A Aventura dos Mitos tunantes

Por resultar de observação empírica e fruto de alguns – longos - anos nesta Arte, permitam-me que coloque à disposição de Vossas Senhorias aquilo que considero ser os 10 maiores “mitos” (tabus, inverdades, preconceitos, etc.) que assolam o fenómeno tunante nacional. Não é um estudo sociológico – não é essa a minha formação e muito menos intenção – mas é certamente algo que empiricamente se me coloca:


1º) O Mito da Tuna “Imaculada

Este mito assenta no pressuposto que, chegado a determinado patamar tacitamente aceite pela comunidade tunante – supostamente – de qualidade musical, nada nem ninguém poderá ousar sequer colocar em causa qualquer acto, pensamento nem omissão da sua Tuna. Tudo o que se faça ou não se faça é simplesmente correcto e não é passível de observações por parte de terceiros, sequer. São aqueles que nada admitem porque nunca erram, fazendo lembrar o efeito do “Tide” em lençóis brancos.


2º) "O meu festival é o melhor !!!"

Deriva do 1º Mito necessariamente. Como dito antes, se nada do que fazem está mal, consequentemente, o festival que organizam é um deslumbramento, onde nada falha porque "milimetricamente" organizado, onde tudo surge no seu sitio como se tivessem uma lâmpada de Aladino. Regra geral, este mito deriva para um ambiente que nos indica algo do género "este festival é unico, não admitimos sequer que digam a mais pequena coisa dele - em desfavor, claro... - porque se dizem, é má vontade, é porque querem problemas, é porque isto e aquilo..."


3º) " Virtudes privadas e vicios públicos".

Este mito indica que há quem assente a sua estada neste mundo tunante prosseguindo uma postura do género " o que digo aos outros é sempre bonito mas o que dizemos desses outros entre nós é sempre feio", ou seja, fora de portas diz-se tudo de bom sobre terceiros e com uma palmadinha nas costas sempre circunstancial mas findas as festividades e a caminho de casa caem na tal "virtude privada" tão tipica..


4º) " O Jurado é cego, surdo mas não é mudo..."

Deriva do 1º mito em algumas ocasiões mas também surge de forma isolada. Baseia-se numa premissa intocável que se resume à frase "fomos roubados!" ou então na versão softcore " o Jurí é surdo e/ou cego!", esquecendo-se que só não é o Juri mudo porque dá votações sobre o que viu e ouviu. Os mais fervorosos adeptos deste mito advogam que "isto não é gente que perceba de tunas" mas aí apontam o dedo ao destinatário errado sendo o correcto as organizações, não com o uso dos preceitos derramados no 1º mito mas antes sim remetendo-se a um prudente silêncio e posterior escolha futura mais criteriosa dos convites que se aceitam e recusam.


5º) O Mito semântico.

Este resulta do 1º e 2ºs mitos acima e comprovado largamente pelo 3º. basicamente resulta na lógica clara de que o nome da sua Tuna e certame são por si só garante de proveitos futuros. Este mito confunde claramente prestígio e respeito com prémios e distinções, sendo que os mais fervorosos adeptos deste mito não conseguem sequer perceber a distinção entre estas noções. Por consequência, ficam os seus adeptos espantados 1º e indignados depois (ver mitos nº 1, 2 e 3 e conjuge-os s.f.f.) quando surge alguém - Tuna - novo a fazer coisas bonitas.


6º) O Mito "Só interessa tocar bem".

Este mito resulta do 1º, sustenta-se no 3º e 5º e muitas vezes é indirecta - e infelizmente - corroborado pelo 4º mito. Basicamente refere-nos que o que interessa será tocar bem e nada mais, sendo que trajar bem não conta, estar nos actos do evento também não, conviver muito menos e basta 25 minutos no palco e está feito. Este mito só poderá desaparecer quando o 4º mito - e através dos responsáveis de cada certame - entenderem que um festival de Tunas não é somente um festival de música, por exemplo.


7º) O Mito Winston Churchill: Dividir para reinar.

Este mito é dos mais fascinantes. Consiste na lógica clara que, após a verificação do 1º, 2º, 3º e 5º mitos estão reunidas as condições indispensáveis para que efective este 7º mito. Sumariamente, cria-se uma espécie de "clube restrito" de ligações mas sempre assentes num pretenso convívio para depois se ir gerindo a sua casa em função das casas dos outros. Este mito não deve contudo ser confundido com conversas de amigos pois nestas não é ultrapassada a amizade nem a mesma é misturada com relações institucionais. Em suma, a verdade de hoje é a mentira de amanhã, conceito herdado da nossa classe política.


8º) O Mito do apadrinhamento..

Este mito reforça o 1º - um chamado sinal exterior de riqueza. Colecciona-se apadrinhamentos em doses industriais de forma quase falaciosa - e o tempo fará essa confirmação ou não - deixando muitas vezes de fora o verdadeiro motivo, a verdadeira lógica de tais momentos tão especiais. Naturalmente haverá casos em que tais relacionamentos institucionais se processam de forma natural, sincera e correcta. Mas este mito tem ajudado alguns a não morrer afogados.


9º) O Mito do irmanamento...

Outro que reforça o 1º, usa o 2º e é uma derivação do 8º, podendo ter uma aplicação nefasta quando conjugado com o mito nº 4. Muitas vezes este mito é visto como uma espécie de "lança em África" para o futuro e não visto o irmanamento como deveria ser visto. É também este mito demasiadamente óbvio aos olhos dos mais atentos, tal como o 8º o é.


10º) O Mito da politiquisse...

É o último e quiçá o mais importante de todos. Abarca todos os anteriores mitos, em conjunto ou separado, aos pares, trios e afins, consoante as circunstâncias, tempos e lugares. Por ser demasiadamente óbvio escuso de o esmiuçar.


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