A Aventura da Prova dos Nove...

Gostava nesta ocasião de fazer uma declaração, um statement, muito pessoal, note-se.

No passado Sábado ocorreu-me algo que, em muitos anos de Tuna, francamente não me recordo de ter ocorrido. Mas como em tudo na vida, há sempre uma primeira vez para tudo e eu não sou - nem quero! - ser uma excepção à condição humana, que nos diz que o erro faz parte da mesma condição.

Ao solar o "meu" primeiro tema - de três que me couberam em sorte - a dada quadra da 2ª estrofe pura e simplesmente "bloqueio"e troco a dita cuja, cantando outra rima que não a correcta, embora do mesmo tema (vá lá, podia ter-me dado para cantar um verso de uma qualquer ramaldeira...), o que não me serviu de grande consolo, note-se: É que o tema em causa, dos três que cantei nessa actuação, é precisamente aquele onde nunca na vida poderia errar e "só" por um motivo, é que é cantado em simultâneo por dois solistas, o que faz com que qualquer falha fique imediatamente a nú sem piedade nem misericórdia. E foi precisamente o caso, eu para um lado e o Manel para outro (ele certo, eu errado)....

Assumindo a minha condição humana, assumi o erro, envergonhadíssimo como calcularão, logo após a saída de palco, pedindo desculpa a todos os Tunos do meu grémio que, em abono da verdade, foram uns "porreiros" ao não me baterem com um gato morto só parando caso o mesmo miasse. Até aqui, pese o caso em questão, ainda vamos indo, pois resolvi exorcizar o erro em causa gozando com a situação - a cantar com os meus companheiros nos "bastidores" e imitando a dita cuja troca/bloqueio/whatever....

Mas o que vos quero contar é o que aí vêm - e na sequência do acima. Chegados à entrega de prémios eís que o Exmº Jurado entrega o respectivo prémio....sim, adivinhem lá, vá (um rufo de tambor......) pois adivinharam, nem mais nem menos que à única Tuna presente que nunca poderia ser indicada como a que tinha o melhor solista da noite: a "minha" Tuna, pese os restantes solistas terem estado à altura e sem ataques momentâneos de Alzheimer....(sem desrespeito a quem sofre desta tão terrivel doença, note-se).

Há coisas que, de tão óbvias, nem precisam de constar de qualquer critério avaliativo e no caso, para o apartado de Solista, ou para outro apartado qualquer. Não é suposto sequer colocar nos critérios quanto ao Solista algo como "acertar na letra é obrigatório" por óbvio e natural. Como não é suposto noutros apartados avaliar-se coisas que nada têm a ver com o que é de facto para avaliar, dando depois nisto que vos relato.

A única diferença é que o conto na 1ª pessoa e não tenho qualquer problema em o fazer e muito menos assumir, porque pura e simplesmente não merecemos a distinção que nos foi dada, ponto período. Por mim, nem teria recebido a mesma, recusando-a liminarmente. Aliás, para todos os efeitos sei que não mereço a distinção por evidente, demasiado evidente. O melhor solista da noite, de qualquer noite de Tunas, não se pode enganar na letra. Ponto final. Eu enganei-me, forte e feio....

Para se poder exigir seriedade nestas coisas há que ser sério. E continuam a existir coisas neste nosso pequeno grande mundo que de sérias, como acima de percebe, nada têm. Cada um que conclua -e acima de tudo perceba - como e porque acontecem certas coisas...


Post Scriptum: Ao que me constou, atribui o Jurado o prémio porque e cito "apresentamos vários solistas", concluíndo-se assim que o critério para a sua entrega foi a quantidade de solistas (critério que não constava dos critérios previamente fornecidos pela Organização....). Sem comentários excepto um: pela montra já se percebe o armazém...

Comentários

Oh meus deus...

Oh homem larga lá isso da mão...
Assim até podem fazer outra versão :)
Na verdade, e para quem estava nas "bancadas", quase não se percebeu... aliás muita gente mesmo não deu conta... só mesmo quem já conhece a música de trás pa frente (tipo eu :)...)O som tb não era grande coisa e o Manel quase não se ouvia, pelo que a falha não foi tão notória! E quanto aos prémios... nada a dizer!!!
Gostei mais da explicação da jurada que disse: "epah voces cantam e tocam muito bem... sem dúvida fantásticos... falta-vos é animação em palco... mais palhaçadas"...

Hummm... ok.

Palhaçadas e animação?

Hummm... ok.

Passados tantos anos de tuna já sei o que sempre me faltou... ser um palhaço animado! É isso :)
J.Pierre Silva disse…
Louvo a tua frontal honestidade, que não me admira em ti, dada a tua verticalidade e idoneidade, mas que serve de bom exemplo daquilo que deveria merecer atenção da parte de toda a comunidade tunante.

Sucedeu o mesmo à minha tuna há uns valentes anos atrás, ao recebermos o prémio de Melhor Instrumental (Festival de Esmoriz), quando não tínhasmo sapresentado nenhum (o que ainda é pior qu eo caos dos solistas que se enganam).
Recebemos o prémio numa atitude de puro gozo (achámos melhor do que criar celeuma negando o mesmo, agradecendo irónica e comicamente, ao micro, termos sido agraciados por aquilo que não tínhamos feito.

Quem ficou com um grande melão foi o júri e a organização ao ser, assim, ridicularizado.

Seja como for, o teu artigo é sintomático e ilustrativo de muitas outras situações imilares que ocorrem continuamente.
Mas apercebi-me eu, Carolina. E isso basta-me.

Bjokas!
Caro Pena, neste caso ilustra muito mais.

Abraços!
Unknown disse…
Como eu te compreendo...
Só sabe o quanto é amargo o gosto dessas situações, quem dá a cara e sola.

Pior do que nos enganarmos na letra, que muitas das vezes passa despercebido, é não estar nas melhores condições para fazer um solo. Ou seja febril e rouco, como aconteceu vocês sabem muito bem onde ;)

Sair do palco com a sensação que poderia ter sido muito melhor a nossa prestação é terrível, sobretudo quando temos a responsabilidade de representar a nossa tuna. Hélas...

Abraço da Senhora da Beira
JModesto
Caro Yacaré, como sabes tenho por hábito não comentar prémios e apenas escrevi esta "Aventura" por força da coerência entre palavras e actos, embora saiba que coisa rara nos dias que correm.

Agradeço desde já a acolhida da organização, sempre preocupada com os seus convidados, proporcionando um fim de semana em festa a todos os presentes em Setubal.

Quanto ao resto, que comente quem quiser, quem lá esteve sabe o que viu e ouviu, seguramente!

Bom Natal a todos!!!!!!!!

Abraços!
Marta disse…
Ao ler as tuas palavras, não pude deixar de estabelecer uma comparação: quantas vezes um porta-estandarte deixa cair o estandarte, e ganha porque na realidade foi o melhor? Quantas vezes uma pandeireta foge de mão, e se ganha o prémio porque realmente o resto é irrepreensível?
Errar é humano, e não tenho duvida que mereceste(s) esse prémio!!
Quanto à falta de palhaçadas... em comentários possíveis!! Podia comentar prémios se tivesse estado presente, e poderia também especular, mas não vale a pena. Siga!
Beijinhos
Caro Modesto:

Às vezes lá aparece uma coisa destas para nos relembrar o quão relativas podem ser as coisas. E até, visto a frio, é caso para dizer que há momentos que nos fazem relativizar as coisas de facto, quase a lembrar-nos a nossa humilde condição de amadores que, afinal, somos todos. Se pelo menos a minha troca de letra teve algum lado bom, ora aí está, foi precisamente esse.

Forte abraço, Modesto, de solista para solista!
Marta;

Não deixas de ter razão, certamente, vistas as coisas de forma simpática até. Mas como bem sabes, primo pela coerência nestas matérias, daí precisamente o meu statement, nada mais nem menos que isso. Gostava sim que mais statement´s destes existissem quando caem estandartes, pandeiretas e afins, lá isso gostava. Mas eu não mereci, objectivamente. Os dois solistas restantes sim, mereceram, eu não. E o risco nestas circunstâncias é da Tuna toda, não é meu, do outro ou do aqueloutro. Os prémios são dados à Tuna e não a um solista, a um pandeireta ou a um porta-estandarte. E é preciso assumir-se essa responsabilidade antes das coisas acontecerem, mesmo que só um - eu, no caso - tenha borrado a escrita e me tenha atravessado por ela, foi a Tuna que ganhou - mal - algo que nunca deveria ter ganho. Daí o gato morto a bater-me e não ao Manel ou ao Rui....

Tenho desde sempre uma cultura de responsabilização nestas coisas. Ganhe-se ou perca-se, é preciso perceber-se porque acontece e essencialmente perceber-se uma coisa: é mais dificil saber-se ganhar do que saber-se perder, por incrivel que isto possa parecer. A culpa foi minha mas isso já lá vai. O que interessa reter é que, por mim e pelo menos, não merecia a dita cuja distinção, de todo. Há prémios que,quando se ganham de certa "forma" não têm qualquer valor, relevância ou gosto. Este foi um desses casos. Quiçá a malta não esteja habituada a atravessar-se assim, quiçá. Mas eu não consigo entender a meritocracia de outro modo; ou se tem ou não se tem, coisa sempre efêmera, certamente. Hoje foi assim, amanhã melhores dias virão. Mas a única forma de levar as pessoas a cair na "real" é, quando isto acontece, dizer o que disse e não "assobiar para o lado" e achar que, mesmo trocando a letra descaradamente - pior ainda, perfeitamente sóbrio...loooll! - fomos merecedores de algo que, objectivamente não fomos por culpa minha neste caso e não de mais ninguém. Por isso é que me orgulho muito da "minha" Tuna: perdoou-me a falha mesmo antes de lhes pedir desculpa....

Sou exigente, como sabes, com critérios, regras, objectividade quanto a concursos de tunas. Assim sendo mais não me restaria do que atravessar-me nestas circuntâncias. Gostava sim de ver outros a ter essa mesma postura. É uma declaração de coerência, em coerência e PELA coerência. Assim, fica complicado acusarem-me de mau perder...

Bjokas! E obrigado pelas tuas simpáticas palavras!
causa nobre disse…
Caro Ricardo Tavares, felicitar a TDUP antes de mais, pela belíssima prestação em Setúbal. Quanto ao episódio de que falas,( o qual não vi ou ouvi) apenas revela a diferença de comportamento inter pares, uns são verticais outros nem por isso. Era bom que fosse sempre assim, ainda para mais partilhando publicamente essa verticalidade.
Não fui, não sou , nem nunca serei um grande cantor, e jamais terei a ousadia de me colocar no mesmo patamar que tu, ou do Modesto e muitos outros, mas o sentimento que revelas é recíproco, já que nessa mesma noite tive o maior engasganço-lapsus memoriae de que me recordo alguma vez ter tido. Talvez seja da velhice, se calhar estou cansado de tanta "animação".
Grande abraço da Figueira
Juiz
Caro amigo - penso que me permitirás o abuso para lá da honra - Juíz:

Obrigado pelas tuas simpáticas palavras. E essa do grande cantor, um dia destes ainda vais explicar-me isso direitinho, nem que me tenha de sentar no mocho....

Aproveito sim para enviar um forte abraço de amizade à grande BRUNA - Tuna da Universidade Internacional da Figueira da Foz pela sua postura,cordialidade e amizade que mais uma vez nós tivemos o previlégio de partilhar.

Quanto ao resto, sou forçado a concordar contigo, é capaz de ter sido animação a mais....é bem capaz...

Grande abraço pessoal e elevados protestos de amizade à Bruna!
Marta disse…
Uma coisa é certa, Ricardo: não existem actuações globalmente perfeitas e também se atribuem prémios de "Melhor Tuna"! São raros os instrumentais tocados na perfeição, mas também se atribui respectivo prémio!
O Modesto deu um exemplo: não estava nas melhores condições em Matosinhos, mas foi sem dúvida (para mim, na minha mera avaliação individual) o melhor!! Podia ter feito melhor, noutras condições? Podia! Mas estava doente, e agora, não merecia o prémio porque estava doente e podia ter feito melhor? :)
Como referem muitas vezes os critérios, cada tuna pode apresentar mais do que um solista, por sua conta e risco. A tua tuna apresentou mais do que um e, na globalidade, mereceram ganhar!! Não te martirizes com um erro que pode acontecer a todos!! Não perdoarias os teus companheiros se lhes acontecesse a eles? Não estive em Setúbal, não sei como foi a prestação das outras tunas. Mas, como disse acima, se só atribuíssemos prémios para execuções, nos respectivos apartados, perfeitas, então teríamos muitos prémios na reciclagem!! :)
Beijinhos
Marta, não há qualquer martírio, mesmo. Já lá vai! Mas percebo o que queres dizer, claro que sim!

Bjokas!
Sir Giga disse…
Amigo, HERRAR É UMANO!!! He He He. Abraços