A Aventura da Investigação....

Um dos maiores, senão mesmo o maior obstáculo, com que se depara a investigação histórica e factual sobre a tuna em sentido lato prende-se com a fiabilidade das fontes que se nos deparam, a par da já variadas vezes referida escassez quantitativa das mesmas fontes a consultar. Ou seja, o que há de realmente plausível e fiável é manifestamente pouco.

Por oposição, a asneira, invenção de ¾ de mês e calinada monumental abunda como areia na praia, ou seja, é maior em quantidade. Para “ajudar” à “festa”, 99% das mesmas é precisamente emanada por tunas, o que por si só torna ainda mais densa a investigação, porque obriga, desde logo, a uma redobrada atenção por parte de quem investiga – diferente daquele que somente lê ou copia simplesmente.

E o copiar – copy/paste em linguagem actual – é o 2º cancro que ataca a investigação sobre o fenómeno da tuna estudantil portuguesa, primeiro, porque a copia é desprovida de qualquer sentido critico, logo, passível de expandir o erro ao limite mais incomensurável possível, que será e no caso, a transformação de uma mentira repetida vezes sem conta numa…”verdade”. Posso-vos adiantar que o atrás dito foi o “prato do dia” na investigação que fiz juntamente com mais 3 “mosqueteiros” bem mais habilitados que eu para estas andanças do “esgravatar” da memória.

Obviamente que perante este cenário, andar atrás da verdade sobre tunas foi – e é – quase como tentar caminhar sobre as águas: à 1ª distracção afundamo-nos a pique, qual “Titanic”, sem apelo nem agravo. Daí o particular cuidado de que se reveste o estudo da tuna estudantil portuguesa, que tem em Espanha muito mais informação catalogada devidamente do que no nosso próprio país, por incrível que possa parecer. A fustração do investigador resume-se em alguns episódios verídicos como p.ex. sentar-se numa biblioteca municipal toda uma tarde e dela recolher apenas um documento minimamente plausível. Em contrapartida, a “festa” do investigador é quando sucede o oposto, ou seja, indo a um local onde supostamente não seria expectável descobrir nada de particularmente entusiasmante e, touché, eis que surge ouro na peneira….

Daí esta “Aventura”, porque provavelmente quem se presta a este tipo de trabalho está nos antípodas da exposição mediática do palco em noite de festival de tunas. É um trabalho que actualmente pouca gente ligada ao meio das tunas valorizará, até por falta de algo igual ou parecido, até aos dias de hoje. Não existe, pois, a cultura da cultura, passou a redundância, no que se reporta á defesa e preservação da nossa, no caso, cultura tuneril. Espero e desejo que não sejam estes tunos armados em investigadores vistos como uma espécie de nerds cá do sítio. Porque não o são, de todo. São iguais a todos vós, apenas com um senão a par de uma predisposição: são curiosos e por isso, persistentes. Não esperam deferência, apenas respeito.

E se há algo que pessoalmente, abomino, é gente que não sabe e não quer saber a tentar "gozar" com aqueles que realmente sabem somente...porque sabem, como se o saber por si só fosse alguma doença infecto-contagiosa e a ignorância uma prevalência. Aliás, esta inversão total da lógica é uma das principais razões - a par da famosa dôr-de-coto - para que este país esteja no estado em que está....

Comentários

Marta disse…
A meu ver, pior do que erros cometidos na passagem dos conhecimentos sobre a cultura tunante (que como dizes, e bem, tantas vezes se diz uma mentira que ela se torna praticamente uma verdade), é o não querer sequer saber, o estar-se "pouco-borrifando" e até mesmo a desvalorização do trabalho feito e das pessoas que o fazem.
Em Portugal, pouco interesse há por este assunto (mesmo por outras pessoas que não tunos ou ligadas ao meio tunante) e, infelizmente, não me parece que algo mude a curto prazo.
Eduardo disse…
Meus caros:

a Tuna, enquanto fenómeno sociológico, tem sido até bastante estudada, embora quase exclusivamente do ponto de vista da dinâmica de grupos.

Não nego que seja uma perspectiva importante, mas é necessariamente redutora. Por outro lado, lamento que a Tuna talvez só seja "interessante" por ser material barato para teses de mestrado/trabalhos de campo e que está mais à mão de semear.

Seja como for, qualquer contributo é importante e de saudar, por mais pobres que as motivações possam ser.

As tunas ao menos lêem estes trabalhos? Confesso que nem mesmo eu os li - apesar de ter conhecimento da sua existência. A verdade é que aparentemente também não estão disponíveis na Internet.

Bom, mas o problema de fundo desta aventura parte de uma verdade tão lamentável como inquestionável: a vontade, a fome, o brio, o orgulho de DESconhecer tudo o que não confirme - ou que possa pôr em causa - a adoração do próprio umbigo.

Abraço!
Marta disse…
Eduardo, em relação ao facto de as tunas lerem ou não esses trabalhos, acho que também lhes cabe o papel de os procurarem, se tiverem esse interesse. E às vezes, mesmo com acesso aos mesmos, há falta de interesse. E explico porquê.
Em temos idos, no âmbito de uma disciplina (Psicologia Social) do meu curso (Psicologia), optei por ser avaliada pela realização de um trabalho, no caso concreto sobre os estilos de liderança de uma determinada tuna.
Questões teóricas e metodológicas à parte, fiz tudo o que a ética mandava: pedi autorização à tuna escolhida, poucos foram os que se mostraram interessados (mas a esses agradeço profundamente!); estive em dois ensaios da tuna com a respectiva permissão, continuação de pouco interesse, havendo até quem nem soubesse para que é que aquilo servia nem revelando interesse em saber, quando me disponibilizei para explicar. Trabalho finalizado, convidei a tuna em questão (representantes da tuna em questão, pela dimensão da sala) para assistirem à apresentação das conclusões, ninguém apareceu nem ninguém disse nada. Entreguei uma cópia do trabalho escrito em papel e uma cópia da apresentação em CD a um elemento da tuna, disponibilizei contactos para esclarecimento de dúvidas, e sinceramente duvido que alguém (excepto um ou outro elemento, amigos pessoais à data da realização da investigação) tenha lido esse trabalho ou saiba da sua existência. Pessoas que entraram nessa mesma tuna depois dessa investigação, então devem mesmo desconhecê-la por completo.
Neste caso em concreto, o trabalho não está disponível na internet, até porque considero-o meramente um trabalho académico, sem grande relevância para poder ser usado em situações futuras como base ou referência.
Abreijos.