A Aventura da Segmentação















Começa a revelar-se - provavelmente já acontece há uns anos a esta parte - uma clara tendência para a segmentação dos vários certames de Tunas com relevância de facto no panorama nacional. É evidente que esta constatação não abona a favor da sempre simpática teoria horizontal de que todos os certames são bons pois isso não é de facto, verdade na prática. Há certames que obviamente por força de vários itens mais ou menos consensuais estão num patamar de exposição mais elevada e por consequência, certames com mais projecção e por isso, mais relevantes que outros. É natural que assim seja no terreno e não vejo particularmente nada de extraordinário ou mesmo de ofensivo constatar-se o inevitável.

Se aquilo que um Tuno procura num certame como sendo o mais importante para si revela sempre alguma subjectividade, a verdade é que num prisma mais global há itens claros de segmentação entre certames e que os há com várias características há, algo que me parece absolutamente normal e constatavel até. Assim , um certame realizado numa sala mitica com uma considerável lotação é necessáriamente mais projectável - em teoria, note-se - do que um certame realizado num gimnodesportivo. Ou seja, há claramente itens organizativos - que vão obviamente de acordo com as possibilidades e estéticas muito particulares de cada organização, note-se com propriedade - que são distintivos e que segmentam os certames entre os mesmos, isto parece-me igualmente pacifico e claro. O que não impede que uma qualquer organização modesta que não disponha por exemplo de meios locais mais fortes de vir a realizar um grande certame, atente-se.

Pelo prisma do público - prisma esse regra geral esquecido em 95% dos casos - um bom certame será sempre aquele que possibilita a justificação do bilhete pago pelo mesmo, quer pela qualidade dos intervenientes, quer pela qualidade da sala que acolhe o evento, quer pela qualidade organizativa demostrada ao longo do mesmo evento. Os restantes itens são pontos definitivamente mais do interesse dos Tunos participantes e também daqueles que não participando, conhecem o meio e consubstanciam por isso mesmo, melhor conhecimento do terreno, logo maiores expectativas que porventura se confirmam ou desmentem. A visão de um Tuno habituado ao meio e conhecedor de N certames distintos não é a mesma visão do público que assiste ao certame X ou do público do certame Y. Numa mesma cidade e/ou Academia podemos encontrar até 3 ou 4 certames realizados num mesmo ano e no mesmíssimo local mas sempre com públicos distintos entre eles, por razões umas óbvias outras nem tanto.

A segmentação de certames existentes a que me reporto refere-se aos ditos certames consagrados e/ou de suposta referência nacional, onde nos ultimos anos temos encontrado uma curiosa dictomia mais ou menos respeitada regra geral, havendo aqui e ali uma excepção à regra, até para confirmar a mesma, dir-se-ia: Temos actualmente certames para um determinado naipe de determinadas tunas e um roteiro supostamente paralelo porque distinto nomeadamente em questões de postura e de doutrina num outro segmento. Ambos os segmentos são importantes e relevantes, ambos estão num plano horizontal e não vertical mas apresentam claros pontos distintos entre os dois roteiros e isto olhando por exemplo aos cartazes dos ditos certames de maior referência nacional pelo menos nos dois ultimos anos. Temos um 1º segmento de mainstream, de status quo quase mitologico, onde penetram aqui e ali algumas outsider´s por manifesta imposição da natural mudança de cartazes ano após ano mas que por via de regra, mantêm o mesmo figurino no seu elenco ano após ano, num plano conservadorista que por vezes, alberga apenas nomes e não qualidade. Temos um outro segmento igualmente importante que assenta numa lógica mais reformista, mais liberal digamos assim, que pretende acima de tudo apostar no que de facto vale a pena não olhando para a vertente misticista dos nomes mais ou menos pomposos mas antes nas reais capacidades de algumas que o momento mais que justifica a aposta nos mesmos.

Por vezes, esses dois segmentos trocam pontualmente de casting´s - o que é sempre de louvar - e assim, justificam pelas excepções pontuais esta noção de dupla segmentação. O dito segmento mais conservador não raras vezes fica refêm de alguma repetição de elencos, sendo que em alguns casos essa repetição não aproveita a ninguém excepto a quem repete. O dito segmento mais liberal, digamos assim, assume mais riscos que cada vez mais são calculados e por isso diminuidos, aumentando assim o leque de oferta ao público de qualidade no espectáculo a que vão assistir. O 1º segmento joga claramente em nomes, o 2º joga claramente com a vontade de agradar ao público. O 1º segmento é mais conservador porque mais estanque à novidade, o 2º é muito mais arrojado porque pouco dado à repetição pela repetição procurando novidade com qualidade.

Ambos os segmentos são importantes até pela filosofia que os rege, silenciosa mas que existe. O apartar de águas pode aqui nem sequer ser negativo por si só, apenas e tão só segmenta, o que pessoalmente a mim não me choca nada, pois ambos os segmentos têm os seus públicos e casting´s muito próprios, logo, se têm será porque encontram feedback a corresponder aos mesmos, nada de novo aqui. Apenas se constata esta segmentação e em duas claras linhas de postura distintas mas horizontalmente no mesmo plano quanto ao certame de referência em Portugal.

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