A Aventura do Comezinho Tunante...

Um pouco no seguimento do que o meu amigo J.Pierre escreveu aqui em tempos, surgiu-me mandar umas larachas sobre esta matéria não propriamente sobre o mesmo prisma mas por outros mais, digamos, profundos, mais na génese da problemática em questão.

A 1ª conclusão - à laia de introíto - que retiro é efectivamente uma inevitabilidade: Já não bastam as ciclicas questiunculas comezinhas - ou não... - intra comunidade Tunante para nos "divertirmos" todos e ainda temos como extra que "levar" com questões comezinhas - ou não... - de fora da comunidade Tunante para dentro desta. Ou seja, por que razão é que p.ex. uma Junta de Freguesia se acha no direito de organizar um festival de Tunas e porque, na mesma razão de lógica, Tuna alguma não se achará no direito de organizar uma Assembleia de Freguesia, p.ex.? Está certo, decorre esta ultima da Lei Geral, efectivamente. Ora cá está uma coisa que a comunidade Tunante não tem, por génese até, uma Lei Tunante Geral (ou por outra, ter tem, de Direito Consuetudinário, mas adiante...).

Ora, tem esta questão a ver essencialmente com o que somos enquanto cultura tradicional do que propriamente com outra coisa qualquer, aparentemente. Todos nós sabemos que de Juntas de Freguesia a Câmaras Municipais, passando pelos comerciantes da localidade e terminando quiçá na Paróquia ou Bombeiros locais, já para não falar nos "carolas" que um dia até foram estudantes universitários e vai daí, untados pelos santos óleos académico-tunantes do saudosismo estudantil (ahhhh, Saudade!!!), a tudo já assistimos como "organizadores" de Festivais (se fosse somente como deveria ser de espectáculos musicais, encontros como dizemos, seria bem menos desagradável como regra geral o é...).

Torna-se clarividente que, se uma Tuna não está vocacionada para organizar sessões de plenário Camarário ou de Freguesia, bem como simulacros de incêndio ou até mesmo aulas de catequese, não me parece de todo, passe o acima dito, que o contrário seja sequer plausivel. O problema é que é, a prática mostra isso mesmo, por culpa nossa, de todos, claramente. E essa culpa passa pela tal "espontaneidade" a que me vou referindo ciclicamente no "Aventuras", que nos leva, na flor da mocidade, a ser uma espécie de "maria-vai-com-todos" e todos querem ter lá a formosa, alegre e desprocupada (e barata, também, note-se) Tuna Universitária. E como todos sabem também, à mulher de Cesar não basta parecer, tem de ser, coisa que muitas vezes, a troco de um prato de comida e de uns garrafões, não somos e em alguns casos, nem sequer parecemos, note-se novamente.

Todo este cenário facilita o "paraquedista-que-se-julga-expert-em-Tunas-e-aí-de-quem-disser-o-contrário", figura mutante e mutável, que pode surgir quer na pêle de um vogal de Assembleia de Freguesia "expressamente do pelouro da cultura" enviado desde os ceús mais celestiais, quer na pêle do entusiasta de Tunas que julgando ter visto muitas e muitos já tem o Mestrado que lhe confere o direito "inalienável" de mandar umas "bojardas" pela boca fora em tons de sapiência tunante. Mais uma vez, culpa nossa, que não só os "aturamos" como ainda por cima lhes vamos dando a pretensão de enfiarem a colherada onde não são manifestamente chamados. É a tal "esponteneidade" mas em versão foleira, fraca, má, chunga.

Regra geral, com estes paraquedistas quem paga a factura são as Tunas Universitárias, que para além de terem de lidar com a sua realidade ainda têm de levar com a pretensa realidade que os outros de fora julgam deter quando nada sabem sobre a matéria, da mesma forma que uma Tuna nada sabe sobre as tais Assembleias de Freguesia. Isto acontece - esta permissividade da nossa parte - porque somos como somos, logo, vamos permitindo que quem nada tem a ver connosco vá "esticando a corda" ao ponto de nas suas cabecinhas acharem que já são parte de algo que nunca foram nem são (nunca se saberá se um dia serão...). Esta mania bem portuguesa de transformar um bom jogador de futebol num péssimo cantor já chegou às Tunas Universitárias...

E é aqui que reside o 2º factor - a par da nossa espontaneidade e cultura - de instabilidade externa criada por quem nada tem a ver com o meio tunante e que origina, regra geral, uma de duas situações: ou uma imensa risota pelo ridiculo com que se cobrem (menos mal, há que haver alegria e boa disposição...) ou então mau resultado de facto quando se põem a querer fazer coisas para as quais não possuem conhecimento, credibilidade e vocação e mais diria, autorização moral ou material para tal. E se isto acontece, a culpa é nossa, das Tunas Universitárias. Se quem invade o nosso espaço o faz com cumplicidade nossa, então a culpa já é nossa, logo, quem o permite não se pode queixar: colhe antes o que semeou.

Daí esta "Aventura". Regra geral quem nada tem a ver connosco ao querer "invadir" o nosso espaço com a nossa permissão, logo, cumplicidade, está a trazer para o nosso seio por via de regra o comezinho, a trica e a nica, o diz-que-disse, o feito à martelada julgando que está a fazer direito, o organizador de festivais de tunas "desde os tempos da Guerra dos Boers" e por aí adiante. E quando isso acontece - como se já não tivessemos nós, no nosso seio, as nossas coisas para nos "entretermos" - está obviamente o caldo entornadíssimo, trazendo com ele mais uma boa dose de algo que dispensamos todos - porque o que temos, nosso, que basta.

Bem sei que historicamente tivemos alguns que nunca tendo sido estudantes universitários sequer deram um grande contributo à cultura estudantil: Cito Augusto Hilário ou ainda Loubet Bravo, por exemplo. Contudo, excepções à regra foram e não consta mais recentemente que tais figuras tivessem tido sucessores à altura pelo menos. O que nos mostram os factos, a realidade, é que quando deixamos a quem não é deste meio tunante coisas que são do nosso fôro colectivo enquanto cultura estudantil, regra geral temos granel, temos "festa", temos confusão. Pode não ser por mal, pode ser até com a melhor das intenções. Mas uma Tuna bem intencionada continua a não poder organizar uma Assembleia de Freguesia somente porque lhe apetece.

Está, pois, por vários factos que se vão sucedendo, comprovado que quem é de "fora" não pode "rachar lenha". Se o fizer, das três uma: ou é mal intencionado, ou é demasiadamente convencido do facto de ser demasiadamente bem intencionado ou então é porque as Tunas deixam. A nossa respeitabilidade geral enquanto cultura estudantil assim o obriga, temos de nos dar ao respeito para ser respeitados. Enquanto deixarmos "paraquedistas" emiscuirem-se em assuntos nossos vamos continuar nesta "treta" inevitavelmente. Se nos assuntos internos de uma Tuna os seus caloiros não opinam sequer sobre os mesmos não se percebe esta permissividade para com estranhos. Com os resultados que todos nós sabemos.

Deixemos, portanto, o comezinho tunante dos outros para...os outros. O andebol universitário é igualmente muito interessante mas como não sou jogador de andebol não pio sequer, não sei nada sobre isso e limito-me a escutar quem saiba. Nas Tunas é a mesma coisa. Deveria ser. Se não é, não se queixem depois.

Comentários

DiskMan Blog disse…
PARABÉNS!