A Aventura Brasileira...


Quando uma Tuna pensa em digressão, inevitavelmente a "pole position" relativamente ao destino a escolher reside no Brasil, nesse Brasil de Jobim, do Samba, das mulatas, do Forró e da água de Côco em Copacabana, nesse Brasil tão perto e tão longe enfim.

Para muito boa gente, a digressão de uma Tuna ao Brasil está como a ida em massa a 13 de Maio a Fátima: É inevitável mais dia menos dia. Bom, poderá não ser necessáriamente assim mas o facto é que o Brasil já deixou muitas "mossas" positivas - e outras - na vida de muito bom Tuno português aquando de uma ou mais digressões a esse país dito de irmão.

O Brasil é, de facto, uma espécie de pronto-a vestir (sem piadas em sentido contrário agora, por favor, parental advisory..) para o Tuno que lá vai actuar: Há sempre algo que encaixa na perfeição, que torna a estada de uma Tuna portuguesa nesse país sobremaneira diferente relativamente a outra digressão a um qualquer outro país. Repare-se que digo diferente e não melhor ou pior, pois isso é sempre relativo e caso a caso, Tuna a Tuna, Tuno a Tuno. Estive por duas ocasiões - 1993 e 1994 - e em digressão no Brasil com a Tuna, sendo que a do ano de 1994 foi sobremaneira "violenta" pois praticamente durou um mês, sendo que dias houve em que se actuou 3 e 4 vezes. Escusado será dizer que em Outubro o calor Carioca é qualquer coisa de abrasador, pois o Verão está ao rubro naquela latitude, o que fez com que então se levassem várias camisas de traje a fim de se manter alguma salubridade e higiene (em alguns casos houve quem levasse mais de 10 para se ter uma noção).

Uma Tuna portuguesa concerteza, no Brasil, é imediatamente acolhida pelas comunidades portuguesas aí residentes e de várias gerações, onde se sente a cada actuação - e em 1993 por exemplo foi conjuntamente com a Tuna o Grupo de Fados, hoje extinto (porque será) - o que é ser-se português na sua plenitude; não raras vezes as lágrimas corriam em rostos insuspeitos de ilustres Comendadores ou "Coroneís", respectivas esposas e filhas e logo ao 1º acorde quer da Tuna quer de um fado fosse ele qual fosse. Era Portugal que ali estava vindo directamente de lá, da Pátria, do outro lado do "charco". Se somarmos a nostalgia bem portuguesa às emoções ao rubro do brasileiro e misturarmos isso tudo com uma Tuna à frente, o resultado é óbvio: Muita emoção, nostalgia, prazer e gosto em ser-se Português, Saudade.

Por sua vez, as comunidades portuguesas rodavam a Tuna entre aspas entre elas, numa espécie de mega-negócio onde os que recebiam a Tuna em suas casas para um espectáculo organizavam nessa noite um opíparo jantar de gala para portugueses aí residentes, com preços então mais que proibitivos per capita, num circuito de "montra de vaidades" onde cada casa de portugueses fazia "inveja" às restantes por ter na sua casa uma Tuna vinda expressamente de Portugal - e então, normalmente só ranchos folclóricos e quejandos oriundos de cá iam ao Brasil, sendo raro na época ver-se uma Tuna tanto tempo em digressão pelo maior país da América do Sul. Garantido alojamento e alimentação à Tuna de forma graciosa havia que fazer "render" a mesma "passando-a" a outras casas da comunidade nacional aí residente. Uma espécie de carrocel animado ao vivo onde todos ganhavam de alguma forma, pacífico. Mas é de facto assim que se processam as coisas.

A Tuna, essa, admirava de forma quase "aparolada" a dimensão deste Brasil, a dimensão de uma cidade como São Paulo - que tem só ela mais habitantes que o nosso país inteiro... - a beleza incomensurável da vista desde o Cristo Redentor sobre todo o Rio de Janeiro, a fantástica baixada paulista com Santos - cidade natal de Pélé - a liderar, a loucura da réplica da Ocktoberfest em Blumenau e por aí adiante para não vos maçar em demasia. Admirava também nessa imensidão a beleza natural fixa e as que se passeavam, naturalmente, pelos passeios do Leblon, como não poderia deixar de ser. As idas ao centro de São Paulo, a Avenida Paulista, a Sapucaí no Rio, a praia de Itanhaém e assim sucessivamente. E a Tuna aí assume uma condição distinta, simultaneamente de turista e de embaixadora desta cultura única e muito peculiar que é ser-se Tuno. As radios em directo, as idas ao programa do Jô ainda na época na SBT de São Paulo, as idas ao Morro da Tijuca, as saunas e os jacuzzis, as filhas dos "Coroneís", as mães portuguesas a "empandeirar" as filhas brasileiras para a caça ao passaporte comunitário e por aí adiante....

A Aventura Brasileira de uma Tuna é realmente de facto uma aventura por si só. Vários outros países visitei em digressão mas como o Brasil nunca houve parecido sequer. Mesmo eu que sou um Europeu assumido a nivel cultural e que prefiro outras paragens bem mais próximas - o Brasil não será propriamente o modelo de organização e desenvolvimento que prefiro... - rendi-me então àquilo que o verdadeiro Brasil é e que raramente as telenovelas nos mostram. E não há dúvida que, apesar de eu pessoalmente não sentir saudades do Brasil na condição de Tuno, tenho de reconhecer que uma Tuna no Brasil é como peixe na água. Ir em digressão ao Brasil é com a Tuna completamente distinto de ir-se ao Brasil do Nordeste para ficar a banhos numa praia. Isso é "outro" Brasil. Só em digressão com a Tuna é possivel ir-se actuar em São Paulo e deparamo-nos com o Dr. Alberto João Jardim na assistência. "Ordem e Progresso" diz o lema nas ensígnias brasileiras. E nunca a desordem e o retrocesso foram tão belos aos nossos olhos, que por cá somos e temos, ao fim e ao cabo, três quartos dessa desordem e retrocesso...

A Tuna, afinal, por génese, acaba por ser .."um pouquinho djí Brasiu, aí aí..."

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