A Aventura da Necessária Atenção...

Bom, não há como fugir a eles, entenda-se certames, está mais que visto. Não me alongarei muito mais sobre a profilaxia inerente ou falta dela quanto ao tema, já que largamente abordada aqui e noutros espaços. Será, pois, algo "mais à frente", ou seja, como encarar genericamente o momento competitivo que aí se avizinha, na - - esperança de, quiçá, auxiliar ao normal desenrolar do mesmo.

Deve-se tomar sempre em conta uma questão basilar no certame competitivo: serve o mesmo para promover o fenómeno tunante tout court, ou seja, é uma - de muitas - manifestações de promoção de uma cultura estudantil sui generis, que deve ser encarada com toda a frontalidade, seriedade, certamente com toda a festa e alegria inerentes mas sempre com a responsabilidade inerente a um leit motiv maior, a promoção de uma cultura enquanto tal. E logo na base, neste alicerçe, já temos muito pano para mangas, infelizmente. Raro é o equilibrio entre seriedade e festa, entre responsabilidade e nacional-porreirismo, o que desde a nascença "mata" muito do que deve ser, por génese, um certame. À luz de um grande "tasse bem" festivaleiro vai-se perdendo a noção de respeito inerente a qualquer manifestação tunante, logo, à Tuna universitária em geral; há aqui por via de regra um claro desiquilíbrio em desfavor da seriedade e respeitabilidade do fenómeno.

Como combater esse desiquilibrio, então, sem colocar em causa todo o ambiente festivo que seguramente deve existir? Com a mais que necessária atenção.

Necessária atenção desde logo ao como se organiza e para quem se organiza, escusando falar sequer das limitações de meios existentes por estes tempos na generalidade dos casos, que não influí no como e no para quem. O como se organiza reflecte-se, cada vez mais, nas consequências; há casos que basta ver como se organizou para se perceber facilmente como vai acabar - para o bem e para o mal, note-se. Coisas em cima do joelho, desenrascanço à tuga, regra geral não dão bom resultado em nada e aqui não é diferente. Planear e pensar atempadamente é o código postal para o sucesso. E em nada planear e pensar atempadamente tem a ver com mais ou menos recursos, aliás, quando são menores pensa-se mais cedo em como os contornar -e não o oposto, como vemos frequentemente. Pensar e planear o certame é evidentemente sinal de respeito, 1º pelo público que irá assistir e 2º pelas tunas presentes e logo, pela Tuna em abstracto. O como está para o certame de Tunas da mesma forma que a água está para o peixe. Não é, p.ex., aceitável sequer que não se pense atempadamente em como alimentar e animar as tunas presentes, como também não o é que não se pense atempadamente em informar as mesmas sobre critérios de avaliação e tempos de actuação, p.ex.

O para quem é outro insondável mistério - ou talvez não - que urge descodificar. Para o público, certamente, essa entidade abstracta que pode ir desde o transeunte em pleno pasacalles até ao cavalheiro comodamente sentado na plateia, seguramente. Mas também é o para quem algo intrinsecamente ligado às tunas participantes e até mesmo à própria organizadora - que não raras vezes se comporta como uma entidade "estranha" ao próprio certame em certas ocasiões e já noutras precisamente de forma diametralmente oposta se comporta, coisa estranha, note-se. A organização deve ser como o árbitro de futebol - o bom árbitro, claro está: deve apitar quando é somente necessário, deixando o jogo desenrolar-se calma e tranquilamente, de forma a que os jogadores e público disfutem com toda a plenitude daquilo a que estão a assistir. Deve intervir quando é necessário que o faça e não sistematicamente, a torto e a direito, por tudo e por nada, bem como deve deixar fluir o evento na certeza de que os seus convidados e público lhe oferecem todas as garantias para tal fluidez. Nunca fui muito a favor de organizações omnipresentes e/ou completemente ausentes, bastará bom senso e atenção para com todos.

Depois temos o porquê. Porque se organiza um certame? Para lá do já dito acima, organiza-se por muitas e variadas razões, tendo à cabeça duas desde logo: é um hábito para algumas e para outras uma enorme festa (sendo que noutros casos é um festivo hábito). Nenhuma destas razões, separada ou conjugadamente, são as mais importantes, seguramente, para justificar o porquê, por muito importantes que as mesmas sejam até. O porquê de se organizar um festival prende-se com a intrinseca promoção da Tuna em sentido lato, quer junto do fenómeno (excessivamente e em jogo de espelhos, note-se) mas essencialmente para fora do fenómeno. E aqui, meus caros, é que a coisa ganha outros contornos, por defeito, infelizmente. Poucos são os que se preocupam com esta questão essencial, para todos, para o conjunto do fenómeno. Há pouco cuidado aqui neste ponto, muito pouco. Com um como e um para quem como temos visto, o porquê torna-se evidente: para muito pouco, quase nada ou até mesmo para polimento de ego ou descarga de consciência forçada pelo hábito ciclico e anual (haja euros...!).

O Festival de Tunas existe porque é uma forma previlegiada de promover uma cultura junto da sociedade civil, académica ou não-académica. Há mais, algumas mais. Mas esta é aquela que as Tunas elegeram em Portugal para o fazer, supostamente. Mas não é por causa disso que o fazem, que organizam certames, não, de todo, salvo excepções naturalmente. O porquê do certame de Tunas pressupõe qualidade no como e pensar no para quem devida e atempadamente, com método, rigor, organização e cumprimento de uma Tradição, de uma cultura. Por isso é que quem a ela é alheia, quem a ela nada tem a ver, quem a ela atenta, acaba por transformar um certame de tunas numa mera soiré musical com garantido happy hour na disco ao lado. Bom, pergunto eu, então e...porquê?

A necessária atenção, agora que estamos em plena "festivalitis" aguda. Saiba-se como e para quem, que assim será mais fácil o porquê. Caso oposto, percebe-se logo a causa das coisas, o que ajuda a explicar as mesmas....

À Superior Consideração das 1389 organizações de certames de Tunas....

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