A Aventura da Autenticidade


Nem vale a pena ir esgravatar nos confins da história as memórias dos jogos florais de Fecamp, de todo.

Vou referir apenas o modelo de certame que em geral adoptamos e que se baseia, grosso modo, no modelo do certame espanhol sendo que o “nosso” modelo adoptado, por um lado, reduziu os apartados competitivos (em Portugal raramente vemos prémio para a melhor postura em cena, p.ex e em Espanha há prémios desde melhor pasacalles - cá só alguns o têm- indo até a prémio para o melhor bandurria e por aí fora) tendo somente os basilares – solista, estandarte, pandeireta, Tuna mais tuna, 1º, 2º e 3º. Mas, por outro lado - e fruto de uma procura de identidade própria – introduziu outros apartados (prémios) que, por sua vez, só existem por cá grosso modo.

Certo certo é que cá, como lá e acolá, um festival de tunas tem vários prémios em disputa e regra geral, há sempre 6 ou 7 que são basilares, comuns, transversais, universais, digamos assim. E isso certamente obedecerá a uma lógica tradicional.

Ou seja, para não nos confundirmos, vamos ao essencial da questão. Por ser óbvio, se fosse o festival de tunas desde sempre uma simples mostra musical, então o certame teria só Primeiro Prémio e eventualmente, um 2º e 3º e por aí se ficaria não atribuindo mais coisa alguma. Ora, diz a praxis e a actual prática que – e que eu saiba – todo e qualquer certame em Portugal e no limite, atribui pelo menos Estandarte, Pandeireta, Solista, 1º (e admitindo que não entregue 3º e/ou 2º) e Tuna mais Tuna. Não conheço nenhum certame de tunas cá, lá ou acolá que só atribua 1º, 2º e 3º . Por que razão isso acontece, pergunto então?

Ora, conclui-se obviamente que o espírito do organizador será premiar não só a musicalidade e sua qualidade interpretativa mas também outros apartados que são e no caso, autênticos e que definem a diferença entre um festival de tunas e um festival de música, que definem a diferença entre uma Tuna e um mero grupo musical. Mais longe vou, se assim não fosse, o prémio de Estandarte (que não é um instrumento musical mas sim um instrumento iconográfico da Tuna) tornar-se-ia absurdo num festival meramente de música, já para não falar do apartado de tuna mais tuna: Num festival estritamente de música não é distinguido nunca o “pianista mais pianista” ou o “xilofonista mais xilofonista” por duas razões óbvias; a 1ª será que não faz sentido algum e a 2º será que, e num meio unicamente musical, tal é impossível de aferir, para lá de despiciente.

Conclui-se então que um festival de tunas possui uma série de pressupostos naturais por tradicionais e que se distinguem por si só de um mero exercício de competição meramente musical ou cénico ou de simpatia ou de fotogénica ou do que Vªs Exªs quiserem aferir (mesmo que, por piada até, se atribuam prémios por tudo e por nada ou até para não deixar ir alguém para casa de mãos a abanar, à falta de outros requisitos) pois o Festival de Tunas é ele mesmo (ou deverá ser) um exercício da própria Tradição Tunante em si mesma e não um fim do mesmo exercício. E porventura aqui é que estará muita coisa errada na sua observação.

Indo ao início, a questão será observar-se a Autenticidade da natureza real (e não da que alguns querem incutir para proveito próprio) do festival de tunas.
O Festival de Tunas é um momento que se observa entre 48 horas e que tem uns escassos 25 minutos de competição musical mas também tunante e que não pode ser escamoteada, como escamoteada não poderão ser as restantes 47 horas e 35 minutos. A Autenticidade do que é um festival de Tunas não pode ser deturpada, concluí-se, a favor quer da musicalidade e só, quer da arte cénica e só, quer da simpatia e só, quer da fotogénica e só, pois se assim for, obviamente que se esteve presente perante uma estrita competição musical, teatral ou concurso de Miss simpatia e fotogenia: em qualquer dos casos, de festival de Tunas não se tratou, isto é obviamente claro. Resta saber-se aferir como ponderar essas correlações (e ampla documentação existe disponível) e publicitar previamente as mesmas.

Cada certame é um certame e em Portugal então, sem comentários adicionais. Se uns têm cuidados nestes aspectos e alertam participantes para os critérios em causa muito antes da data do evento, outros de todo o fazem e com as devidas e esperadas consequências. Se todos soubessem medir os vários itens em questão num certame competitivo com método, conhecimento (e ampla e disponível documentação está à vista de todos, até na Internet) e sensatez, muita coisa seria efectivamente mais coerente e assim evitar-se-iam cenas lamentáveis e coisas tristes de se verem. Se todos tivessem esse cuidado de base, provavelmente haveriam muitos menos equívocos ou desilusões ou até choros compulsivos à porta de teatros.

Mais, o certame de tunas existe em contraposição com um mero concurso musical, cénico ou de “Misses” precisamente pelos motivos opostos; Não foi feito o certame de tunas para se chorar, amargurar ou reclamar pois para isso existe o Festival da Eurovisão, o Festival de Cinema de Cannes e o Grande Prémio de F1 de São Paulo. Aqui não há recursos ao Jurado após a atribuição dos prémios precisamente porque é um…Festival de Tunas. E não me consta que um Festival de Tunas, por ser o que é, seja hediondo para o público.


Post Scriptum: Note-se que não falo sobre este ou qualquer outro evento em particular, falo de forma geral e, por isso, abrangente, Obviamente que “enfiará a carapuça” quem assim lhe aprouver.

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