A Aventura das grandes falácias organizativas.

Sempre entendi, de forma convicta e por experiência pessoal, que organizar um evento de carácter público e cultural, como é um certame de tunas, por exemplo, é a mesma coisa que organizar um casamento; a cerimónia tem de ser tão boa como o “copo d´água”. Esta máxima é, para mim, uma espécie de “farol” quando analiso pessoalmente uma organização de um evento, seja ele qual for e, no caso em apreço, um certame ou encontro de Tunas.

Deixo aqui umas “luzes” sobre o que modestamente entendo ser importante nesta matéria. Antes e em jeito de intróito, dizer que o conceito organizativo de certames/eventos de Tunas irá, na minha opinião, mudar também ele, adaptando-se a novas realidades existentes e que resultam da inevitável adaptação aos tempos; alguns irão desaparecer, outros remodelar-se-ão quer na sua organização, quer no seu conceito. Outros surgirão – poucos – mas em moldes algo distintos dos habitualmente existentes e outros, ainda, muito provavelmente irão adoptar o conceito organizativo espanhol de certame que nos indica que cada elemento participante custeia - em parte - a sua própria participação no evento.

Entretanto, ficam algumas “luzes” daquilo que eu entendo dever-se sempre ter em consideração na organização de um evento, dentro da tal máxima acima referida.

1º) Noção de grande panorâmica: É importante que quem organiza entenda que o está a fazer desde o dia em que convida e que a mesma finda com a chegada dos seus convidados a casa, satisfeitos pelo acolhimento recebido. A noção errada de que “é desde que chegam até irem embora que interessa” é, por isso mesmo, errada. Pela mesma ordem de razão mais o é quando se resume o evento à “cerimónia”, vulgo, 25 minutos de competição.

2º) “A Síndrome do Walkie-Talkie”; Deveria ser alvo de aturado e intenso estudo por parte de alunos de Psicologia, a meu ver. A ideia que se passa de “gente organizada” não passa disso mesmo, de uma ideia; A eficiência é muito mais importante quer para quem participa, quer para quem assiste. Deveria ser muito mais ainda para quem organiza.

3º) A garantia prévia das condições; todos sabemos que, por vezes, em cima do evento algo falha. Mas quem organiza tem de prever essas falhas também e ter engenho e arte para assim as colmatar. Prevenir em vez de remediar não é de todo despiciente na organização de um evento que se quer de qualidade. Remediar é por via de regra, sinónimo de “desenrasca”, com toda a imagem negativa que tal acarreta. A exigência organizativa deve-se colocar não só a quem participa nos eventos mas antes a quem os organiza.

4º) A Qualidade como palavra omnipresente; tomemos como exemplo a alimentação de um determinado certame. Parece óbvio que será preferível sandes bem feitas, de qualidade, com bom aspecto, etc do que um mau arroz de marisco, a saber a nada e por tal, sem qualidade. A qualidade pode e deve existir em eventos mais modestos nas suas dimensões e/ou projecção; por isso mesmo é que um suposto “grande evento” que não aposte na qualidade arrisca-se a perder esse estatuto de forma rápida e fácil. Isto aplica-se a todos os itens organizativos de um evento.

5º) A “miragem” ou ilusão de óptica; Deve estar na mente de todas as organizações que todo o evento reputado é-o até ao dia em que deixa de o ser. A reputação ganha-se mas pressupõe a sua manutenção, caso oposto, perde-se rapidamente o que com muito esforço demorou a construir.

6º) A noção de espectáculo - ou a falta dela; A maioria dos eventos de tunas em Portugal - e não só - não possuem qualquer noção de ritmo cénico, limitando-se em muitos casos a deixar as coisas acontecerem de uma forma um pouco caótica e fruto da “experiência”; A produção de palco é fundamental neste contexto e a sua preparação prévia marca, de forma indelével para o público, a qualidade do espectáculo a que estão a assistir.

7º) Saber receber; Esta ideia deve ser uma constante ao longo do decorrer do evento e pressupõe a omnipresença de quem organiza. Todos os actos do evento devem ter a mesma atenção e dedicação quer por parte de quem participa mas mais ainda por parte de quem promove.

8º) A Síndrome do “já está!”. Esta noção - falsa – de que basta estar bem num ou em dois momentos do evento, deixando os restantes aspectos maltratados ou negligenciados é meio caminho andando para um carimbo de “chumbado”.

Estes são, em suma, algumas noções gerais que pessoalmente entendo serem fundamentais quando se parte para uma aventura organizativa.

Por força do atrás dito, sou forçado a concluir que – e face ao actual panorama – muita coisa há a mudar e que, por outro lado, existe alguma “inflação” de determinados eventos, bem como em sentido oposto, alguma “deflação” de outros.

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