que considero e repito, por omissão, desvio intencional dos propositos, dôlo, falta propositada de cultura tunante e até educação - para não falar de indigência pura e dura ou mesmo vandalismo reiterado à sombra da Tuna - não fazerem parte objectiva desta Nobre e Cavalheiresca Tradição. Esses outros que procurem o seu caminho. As Tunas deverão procurar o seu. Mais que legítimo, até.

Que os outros continuem a fazer as suas façanhas e a "liberdade" (entenda-se libertinagem) deles assim o permita (e a policia também em alguns casos). Mas a liberdade deles fazerem o que bem entendem não pode colidir com a liberdade da Tuna como instituição em se querer dar ao respeito. E só entendo esta associação de TUNAS se a mesma se der desde logo ao respeito. Tenha 5, 50 ou 500 tunas, é-me igual.

Defendi recentemente e em privado - assumo-o agora publicamente - a urgência daquilo a que chamei Memorandum Tvnae XXI, como base de trabalho embrionária para o de facto, a ver se se saí do papel e do plano das intenções, que se resume aos seguintes pontos:

1- Promoção do fenómeno das Tunas enquanto um todo e com uma realidade cultural própria e única, sua divulgação e defesa perante a sociedade civil e entidades públicas e/ou privadas;

2- Criação, organização e manutenção em estado acessível de uma base de dados e de um Museu, com Biblioteca, Fonoteca e Videoteca, para conservação de todo o acervo produzido e relativo às Tunas;

3- Criação de estrutura de mediação ou arbitragem voluntária - não obrigatória, dependente do acordo das partes quanto à aceitação desse foro jurisdicional, mas com compromisso de aceitação sem reservas das decisões aí tomadas - quanto a matérias do exercício da actividade tunante ou a ela correlativas;

4- Apoio técnico generalizado aos seus membros em matérias como a economia, contabilidade, consulta jurídica, acessória musical, direitos de autor e conexos, aquisição de bens e serviços e outros;

5- Ser um foro de discussão e debate entre os seus membros, e promover o fortalecimento das relações entre todas as tunas académicas portuguesas;

6- Fomentar o intercâmbio e as relações internacionais com grupos congéneres;

7- Fomentar a difusão, conservação e estudo da música universitária, em especial da que é executada por tunas;

8- Reagir a todos os atentados injustificados que afectem o bom-nome da Tuna Académica Portuguesa ou dos seus membros e integrantes, intervindo junto das entidades em questão quando tal o justifique;

9- Criação e manutenção de listagens actualizadas das tunas académicas existentes bem como de um cancioneiro das peças executadas pelas tunas académicas portuguesas;

10- Exercício de uma função de “Lobbying” junto das entidades públicas, privadas e comunicação social, em defesa dos interesses gerais dos seus membros e da tunas em geral.

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b) As signatárias declaram serem estruturas associativas devidamente registadas em sede própria, sendo tal condição indispensável para a subscrição deste Memorandum, fazendo chegar cópia legal dos seus Estatutos bem como da respectiva Escritura constituinte às restantes signatárias.

c) As signatárias declaram a sua disponibilidade total para prosseguirem no intuito de conferir representatividade a este Memorandum, nomeadamente no que se refere à criação subsequente de uma estrutura organizativa que abarque as mesmas.

d) As signatárias declaram a sua obrigatoriedade de exposição - por escrito e devidamente fundamentada - da sua intenção de abandono dos preceitos constantes no presente documento e seus objectivos, às restantes signatárias.

Fica uma base, uma ideia, uma plataforma genérica, recolhendo obviamente desenhos e arquitecturas que são amplamente conhecidas e divulgadas, nada de novo sequer. Convém referir que as noções de Federação e Associação são distintas, estamos a falar de coisas diferentes e cuja distinção é absolutamente pertinente no todo da questão de fundo.

Outra breve nota final: Muito antes do 1º ENT algumas tunas de referência de então - idos da 1ª metade dos anos 90 do Século passado, o XX - intentaram um processo deste género e não obteve, então, o mesmo, qualquer efeito prático, o que na época - e atendendo à conjunctura de então - acaba até por se entender. Mas que houve diálogos entre algumas Tunas houve e atesto-o pessoalmente. Fica o recolher da memória histórica nesta ocasião, atestada até por meios audio, nomeadamente entrevistas radiofónicas no âmbito de programas de rádio exclusivamente dedicados a Tunas que, então, existiam.


Em suma, mais em ENT que se realizou, cumprindo o seu objectivo essencial e renovando-se em si mesmo. Que continue na mesma senda e que, porventura, se exceda nas suas próprias expectativas futuras.

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