A Aventura da Guia...

Curiosamente, nunca se fala desta "classe" tunante ou pelo menos, nunca vi em lado algum uma abordagem minimamente séria sobre o que é ser-se Guia num certame de Tunas. Talvez por razões que nos escapem mas de facto, a Guia acaba por ser uma espécie de parente pobre da lógica organizativa de um certame e que me recorde, repito, nunca vi - talvez por isso mesmo - algo escrito sobre a função de uma Guia num certame de Tunas.

Começando pelo maior pré-conceito em torno das Guias dos certames, deve-se logo começar pela imagem - falsa nuns casos, noutros nem por isso - de que a Guia num certame é uma espécie de call girl que se encontra à disposição total dos participantes nos festivais e pronta a aceder à chamada. Parece-me algo abusivo julgar o todo pela parte e se bem que as haja, certamente será porque o "Tango se dança aos pares", não sei se me farei entender, o que não deixa de ser algo hipócrita porque recaí na Guia a totalidade de uma responsabilidade que é, no caso, partilhada - e se é que é susceptivel de se abordar alguma questão de responsabilização nestes casos, note-se.

A Guia é a Azafata espanhola em versão portuguesa , em suma, é a adaptação dessa figura feminina que acompanha, guia, indica às Tunas o que há a fazer, quais os compromissos a ter pela Tuna, horários a cumprir, guiar as tunas, ajudar naqueles momentos em que uma Tuna que chega a um local desconhecido necessita de algo que, porventura, sem ajuda de alguém seria mais dificil (por muito extensiva que possa ser a interpretação desta ultima frase...).
Feminina porsupuesto e conhecedora do local onde se desenrola o certame, pelo menos supõem-se tal, para lá de saber com precisão os passos de todo o evento e ao longo do mesmo, uma espécie de hospedeira (azafata) de terra e no caso. Deve irradiar simpatia porque a 1ª imagem de recepção à Tuna que irá guiar revela-se essencial para o restante desenrolar da sua missão. Criar empatia pela simpatia é fundamental numa Guia, para lá de ser conhecedora préviamente de todos os passos constantes no programa de actos do evento, de forma a que o mesmo possa fluir sem qualquer tipo de problemas, confusões ou faltas aos pontos onde deverão estar presentes todas as Tunas. Devidamente trajada como manda a Santa Tradição.

Curiosamente com o passar dos anos denoto pessoalmente a cada vez maior dificuldade das organizações em captar pessoas nestas condições, principalmente na parte relativa à harmonização do processo organizativo no terreno e durante o festival, sendo cada vez mais frequente haver Tunos a saber mais do que as Guias, estas a faltar aos eventos constantes dos programas e por aí fora. Certo que sabemos que prestam graciosamente um favor às organizações dos certames, claro que sim. Mas isso não pode servir para demissões e faltas constantes de quem supostamente está no terreno para auxiliar, tornando-se então as Guias que falham numa das maiores falhas de alguns eventos porque ao demitirem-se, ao se ausentarem, prejudicam o normal desenrolar do evento, ficando tudo ao sabor do improviso quando a ideia inicial seria precisamente a oposta.

Já nem entro em questões como por exemplo, vermos Guias masculinos - curioso, que aqui a Tradição não é colocada em causa por quem destaca homens para essa missão tão feminina e no contexto de um certame; a igualdade de direitos, digamos assim, colhe no apartado de Guias a sua máxima expressão no mundo tunante quando se vê Guias masculinos. A função essencial da Guia será guiar, receber, mostrar a arte de bem acolher de uma Tuna organizadora, sendo uma extensão da imagem da tuna que promove o evento, é ela a 1ª impressão, a 1ª imagem e todos sabemos que a 1ª imagem é importante, para lá obviamente do desenrolar do evento. Nos certames femininos será, por tal, admissivel aceitar-se que haja Guias masculinos, pacifico.

Será de toda a justiça falar-se hoje da Guia do certame de tunas, essa parente pobre e não remunerada de um trabalho organizativo dentro de um certame. Temos ainda variáveis às Guias - coisa rara - chamadas de Protocolo do evento, numa clara distinção entre guiar quem participa e receber dignamente quem participa: receber quem participa pode ser receber entidades várias - Reitoria, Presidente da Câmara, da Junta, deste ou daquele organismo publico e/ou privado, patrocinadores, receber o Jurado e indicar o "caminho das pedras" ao mesmo - em 100 festivais 99 esquecem-se pura e simplesmente destes "pormaiores" extremamente importantes para quem recebe e mais, por quem é recebido. O trabalho de um serviço protocolar num certame que se quer de elevada qualidade organizativa tem de pensar previamente estas coisas, tem de potenciar nestas "pequenas" coisas qualidade, bem fazer, pensar previamente, organização de imagem geral do evento, etc. O certame não se esgota neste apartado nos dois dias do mesmo, antes é preparado com classe, savoir faire, com gosto, com educação irrepreensivel para com aqueles que serão recebidos.

E estes ultimos não são só as Tunas, é muito mais gente que vai para além das participantes no espectáculo, no evento, etc. É a tal noção em grande panorâmica do evento de tunas, de espectáculo total que abordo aqui e não algo reduzido ao palco. Tanto cuidado há com coisas absolutamente desnecessárias - walkies talkies nos ouvidos para contactar alguém a meio metro é o prato do dia, numa cena escusadissima e que se torna caricata - e depois ninguem para receber dignamente o Reitor, o Sr. Presidente, o Jurado, o público até, que pode ser "mimado" logo á chegada a um teatro com uma simples flor a uma Senhora, por exemplo. Isto são coisas que parecem mesquinhas mas hoje em dia são de uma importância enorme em sociedade e na arte de bem organizar algo. Até no Rock in Rio em Lisboa há jactos de água para o público quando o calor aperta e assim sucessivamente.

As Guias são fundamentais se desempenharem o seu papel de facto. Receber bem participantes é fulcral organizativamente. Igual importância deveria ser dada a quem pagou para ver Tunas, que gosta certamente de uma 1ª impressão e a mesma é SÓ esta: ser bem recebido logo à chegada ao teatro e não somente empurrado para a sua cadeira com um livreto na mão - quando há.

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