A Aventura Geracional

Fundar uma Tuna tem, hoje em dia, contornos bem distintos do que era antes, já se sabe e nada de novo aqui também. Se antes fundar um grupo com esta natureza e características tinha os seus "quês", "senãos" e "por que não(s)?", hoje em dia as coisas neste capítulo serão, porventura, algo distintas, até porque os tempos evoluem e as vontades - ou falta delas - também. Nada de novo, portanto.

Em todo o caso, os bons alicerçes numa Tuna serão sempre fundamentais na prossecução futura da mesma e direi até no seu extender ao longo dos tempos, para lá até dos mesmos e das vontades (ou falta delas). Fundar como deve ser uma Tuna, nesse mesmo momento, não corresponde sequer a um pensamento futuro sólido que vá para além da mera boa intenção - ninguém funda uma Tuna pensando que a mesma dificilmente irá vingar, obviamente. Mas a boa intenção não chega de facto para assegurar o futuro da Tuna enquanto tal, nem a boa musica, nem os prémios, nem coisa alguma em separado. Apenas entre aspas a conjugação de vários factores, entre os quais alguma dose de sorte e auto-sofrimento, é que assegurarão porventura a extensão do grupo no tempo e no espaço, com mais ou menos dificuldade mas assegurando. Aliado a estes factores um importantíssimo: uma solidez a nivel humano inabalável por parte de quem a funda em determinada altura, garante de uma solidez de valores, portanto.

No historial e por exemplo da Tuna de Economicas de Sevilha encontramos esta pérola: "Hasta el año actual 2007 podemos decir que esta tuna tiene una antigüedad de 34 años, desapareciendo durante tres cursos 79/80, 80/81, 81/82. En el curso 82/83 concretamente el 11 de Marzo de 1983 se vuelve a refundar con algunos antiguos tunos de la primitiva. Por este motivo, en el curso 2007/2008 esta tuna cumple XXV años ininterrumpidos." (fim de citação)

O que se pode deduzir e usando este caso em concreto? Muitas coisas certamente e desde logo uma continuidade que mormente tempos dificeis foi nesses mesmos momentos resgatar a sua origem, as suas raízes, para renascer e poder, assim, dar continuidade com novas gentes a uma Tuna e no caso. Resgatar o essencial, o primordial, a base, os alicerçes ao fim e ao cabo, o que só foi possivel seguramente dada a solidez das mesmas, das convicções, dos relacionamentos humanos que ficam e perduram até para lá da Tuna. Foi assim, se lerem bem acima, que a Tuna em questão se re-inventou entre aspas a si mesma, se sucedeu a si mesma, resgatando valores passados com vista a valores futuros, recuperando pessoas de ontem com vista a dar espaço a outras novas pessoas, recuperando a "sua" Tuna com vista a entregá-la devidamente a novos Tunos. E , ao fim e ao cabo, foi graças a essa linha de actuação que a mesma hoje existe e com sucesso, vingando, vivendo, tunando.

Será que exemplos como este acima existem de facto em Portugal? Ou será que o constante "generation gap" alimentado sobretudo pelas actuais gerações - incapazes de reconhecer mérito e valor de facto às anteriores, empoleirados hoje que estão numa espécie de "delírio musicado" que carbura à custa de festivais - será um claro factor de ruptura com a própria noção de Tuna?

Não será curioso constatar que hoje em dia se escarnece dos Tunos de antes não percebendo quem o faz que só o pode fazer nessa qualidade porque precisamente Tunos antes existiram e que lhes legaram o mais importante, a Tuna? E porque se comportam assim, hoje, os - ditos - Tunos?

Tunos. Hoje também os há, claro. Mas tão poucos o são realmente...

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