A Aventura da Faena


Certo dia, um dito Professor Universitário de uma conhecida e prestigiada instituição de Ensino Superior da Academia escreveu o seguinte no seu blog e deixo apenas o apontador pois está o seu conteúdo protegido - http://ofelino.blogspot.com/2006/01/as-tunas.html (algo que respeito até na minha qualidade de Beneficiário da Sociedade Portuguesa de Autores, embora a licença que o blog em causa possuí não tem qualquer aplicabilidade legal no ordenamento jurídico português - Creative Communs)

Respondi-lhe eu então, com imensa parcimónia e fairplay, note-se, a fim de não deixar o pobre Lente esticado na arena:


"Não tenho por hábito – entre outros – fazer duas coisas que passo a enumerar; a 1ª será analisar frustrações sejam elas de que índole sejam, porque a minha formação académica não me permite tal; assim sendo, passarei em frente neste campo, pois não consigo lidar com aqueles que atacam gratuitamente as tunas – ou o que seja - somente em duas ocasiões, quando chove e quando não chove, como parece ser o caso.

Não tenho uma visão “de claque”, lamentavelmente ou talvez não. A 2ª coisa que não farei é algo que a vida me ensinou e não qualquer lente ou sebenta universitária, vida da qual muito me orgulho, tendo por lá passado não 15 anos mas 5 belos anos e com aproveitamento e sendo Tuno (palavra que descobrimos ter sido “inventada” agora por alguém…), como outros tantos Tunos que conheço e que hoje exercem até altos cargos, mais altos até que o de Professor Universitário e por exemplo; pasme-se que até Espanha teve um Tuno como 1º Ministro, de seu nome Adolfo Suarez e não consta que tenha sido mau de todo para o seu povo. Mas isso agora não interessa para nada: Não me arrogo no direito de julgar tudo e todos e muito menos de falar do que não sei.

Mas vamos ao que interessa. Ó Inclemência, ó Piedade, atrevo-me a dizer. Escol, casta de previlegiados gostava eu de saber como e porquê, pois a prática demonstra simplesmente o oposto. Quando as Tunas em Portugal serviram os altos propósitos do Ensino Superior como meio de divulgação das mesmas, num mercado cada vez mais competitivo, não era esse o discurso certamente. Serviram e muito bem (ou não..) para promover a imagem de um ensino superior activo, atractivo, pujante e, quando se percebeu – e a culpa não foi certamente das tunas – que já não valia a pena a aposta feita, usaram-nas como fraldas descartáveis e bode expiatório para tudo o que de mau enferma em torno do suposto ambiente académico.

Quantos sites de Dignas Instituições de Ensino Superior neste país há dez anos atrás colocavam como “isco” a novos ingressos o facto de as mesmas terem uma “activa e atractiva vida académica”, da qual as tunas foram a sua 1ª linha, a sua “tropa de combate”? Bem sabemos que hoje não é assim. Deve ser esse o nosso “previlégio”, servir de explicação a tudo que, nada tendo a ver com o trabalho que as tunas exercem, pode ser visto como negativo no ambiente académico. Julgo estarmos perante a teoria dos “culpados do costume”; por aí, não vamos a lado nenhum, amplamente vacinadas que estão as tunas em Portugal neste particular em concreto – e em outros, já agora.

Bem sabemos que não estamos isentos de culpas nesta matéria; tratando-se de uma cultura universitária e académica muito própria e que assumiu contornos de “boom” a nível nacional, naturalmente que há de tudo; pergunto-me se porventura, não haverá de tudo em todo o lado, ou somente é nas Tunas que há incompetência, abuso, falta de civismo, ignorância, arrogância e por aí fora? Por aqui, também não vamos a lado nenhum; até a Igreja Católica Romana se debate com casos de pedofilia, prova acabada do atrás dito. Por aqui, também não vamos a lado algum. A não ser que as expectativas de “pureza da raça tunante” fossem assim tão altas, coisa na qual nunca acreditei e não necessito de ser Docente Universitário para perceber isso. Como também é natural em qualquer actividade que se procure uma relação entre o objecto e a melhor forma de o executar, algo que também não acontece na sua plenitude em lado algum, diga-se.

Sem dúvida alguma que é todo um fervor académico que vem ao de cima quando se actua ou se é Tuno até (o Tuno não faz parte da Tuna, é Tuno, ser-se Tuno está na esfera pessoal e interior do mesmo e não na esfera corporativista); peço perdão mas não se pode inventar o que inventado já foi e o Tuno há Séculos que existe, remeto para pesquisas atentas e quase catedráticas sobre o tema, já que a prosápia é muita, há que consolidá-la com factos históricos amplamente disponíveis até. É um sinal de pertença, de orgulho certamente e que nada tem a ver com a única identificação possível de uma instituição ou colectivo de estudantes em geral. De todo. Antes sim com orgulho em se pertencer não a uma elite ou escol, mas sim com orgulho na pertença a uma cultura secular, com raízes históricas e que se procura preservar, nada mais que isso. Voltamos a um caminho sem saída, que é quando se confunde orgulho com arrogância.

O Apogeu da carreira de um Tuno é ser-se Tuno de facto, basta a condição e seu exercício de facto e que não é medido pelo número de tonéis de vinho que se ingerem; o apogeu do Tuno Estudante Universitário é ser Tuno de facto e terminar com aproveitamento o seu curso superior. Onde há incompatibilidade entre uma coisa e outra? Em lado algum, excepto em algumas mentes desinformadas ou de má fé. Nunca um Tuno vota os seus pares ao ostracismo, senão não é Tuno, é alguém dito como tal. É precisamente ao contrário, o Tuno não vota ninguém nem nada ao ostracismo, assume a sua diferença – nem mais nem menos, apenas diferente – e convive com todos de forma saudável e à sua maneira, como qualquer outra. Senão, seria o mesmo que dizer que o deputado vota o seu povo ao ostracismo só porque o é ou o Professor Universitário, por exemplo. Mais um caminho sem saída…

Por outro lado, a concessão seja de quem for sobre a nossa actividade ser ou não ser cultura só a nós, Tunas, nos obriga; Melhor do que dizermos ou tocarmos ou fazermos é o reconhecimento que os outros nos dão ou não: Pressinto más experiências e compreendo, até, a razão de tal confusão. Mas se nem todos os padres são pedófilos, também nem todos os Tunos e Tunas tocam mal ou produzem ruído, como certamente nem todos os Lentes corrigem testes de frequência atirando-os ao ar, sendo que os que caem na cama são positiva e os que caem fora da mesma são negativa…Mais uma rua sem saída.

Ser tuno é ter o tapete estendido para levar donzelas desvalidas no engodo. Supremo poder de atracção ou efeito “Axe” quase que diria! Até sugere que em mais lado algum tal não ocorre, sendo que a culpa de tanta virgem desonrada mora apenas e tão só nas Tunas! Quase violação de facto, até se poderia dizer, visto que a Mulher assume aqui, nesta frase, papel de espectadora e não papel activo de facto, fazendo lembrar aquela anedota de que “ se há violações é porque elas não colaboram…”. Isto começa a parecer aqueles condomínios fechados de vivendas recém construídas onde nenhuma rua ou viela tem saída…

Mais adianto, todos sabemos sem excepção, algumas histórias de notas “bem atribuídas” ou de promoções a nível profissional derivadas da escassez não das respostas prontas e positivas mas antes do pano da saía ou – para não ser sexista – das saliências musculadas dos abdominais…

Ser Tuno é um sinal garboso de virilidade, obviamente que o é e não vejo nisso – como em tantos outros sinais de virilidade existentes – algo necessariamente de pernicioso. Sugiro, mais uma vez, leitura e pesquisa atenta das origens dos Tunos e Tunas de uma forma ampla. Quanto à frase “garbosos veteranos são o microcosmo dos parasitas sociais, como o são, em versão macro, os sindicalistas.” (fim de citação), já acima me debrucei sobre essa temática. Que os há, isso há mas não é só nas Tunas certamente. Não há, contudo, motivo de preocupação, pois o parasitismo que estes “Tunos” praticam não afecta em nada, comparando com outros sectores da actividade social, cultural, politica, etc etc etc. É que ser-se cábula sai do bolso em propinas numa dialéctica muito dentro do microcosmos familiar.

Estranho usar-se a Tuna – uma vez mais … - quando sempre houve cábulas que nunca foram Tunos, Ministros que nunca foram políticos ou professores que nunca souberam dar aulas e por aí fora. Mais uma endeless road …Muitos após a entronização até conseguem ter vidas absolutamente normais; professores, quadros técnicos, empresários de sucesso, até deputados, sindicalistas até mas também todas as outras áreas da vida activa. Curioso é a confusão entre entronização do estudante cábula e o Tuno. Sou Tuno há 15 anos e tenho a minha carreira profissional devidamente consolidada e em nada colide uma coisa com outra, bastando para tal saber-se estar e ser. Tuno e Homem.

O resto é prosápia que me diverte, se considerarmos que os Festivais de Tunas são convenções masturbatórias colectivas apenas com uma diferença face a outras convenções colectivas existentes na nossa sociedade; vai ver quem gosta, toca quem sabe, há uma clara “contraprestação de serviços” simples, franca, sincera e que mostra o que somos, para o bem e para o mal. Também gostava de saber o que é feito dos deputados que andam anos a fio a vegetar na Assembleia da República, mas se não souber, não fico a moer o desconhecimento e depois, desatar a “vingar-me” nas Tunas e Tunos…ou nos professores….ou wathever!

Desejou boa viagem ao Tuno que ia para o Brasil e que requeria uma chamada extra para exame, quando teve outras oportunidades antes para o fazer, o mesmo Tuno, esperando revê-lo no ano seguinte? Fez muito bem, porque eu faria o mesmo no seu lugar, certamente. Mesmo que pressupondo que as Tunas, na sua actividade já beneficiam – as que beneficiam – de condições especiais que eu considero plausíveis desde que responsáveis e responsabilizadoras para os mesmos. Terminei o meu curso superior em 5 anos, fiz várias convenções masturbatórias colectivas e fui duas vezes ao Brasil com a Tuna sem uma única época especial ou outras benesses seja de que género seja. Voltei de lá, já estou cá, trabalho dia após dia e continuo na Tuna. Não me parece que isso me diminua face a quem quer que seja. Antes pelo oposto, antes pelo oposto.

À laia de conclusão, nada de novo neste artigo. Bater no “mesmo” é hábito geral. Desconhecer o que é o “mesmo” também. Não estamos cá – julgo eu – para agradar a tudo e a todos. Normal. Eu não gosto de bacalhau mas admito que seja bom e faça bem à saúde. É a diferença. Mesmo que haja bacalhau estragado (que certamente não é comestível). Mas lá que se fala de nós, isso fala. Sinal de que estamos cá, existimos, somos força activa cultural, com coisas boas e más, certamente. Ninguém perde tempo a escrever seja sobre o que for se tal não tiver qualquer interesse. As tunas agradecem o deferimento." (fim de citação)


Game Over (and out.....)

Comentários

J.Pierre Silva disse…
Vergo-me perante tão distinta exposição!
Muito bem, ilustre amigo!