A Aventura do renascer...

Los Sabandeños foram e são assunto recorrente neste blog, juntamente com os grupos de maior referência de carácter plectro/vocal existentes e que, pelas suas especificidades, mais se aproximam do Negro Magistério. Já algumas "aventuras" lhes foram dedicadas e esta será apenas mais uma dessas abordagens.

Passadas 48 horas do seu último espectáculo - e à hora a que escrevo estas linhas está o grupo em Pamplona - estarei já porventura em condições de fazer o meu balanço pessoal sobre o momento do grupo após o período conturbado por que passou, com a saída de vários elementos e a entrada de outros tantos, somando a isso uma completa "revolução" na direcção artística de Los Sabandeños.

1º dado curioso: Pela 1ª vez não consegui encontrar qualquer CD do grupo à venda em superficies comerciais, ao que não será alheia a mudança que houve de editora do grupo, com toda a probabilidade, fazendo fé nas palavras dos elementos do mesmo grupo. Antes se seria algo fácil encontrar os CD´s do grupo canário, agora afigura-se dificil mesmo em Espanha continental encontrar os mais recentes trabalhos editados. Resta saber se essa dificuldade será torneada em breve, já que em Portugal é ainda mais dificil encontrar CD´s mesmo antigos.

2º dado: Los Sabandeños têm uma nova sonoridade, muito própria certamente mas que de igual forma marca quem os escuta e vê, tendo num espaço de 3 anos apenas mudado nos seus espectáculos ao vivo pelo menos 70 % do reportório apresentado, fruto obviamente das vicissitudes de antes e das de hoje que "embrulham" o grupo de La Laguna. Tal fez-se notar em Pontevedra de forma clara e ainda mais eloquente, mormente a partilha de palco com Maria Dolores Pradera que seguramente, influí para a escolha dos temas a apresentar de forma a que o grupo e a diva espanhola possam oferecer alguma harmonia - dificil no caso em concreto como se constatou em Pontevedra.

Para lá das novas incorporações - que começam agora a dar frutos bem audiveis e visiveis - a sonoridade do grupo revela-se bastante consistente e profissional, dando apenas a espaços a "impressão" de estarmos perante o grupo liderado durante longos anos a nivel artístico por Hector Gonzalez, hoje no grupo Atlantes e um dos dissidentes do ano transacto. É um som para lá de agradável, altamente ensaiado e profundamente trabalhado em alguns temas a que não estava habituado a escutar neste grupo, como ficou claro no tema "Malagueña Salerosa" , muito conhecido do mundo tunante e cuja versão apresentada em Pontevedra é qualquer coisa de muito além do que seria até capaz de imaginar para um tema como este. Benito Cabrera começa agora a ver os frutos do seu labor musical e o grupo corresponde na perfeição, ao nivel de concertos como a que já assisti em La Coruña (1996) e Cedeira (2005) e isto só para citar apenas dois a que pude assistir. Em Cedeira notou-se mais à vontade e consequente escolha de repertório e apresentação mais "flexivel" à fruição auditiva, em Pontevedra assistiu-se a um recital pleno de pormenores - ou "pormaiores" - a nivel dos arranjos, alguns deles perfeitamente inéditos e que mostram trabalho continuado e sério por parte da formação actual de Los Sabandeños.

Em suma, Los Sabandeños a um nivel acima do normal até face ao nome e trajectória que detêm, o que pode ser sempre contrariado por aqueles mais fieís ao som de Hector, Mena e restantes dissidentes mas que apenas espelha os novos caminhos trilhados hoje que, quanto a mim, são plenos de qualidade e inovação, em resumo, de trabalho sério ao nivel do estatuto que o grupo detêm. Curioso ouvir o grupo cantar o conhecido tema cubano "Lagrimas Negras" antes e agora, que mostra um passo mais além de forma definitiva, por exemplo.

O que resta de sempre? Elfidio Alonso e os seus introítos aos temas sempre pertinentes e bem explicados, a postura em palco de todos os naipes e instrumentos, a manta branca e o seu traje, bem como a incomensurável qualidade interpretativa que Benito Cabrera apenas teve o dom de a "adaptar" a seu gosto, provando que o grupo na viragem das 4 décadas de existência está para durar pelo menos outros tantos: Juventude a rodos nas suas fileiras, talento q.b. e génio musical sempre patentes, com a apresentação de novos temas até (nomeadamente duas novas Zambas argentinas lindíssimas), coisa que não se via já há alguns anos nos espectáculos do grupo.

Passada a tempestade veio a bonança e a confirmação de que ganha a musica Canária: temos Los Sabandeños novamente na rota do excelente e dos que saíram do grupo rezam as crónicas que a qualidade também os tem acompanhado sobremaneira (Atlantes, Balango, etc). Ganha com isso o aficionado.


Post Scriptum: Visitei pela 4ª ou 5ª vez a Casa de la Troya em Santiago. E a presença de Tunas portuguesas em tão sublime templo tunante continua quase inexistente...

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