A Aventura do Resistir....

Esta vem a propósito de algo que li, algures, onde uma determinada tuna procura ensaiador para levar a cabo trabalho musical com 7 resistentes que permanecem - e fazem -a mesma tuna.

Pode-se visualizar, das duas uma, um começo ou refresh start. Em todo o caso, sendo uma ou outra situação, é sempre de enaltecer a vontade, coragem e persistência de sete pessoas empenhadas em continuar, dar seguimento, a uma tuna, seja ela qual seja. Nem sequer, a meu ver, se trata de teimosia, antes prefiro acreditar que se trata de puro gosto em se ser tuno. Se fosse mera teimosia não carecia de ensaiador, seguramente, mantendo-se com 7 elementos para o que seja, sem grandes preocupações de qualquer ordem que não meramente lúdicas.

A questão de fundo, aqui, a meu ver, não se trata de perceber ou deixar de perceber que 7 pessoas fazem/não fazem uma tuna. Não, de todo. Há provas hoje bem vivas de que, com menos de sete até, com trabalho, persistência e com sensatez, se chega mais tarde bem longe. Afinal, se repararmos bem, nenhuma tuna praticamente começa logo à partida com 20 pessoas ou 10 até.

Não é, pois, a montante que existe qualquer tipo de problema ou objecção, não, de todo. Será antes e sim a montante, ou seja, quando a tuna já existe e se vê - por vicissitudes várias, externas até, hoje cada vez mais comuns, note-se - a braços com 7 pares de braços apenas. É a jusante que a questão se deve colocar: fazer o quê? Fechar as portas? Andar em frente? Deixar pura e simplesmente...andar até ao próximo jantar?

Sempre afirmei - e reafirmo - que há hoje em Portugal muitas tunas, demasiadas até, se compararmos números facilmente se percebe isso mesmo: olhando para a geografia espanhola e para o mapa do ensino superior espanhol, comparando com a nossa realidade, facilmente se ficará de boca aberta ao constatar que, e contas por alto, Espanha apresenta apenas mais 60 tunas (mais ou menos) que Portugal, o que por si só é revelador. Fundamos tunas a mais e isso hoje nota-se.

A esmagadora maioria das nossas tunas assenta na tal lógica do "boom" na sua formação, composição e manutenção (o que por um lado é bom mas implica custos a prazo, como se constata). Naturalmente a tendência é tunas de antes se apresentarem hoje com graves dificuldades a nivel dos seus recursos humanos. Ou seja, são tunas mas praticamente entrincheiradas em si mesmas e nas suas portas (universidades, faculdades, institutos, etc) e pouco mais. No caso espanhol - e por outras razões - muitas estão refugiadas apenas e tão só em mesas de jantar para 4 ou 5 que restam e...mais nada. Lá, como cá, por este ou aquele motivo, é a jusante que a questão se coloca, fundadas que foram. No caso espanhol, fundam-se e refundam-se de duas em duas, de três em três décadas, resgatando-se a si mesmas no mapa do tempo....

Previsivel por isso, que hoje algumas por cá tenham este problema que condiciona desde logo a normal actividade tuneril, sem prejuízo da sua essência, claro está. Haverá que perceber, então, o que fazer para dar a volta à situação. Ora, querendo ir mais além, contrariando assim o cenário menos bom, parece-me altamente louvável, se feito com cabeça, tronco e membros. Parece-me, até, um serviço tuneril público de enorme relevância que haja que, com sensatez e lucidez, queira combater algum situacionismo. Só posso alegrar-me com tal postura.

Já a postura do "deixa andar" é que me parece, acima, de tudo para os próprios, prejudicial; a coisa vai acabar por desvanecer-se, desaparecer, sem se ter a coragem suprema de assumir que assim é. Deixo-vos um exemplo do que entendo ser até natural: Há uma tuna em Espanha que, nos anos 90, provavelmente terá sido a melhor ou pelo menos das melhores e hoje está confinada a um taxi para idas a Tapas numa mesa com 5 cadeiras apenas (porque se formaram, casaram, não houve quem lhes sucedesse, mudaram de cidade, etc). Hoje, dizem orgulhosamente que apenas se reunem uma vez ao ano para uma ceia de tunos, sem qualquer tipo de problema sequer, numa atitude tão corajosa como sensata: enquanto durou foi optimo, agora também o é mas de outra forma e disso não há que ter vergonha, muito pelo oposto.

Não há, pois, que ter vergonha alguma em assumir que "não dá mais" neste figurino. O resto fica sempre no plano pessoal entre quem forma/formou a tuna. No big deal. Um dia a maré muda e quiçá, até se pode voltar a palco. Mas desde que haja gente, 4 ou 5 ou 7, para umas jantaradas, serenatas e afins, temos tuna certamente. Agora, dizer que há tuna e nada disso se passa efectivamente na prática, faz-me lembrar o orgulhoso caravanista amante da natureza que tem roulotte no parque o ano inteiro, paga forte e feio e só lá foi ano passado um fim de semana em Agosto....

Resistir, sim, mas resistindo de facto, não de nome ou de site ou whatever. Por tal, tudo o que for andar em frente parece-me altamente louvável, mais para mais nos tempos de hoje. Merece no limite o nosso aplauso e incentivo.

Comentários

Marta disse…
Eu conheço um pouco da tuna em questão. O projecto é relativamente recente, do final de 2004. E já conheceu melhores dias, é verdade.
A referida tuna nunca teve uma grande projecção (como, aliás, grande parte das tunas dos dias de hoje, que nascem em todos os cantos tipo cogumelos), mas foi-se aguentando, muitas vezes "pelas pontas", como se costuma dizer.
Embora consiga compreender o que dizes (que há que sonhar e alimentar esse sonho), às vezes também é preciso saber quando é que se deve parar. Por vezes, mais vale investir o esforço e a vontade num projecto já existente do que forçar a passagem por onde não existe caminho. Talvez, para esta tuna, este momento ainda não tenha chegado, mas é um ponto importante a ponderar.
Como diria alguém no sítio onde esta saudável discussão começou, sem ovos não se fazem omoletes. E se começar um projecto com 5 ou 7 é normal, prosseguir num projecto após um "deixa-andar" com estes elementos é, obviamente, diferente.
Espero que este pedido da tuna em questão possa ser o seu relançamento (porque vontade há) mas, se não for, saiba-se parar e não manter apenas uma tuna de nome, porque o orgulho impede o fecho de portas.
É de dar valor... querer continuar é de dar valor :)