A Aventura do "Numerus Clausus"

Disse o meu caro amigo Dr. Eduardo Coelho, a meio de uma conversa em família num conhecido forum tuneril, o seguinte - e sobre quantidade e qualidade:


O que por cá vai imperando é a sedução do número.

No entanto, esquece-se esta simples verdade:

"menos tunos" não quer dizer "menos tuna".

Será mesmo impossível que 12 tenham tanta musicalidade como 40?

Enquanto por cá não se aprender a separar o "quantos" do "como", vamos continuar a ver premiados os agita-panos e os acrobatas destrajados a ganhar em toda a linha aos porta-estandarte e aos pandeiretas.

Quando se aprender a ver para além do efeito (espectacular, talvez, mas não mais do que isso), então estar-se-á a avaliar verdadeiramente o que se tem à frente.
(fim de citação)


Mais uma vez, palavras sábias....


Ora, todos sabemos da inegável - e ilusória... - tentação em munir as nossas tunas com um grande contigente numérico, preferencialmente dois batalhões a disporem-se na parada festivaleira uma à frente da outra e com jeitinho, de forma a que os que ficam nas pontas possam facilmente abrir e fechar o pano do cenário sem ajuda de um qualquer assistente de palco. A inegável tentação em levar para as "Praças Vermelhas" festivaleiras todo o "arsenal bélico-tuneril" que vai desde SLBM´s (traduzo: Submarine Lunch Balistique Missiles) passando por Kalashnikov´s em cima de camiões UAZ e terminando até em desfile de barquinhos de borracha com a esfinge de Estaline, vale tudo para mostrar uma realidade óbvia: uma tuna grande não é automáticamente uma grande tuna.

Ao longo destes anos assisti, desde a plateia, como organizador ou como Jurado, a autênticas demostrações cabais de que a quantidade não significa por si só qualidade. Vi muitas tunas com dezenas em palco a tocar bem pior que muitas outras com dez ou doze. Certo que também todos nós já assistimos a grandes actuações de tunas grandes que mostraram ser uma grande tuna, correcto. Mas não líquido, de todo. Muito menos automático na relação directa entre quantidade e qualidade. O truque está sempre na optimização dos elementos que a dado momento se pode dispôr, redimensionando a tuna à realidade que se lhe apresenta. É fácil em alguns casos recrutar uma companhia inteira de caloiros trajados para subir a palco e depois desses a única nota que têm com eles é a de cinco euros que o papá lhe deu antes de ir prás "túnicas" prós finex´s, que de arte e engenho nada há a assinalar. Já muitas vezes se viu hordes de gente em palco e, olhando com cautelas acrescidas, repara-se que toda a actuação é sustentada por uma dúzia dos 40 que ali estão em cima, escutando-se uma espécie de "back vocal´s" ao longe e a medo (às vezes) e pouco mais. É, por outro lado,muito mais complicado a uma tuna com pouca gente poder munir-se de algum conforto entre os mesmos na hora de executar o ensaiado; no entanto já vi muitas tunas  com poucos elementos a fazer autênticos espectáculos completos e de grande valor musical e tuneril. Já vi tunas com pouco mais de uma dezena de elementos a ganhar reputados certames e muito bem porque, de facto, não havia volta a dar.

Tudo isto para dizer apenas duas coisas: a quantidade de elementos de uma tuna pode ser importante se a mesma souber de forma cuidada aproveitar e potenciar esse número, de forma equilibrada e inteligente, perfazendo com cada um e seu contributo válido (não "coxo" ou de corpo presente) um todo que resultará sempre de forma positiva. O que não invalida que uma tuna com poucos recursos humanos não possa ela também fazer essa potenciação e optimização, note-se; tanto pode que todos nós já o vimos a acontecer.

A segunda nota refere-se ao facto de que muitas vezes a quantidade apresentada na parada festivaleira não é a mesma depois cá fora, ou seja, serve a mesma parafernália de gente para um único objectivo e não - infelizmente - para os restantes. Uma coisa muito "Estudiantina Figaro" só que ao contrário, pois estes, então em finais do Século XIX faziam mais do que simplesmente tocar em palco....outros tempos.....

Quantidade nunca significou qualidade. É outro, porventura, dos erros crassos em que se caíu nos últimos 20 anos grosso modo nas tunas nacionais. Nem tão pouco um número pequeno define desde logo que estamos perante uma tuna fraca. O que agora vemos, mais recentemente, é a inflação de gente em palco apenas para fazer coisas que não lembram ao diabo (é ler acima o introíto), numa espécie de poeira radioactiva que apenas serve para - tentar - impedir o que realmente deve ser visto e muitas vezes, nestas vezes, não se vê porque...não está lá.

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