A Aventura da Maré...

Há gente que efectivamente persiste em contradizer-se no essencial, naquilo que mais importa ao fim e ao cabo e no que se reporta à defesa dos mais importantes valores tunantes, de defesa da alma magna tunante de facto.

Quando se tem um discurso e se pratica diametralmente o oposto, fica quem o faz à mercê da sua própria incoerência e obviamente será alvo mais tarde ou mais cedo do devido acerto de deficit de coerência e sempre por parte de quem o é, obviamente. Quando a maré um dia é favorável, Aqui D´El Rey que o discurso até bate certo com os actos. Mas quando a maré baixa, então dá-se a inversão da coerência em doses quase escandalosas.

Quem antes se dizia que "há que defender a cultura Tunante" e que nunca na vida se dará albergue àqueles que de Tuna nada têm, eís que acto contínuo, a "besta" passa a "bestial" e até porque mesmo sendo algo referente exclusivamente de Tunas, isso passa para 2º plano e o que interessa é a "malta divertir-se" e "há que respeitar as diferenças" (quando respeitar as diferenças deve incluir necessáriamente que se está a organizar algo que não é só para Tunas até para respeitar as mesmas...) e blá blá blá, ou seja, conversa pejada de incongruências e logo, de cobardia tunante, já para não falar do imenso mar de ridículo com que alguns se cobrem à custa de um pretenso "cartaz de qualidade" (pretenso porque em alguns casos conhecidos tratam-se de flops que irrompem com a mesma velocidade com que desaparecem do mercado e mais digo, em alguns casos, falar de qualidade musical é algo que apenas dá para rir....)

Já o disse aqui no "Aventuras" e repito. É evidente que um grupo pseudo-tunante que queira imiscuir-se em acontecimentos ditos exclusivamente de Tunantes só o faz com o beneplácito de alguém, com a guarida de alguém, com o convite feito por alguém. E como diz o Povo, é tão culpado quem rouba a sacristia como quem está de atalaia à porta da igreja. Pena é que de vez em quando - como se constata - sejam alguns dos supostos maiores defensores da Tradição Tunante a ficarem à porta da igreja, pior, a convidarem para nela entrar.

Fica o lado positivo, porque tudo tem um lado positivo: Fica-se assim a saber quem é quem e para memória futura - "Diz-me com quem andas.....". Curioso será também haver quem ainda persista nesta postura - em contratempo claro - quando o actual momento tunante está finalmente a segmentar de forma inequívoca - e por força dos desvairios cometidos no passado recente e suas consequências que passaram pelo aclarar publico do quem é quem neste processo - apartando dos eventos exclusivamente tunantes tudo aquilo que nunca o foi, não é nem será - e basta olhar para os cartazes dos eventos exclusivamente tunantes. Mas não chega ainda. O "Apartheid" deverá ser mais claro e preciso.

Há de facto, mais marés que marinheiros...

Comentários

Xa disse…
Caro amigo Ricardo, há alturas da vida que cada um faz a sua própria reflexão e até acho muito interessante o que tu escreves e principalmente depois de alguns acontecimentos consigo perceber o porquê do espaço temporal de algumas coisas menos claras.
Da minha parte posso-te desde já dizer que nem é cobarde o que convida e nem cobarde o que se sujeita e vai a concurso com tais grupos, pois enquanto alguns escondem os factos eu pelo menos não escondo o que faço.
Aliás até te posso dizer que se no inicio era contra determinados factos, continuo ainda a ser, a diferença é que passado uns tempos e depois de amadurecer algumas ideias para mim foi claro, quem era eu para tirar a 1ª pedra e criticar alguém que nunca mal me tinha feito e quando também poderia eu próprio ter errado no passado ou até o facto de vir a errar no futuro.
Por isso e desde essa altura nunca escondi o que tinha mudado na minha forma de pensar, compreendo que não entendas o porquê de algumas decisões de algumas organizações de determinados eventos e respeito todas as opiniões válidas e não ofensivas o que pareçe não ser talvez o caso.
E vou pela 1ª vez conheçer de perto um desses grupos e vou recebe-los da melhor forma que puder porque é a única forma que sei de conheçer alguém e foi dessa forma que te conheçi e tornei-me teu amigo.
Dirás certamente cometerei um erro, neste caso apenas te direi não é a errar que se apreende e crescer.
Porque uma coisa é certa já tiveste em eventos na Figueira e no Porto com alguns destes grupos e não foi por isso que a tuna organizadora era isto ou aquilo por tal facto.
Sendo assim aqui ninguém é santo nem o diabo.
Apenas temos que saber viver uns com os outros, ou pelo menos tentar, porque incoerências toda a gente têm, até o Papa.
Sendo assim para qualquer dúvida sabes qual é o meu número de telefone e boa sorte para as próximas actuações.

Um abraço.
Caro Xá;

Não foi esta reflexão dirigida a ninguém em particular mas antes de forma genérica e universal, como facilmente se depreende da mesma "Aventura". E ainda bem que respondeste à mesma com a tua reflexão pois a refletir sobre as coisas é que a luz surge, porventura. Temporalmente esta surge e mais não é - e aqui admito a minha persistência - do que um repetir de outras reflexões aqui feitas, se reparares com atenção. É um exercício de coerência da minha parte, mormente para muitos seja mais do mesmo, admito porventura. Digamos que é neste meu espaço o único local onde o poderei fazer porque sendo meu, a isso me posso permitir vezes sem conta.

Posto este tranquilo introíto, dizer-te cordialmente que:

A coerência mede-se por actos, obviamente. E quanto a eles, cada um saberá através do natural e saudável contraditório elucidar os outros sobre a sua pretensa coerência. Esta reflexão aborda uma situação concreta onde se fala de quem convida algo que não tunas para eventos de Tunas. Surgindo a tua resposta com o corpo que apresenta, posso depreender que concordarás com tal preceito, caso oposto terias outro tipo de reflexão, naturalmente. Aliás, tu mesmo o reforças a dado passo. Portanto, tranquilos.

Por outro lado, entendo algumas das razões que aludes. Mormente tal facto e mormente tais decisões serem de grupo e não individuais, elas não deixam por isso de reflectir uma postura e quanto a isso penso não haver contraditório. Há várias situações deste tipo e como disse antes não me referi a nenhuma em particular, basta ver como disse na minha reflexão, vários cartazes de eventos ditos Tunantes. A questão da 1ª pedra é pertinente mais para mais quando se admite uma mudança de opinião, nada contra isso. Não abordei a mudança de opinião em si seja de quem seja mas antes a questão da coerência em si mesma, o que são coisas distintas; podemos mudar de opinião e dizer porque razão se o fez, de forma a que os outros percebam essa mudança de opinião. Não percebendo, sujeitam-se ao escrutínio de coerência, naturalmente.

Efectivamente a minha reflexão porque - repito - universal e abstracta e não concreta ou particular é uma abordagem generalista que entendo eu fazê-la ciclicamente - e não por causa deste acontecimento ou daquele em particular - pretende somente alertar para os vários aspectos que a liberdade pressupõem, no caso, a liberdade em se fazer o que bem se entende. A sociedade é regrada, as Tunas também o são. É nessa perspectiva que a minha reflexão se enquadra e por aí se fica. Os "barretes" enfiam-nos quem bem entender enfiá-los, naturalmente. Quanto ao meu discurso talvez ofensivo peço perdão se porventura o fui, não sendo essa a minha intenção claramente seja com quem seja. Mas vamos convir que ser-se frontal na abordagem e num meio pejado de meias tintas é capaz de não ser despiciente e se bem entendido, até ajudará a esclarecer o que de mais nebuloso possa existir. Foi com essa intenção apenas que redigi - como é meu hábito aqui - uma reflexão mais incisiva, digamos assim.

Agora vou eu enfiar um "meio" barrete e explico porquê: faço parte da única Tuna - que eu saiba e com pena minha - que até à presente data apresentou em determinados eventos onde participou e participa uma nota informativa prévia à respectiva organização, cujo conteúdo pretende precisamente ANTES alertar para aventuais situações que não dignificam o fenómeno tunante. É pouco, porventura. Mas certamente um mar de diferença face ao NADA que ocorre nestas circunstâncias onde todos se "queixam" DEPOIS das coisas acontecerem. Por isso, tranquilamente coerente, até porque há quem ateste o que escrevo acima, simples.

Não te digo por isso que cometerás um erro porque não será o Xabregas a organizar este evento mas antes todo um grupo. Receber bem é teu e vosso apanágio e em altura alguma sugeri sequer que se recebesse mal fosse quem fosse; quanto muito disse e digo que num evento exclusivamente de tunas só se deverá, a meu ver, receber...Tunas, pois então, algo que me parece obviamente lógico até.

Ninguém é efectivamente Santo e Diabo. Mas alegar esse humanismo a meio termo pode ser tão nobre por óbvio como pode ser tão incoerente por também óbvio. E a minha reflexão, que tu acabaste por corroborar, é precisamente a focar essa incoerência. Temos de viver uns com os outros. Nada de mais certo mais para mais ideia tão olimpicamente saudável. Mas isso não significa termos de aceitar num meio regrado, com regras e códigos próprios de cultura e tradição, algo que não se encaixe nesse mesmo perfil e pior, que passe para fora junto daqueles a quem dizemos "festival de Tunas" com o beneplácito e cumplicidade de quem é Tuno. Não se misture portanto a liberdade de se poder existir com o direito a se imiscuir onde não se cabe por anti-natural. Os U2 por serem quem são não podem por isso estar num festival exclusivamente de tunas. Se forem, deixa então de ser...um festival de tunas. É ESSA a questão aqui.

Quanto ao resto - e agora sim falando somente do teu festival - desejo os melhores sucessos e que tudo corra como é apanágio do mesmo, na sua arte de bem receber e tratar as pessoas, nunca isso esteve em questão e que bem recebido aí fui, reforço essa ideia. Se porventura cometeste um erro como questionas no teu post, verás mais tarde porque claramente o que se faz hoje colherá frutos amanhã ou não. Não me cabe a mim fazer esse balanço, antes porventura a ti.

Repito para finalizar: Esta reflexão nem sequer é um inédito aqui, frequentemente abordo a questão central: Festivais de Tunas são Festivais de Tunas; se têm outras coisas que não Tunas então são Festivais de música, saraus culturais, recitas, etc etc etc. É esta a questão, a única aliás.

Forte abraço e boa sorte para o Estudantino!!!!!!
Só mais um pequeno apontamento que me esqueci e que entendo ser relevante.

Nos dias de hoje onde a coerência é um valor fora de moda, antiquado, quase ao mesmo patamar da lepra, ou seja, a evitar até, num meio onde tudo parece funcionar com base na palmadinha nas costas, quase que me atrevo a dizer Bem Aventurados sejam os que dizem o que o que pensam sem que sejam mal entendidos por isso. Manter a coerência e ser-se frontal entre amigos é um Hino à amizade e que nem sequer deve por isso mesmo ser posta em causa. Amizade esta que quanto a mim, é a única que interessa e que conheço.

Abraços!
J.Pierre Silva disse…
Subscrevo por inteiro a tua reflexão e respectivos ecos que deste à mesma.

A actual cultura do "Nim" é que cria espaço a precedentes que vão tolhendo o conceito e respeito que a Tuna (no geral) se deve a si mesma.

Querer distinguir alhos de bogalhos não é um exercício bélico ou de quezília pessoal/institucional, mas tão só de coerência, pois que a idoneidade e legitimidade se obtêm pelo pacífico e respeitoso colocar das coisas no seu devido lugar.

Esta auto-regulação inter-pares, começa por cada um, em particular, e por cada tuna como grupo.

Não podemos é, como dizia um filósofo, quando o povo está divorciado do governo que governa mal, achar natural que se mude o povo mantendo o governo em funções.

Nada muda se não começarmos pela nossa casa, já que ela é o espelho do que somos!
Ilustre, a máxima do "na minha casa convido quem eu quiser" aplica-se aqui muito bem. As pessoas, as organizações, convidam quem bem eles entenderem e quiserem. Está bem? Está mal?... Pah... Cada um que arque com as consequências das suas decisões. No fundo, no final, é o público quem manda, é o povo quem mais ordena... n é?... Então, como dizia Nero, antes de pegar fogo a Roma, "O povo quer circo? Então dê-se circo ao povo!"

Abraços!
Ilustres, Dark;

Nem tãopouco foi minha intenção dizer a quem quer que seja quem deve ou não deve convidar para sua casa, não se depreende desta reflexão em parte alguma um resquício que seja de âmbito sugestivo. A liberdade, precisamente, de cada um poder convidar quem quer que seja para jantar em sua casa nunca esteve em causa. Justamente por isso, por essa liberdade existir é que não deverá ela colidir também com a liberdade dos convidados para um pretenso jantar não acharem graça ao facto de serem afinal convidados para uma chá das cinco quando anunciado um jantar. Ou com a liberdade de saberes previamente que os restantes convivas são X, Y e H e aparecerem depois o Z, o G e o J. A liberdade é responsável, senão, deixa de ser liberdade e passa a ser libertinagem ou mesmo logro, engano e por aí fora.

Convida que pode, vai quem quer de boa fé. Quando a boa fé afinal não se verifica, então há que reflectir. É na natureza das coisas que se centra este debate. Se te convidarem para um espectáculo de rock e te vires "apanhado" num concerto do Mikael Carreira provavelmente irás pedir o dinheiro do bilhete de volta. E será por essa razão que esta "Aventura" surgiu. A começar pela incongruência de quem diz que vai fazer X e apresenta Y.

Abraços!