A Aventura da Lógica da Premiação....

Ao viajar no passado recente internáutico deparei-me com este post em concreto que é um autêntico case study - ou caso de estudo - sobre esta matéria, para lá das opiniões contidas no mesmo, deveras interessantes e em alguns casos reveladoras de muita coisa engraçada...mas adiante, vamos ao que realmente interessa aqui.

Nem sequer foi este caso virgem na matéria, alguns ocorreram - poucos - antes deste e depois deste. Certo certo é que podem ocorrer e refiro-me à não atribuição de um qualquer prémio de um certame competitivo, seja ele qual for. Pode acontecer, objectivamente, desde que previsto previamente essa mesma hipótese - e quanto à legalidade formal estamos conversados a meu ver; se está previsto, acontecendo, não carece de contestação objectiva, goste-se ou não, concorde-se ou não.

Vários planos ocorrem aqui neste caso, servindo apenas aferir  da legitimidade ou não, bem como da moralidade ou não do acto de não atribuição de um qualquer prémio. Atenção que aqui é necessário perceber-se o que dita cada regulamento de um dado certame: Há eventos que nem sequer possuem regulamento, logo, nesses, quando não são atribuídos um ou mais prémios, poder-se-á dizer que legitimo é (lacuna, portanto, vale tudo) restando aferir da moralidade; aqui neste apartado, essa moralidade em não atribuir um dado prémio fica sempre ao critério do observador - se para um qualquer será indiferente, para outro poderá ser algo imoral ou amoral, se quiserem. Digamos que aqui o campo da legitimidade é o que mais importa aferir, tratando-se de um concurso com regras (ou sem elas...); já quanto à moralidade ou falta dela na atribuição de prémios ou não está para nascer o evento que seja imaculado a esse nivel, precisamente porque o ponto de vista de X nunca é igual ao do Y e assim sucessivamente.

Detenhamo-nos na questão da legitimidade, por ora. Se está previsto em regulamento, nada poderá obstar à não atribuição de um prémio, dois ou até todos num certame. Bem sei que não é um hábito - e por força da lógica competitiva que impera - não atribuir-se um prémio, dois ou cinco, todos sabemos que não é prática recorrente, antes atribui-se todos os que estão em disputa. Acontece é que só quem nunca fez parte de um Jurado de certame de tunas é que não compreende que tal é efectivamente possivel, diria mais, não compreende até que em dadas circunstâncias, é precisamente o que se deve fazer e não há outra alternativa sequer, por muito que isto custe ler ou ouvir a quem quer que seja. Passo a explicar então porquê. 

É o certame uma reprodução em palco e fora dele do que deve ser uma Tuna universitária, disso não tenhamos dúvida. Assim sendo, os certames que cuidam este aspecto com particular cuidado encaram a premiação não como uma obrigatoriedade em si mesma mas antes como um incentivo dado ao cumprimento das mais básicas premissas que cada prémio - nos seus critérios universais - encerra em si mesmo; logo, se num dado prémio não surge, naquela noite em concreto, tuna alguma a cumprir com o que se pretende, parece-me mais do que óbvio que é mais do que legitimo até não se atribuir esse mesma prémio. Mais até digo, não encontro razão alguma para se atribuir, p.ex., o prémio ao Melhor Estandarte quando em 6 tunas a concurso nenhuma delas apresentou sequer em palco...um estandarte. Fazê-lo é desde logo atentar contra toda a lógica tunante que é afinal a premissa basilar quando se organiza um certame de tunas a sério (obviamente que noutros vale tudo e aí a coisa é tudo menos séria).

Quanto à questão da legitimidade, o exemplo acima é por demais suficiente; se para o público o pano da loiça da tuna xpto foi excelente, para o Jurado é igual ele ter sido excelente, razoável ou medíocre, pois não consta dos critérios nem da premiação tratar de panos de loiça mas antes e sim de estandarte. Ou seja, o público está no seu direito de não gostar de não ver o pano da loiça ser premiado mas o Jurado está no seu pleno direito - e mais digo, dever - de não atribuir um prémio a algo que não viu, ou seja, estandartes. Simples mais simples não há. O público aplaude ou assobia e essa é a sua única função; o Jurado está lá para avaliar, é essa a sua única função. Por muito que haja muitos a querer misturar alhos com bugalhos, deve ser sempre assim, cada coisa no seu lugar e metier próprios. Caso oposto, entreguem a função de avaliação ao público e fica o "problema" ou confusão resolvida da forma mais simples. Não é, contudo, o que ocorre; e ainda bem, digo eu.

Dirá então uma imensa horde de populaça tuneril que estas coisas são levadas demasiado a sério e onde fica então a natural espontaneidade destas coisas? Bom, pergunto eu em contraponto que raio de espontaneidade é aquela que faz uma tuna levar o pano da loiça - mais leve e mais dado a movimentações previa e intensamente coreografadas em casa... - para um certame ao invés do seu estandarte da tuna, do seu símbolo maior - pesado, antigo, pouco dado a coisas mais "bonitas" e leves de serem vistas? Tamanha incongruência para ser tratada devidamente pelo Jurado avisado e letrado na matéria, respondo eu; afinal, quem impede dada tuna de levar o seu panito da loiça para o palco? Ninguém. Se têm esse direito então o Jurado de um bom certame, avisado e letrado na e para a matéria, tem ele também o direito de julgar da forma mais congruente possivel desde logo com a tradição tunante e até por força do regulamento e critérios mais do que aceites pelas participantes: o problema é que estas ultimas nem sequer se dão ao trabalho de os ler antes de ir, prova cabal do real problema de percepção destes eventos e da sua real importância. Afinal, tanta espontaneidade para tão pouco saber e depois, quando alguém aplica as regras, Aqui D´El Rey que isto e aquilo e blá blá blá; uns podem brincar às tunas mas outros não podem ser sérios quanto a estas.....hummm, algo de errado mora aqui, vamos convir.

A lógica da premiação só faz sentido aliada a duas inegáveis premissas: saber ao que se vai e como se vai na perspectiva da justeza clara de quem recebe. E se o público nos recebe - bem ou mal - nunca nos atribuiu prémio algum havendo quem mandatado legitimamente para tal. E é preciso perceber-se precisamente isso. É legitimo "estar-se nas tintas" para o Jurado porque se toca para o público, claro que sim e ainda bem. Agora, Santa Hipocrisia, se se vai a concurso, ou bem que é dentro do que ele é ou bem que se corre por fora, a esticar a corda para ver até onde ela vai - e há por aí uns peritos nesse esticar de corda, oh oh, se há; o problema é que de quando em vez há Jurados que são correctos e fazem aplicar as regras que todos antes dizem (por omissão, seja) aceitar de olhos fechados. E o Jurado tem obrigação de ser o oftalmologista de serviço quando todos no público teimam  em ver algo que mais não é que uma miragem ou ilusão de óptica. O problema é que em Portugal não é regra corrente que os Jurados sejam absolutamente rectos nessa aplicação de critérios; pior, muitos certames não os têm (logo, vale tudo..) e outros têm e não os aplicam ( e aqui a ilusão de óptica já é do Jurado). Simples, novamente.

É legitimo, mesmo que moralmente seja contestável (coisa tão subjectiva nestas matérias...), que não se atríbua um dado prémio, perfeitamente legitimo e mais digo, normal até. Deveria ser prática corrente, mais à frente vou. Se calhar, com essa legitimidade aplicada de facto, não haveria tanto disparate e aberração a ser premiada e ganharia com isso a Tuna em sentido lato. Deveria ser regra - caso se justificasse, claro - não atribuir prémios. E isto não é punir, é formar, é indicar caminhos, é passar mensagens claras, é defender o Negro Magistério. Os prémios são um incentivo, diz-se. Até pode ser que sim, admito. Mas que caraças, incentivar-se coisas que nada têm a ver com não pode terminar bem, não pode ser profilático, não é seguramente o caminho. E quando de vez em quando lá não se atribui um dado prémio parece que cai o Carmo e a Trindade. Ainda bem que cai, digo eu. Haveria era de cair mais vezes que só faria bem a todos, se repararem na lógica da premiação tuneril em certames. A todos.

Não atribuir um dado prémio não é uma punição seja a quem seja, para punir existem desclassificações, a lógica é oposta nesta questão. Não atribuir um dado prémio é para lá de mais do que legítimo um enorme contributo ao fenómeno que se dá havendo causa concreta para tal, obviamente, num dado evento. É a defesa da Tuna em sentido lato que afinal está em causa quando não se atribui um dado prémio, não uma punição diligente e discricionária em si mesma, para punir há desclassificações. O que resulta desta questão de fundo é que na esmagadora maioria da "malta" vai tudo já com ela fisgada; quando a conta saí torta fala-se e no dia seguinte acabou; quando a coisa corre de forma anormal por inusitada - não atribuição - aí a "malta" fica séria e desata a procurar legislação e  jurisprudência conforme, sem sucesso, é bom de ver: sempre que não se atribuiu um dado prémio seguramente que a explicação sobre essa legitimidade é mais do que sustentável e por tal, coerente e correcta.

Termino: cumpra-se com o que se pede, prepara-se de acordo com o requerido e previamente informado e conhecido; assim será possivel que tudo corra dentro do normal, caso oposto, mais não atribuições haverão (nos certames sérios, claro..) e não vejo mal nenhum nisso, muito pelo oposto, será sinal que se anda a fazer "coisas giras" mas que desviantes ou incongruentes face ao que deve ser um certame de tunas, sua lógica e defesa de preceitos tradicionais.


Post Scriptum: Por muito estranho que isto possa soar, é evidente que se há uma mehor tuna e uma terceira melhor tuna, como se explica que não haja uma segunda melhor tuna então? pergunta pertinente, mais até quando se evoca p.ex. uma corrida de Formula 1, mesmo que o Alonso ganhe com 5 dias de avanço face ao 2º classificado, o Massa, que cortou a meta 5 dias depois. O problema aqui é que, caso não se tenha reparado, nem o Massa poderia participar sequer na corrida de Formula 1 com um Citroen C4 de WRC (nem entrava no Padock que fará na grelha de partida...) nem o desporto automóvel tem a mesma lógica de fundo que um certame de Tunas (e é isso que poucos entendem). Aliás, nem um certame de Tunas é um desporto sequer, por muito que para muitos seja assim levado como tal...


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