A Aventura do "Erro de Percepção...."

Em claro rigor, nem deveria, a esta altura do campeonato, estar a discorrer sobre esta matéria. Julgando o universitário - como apesar de tudo, ainda o entendo - alguém com os "mínimos olímpicos" na percepção realista das coisas, não me caberia, sequer, este discurso em pleno ano 2011, por ridiculo. Mas de facto, volta e meia, tropeço em perfeitas comédias que, das uma uma, ou ignoro - deixando correr o marfim... - ou então tenho mesmo de saltar para a arena....

Um orgão de informação informa. Parece estúpido dizer, até, o óbvio. Mais ainda, informa quando a informação vem "de lá para cá", ou seja, de fora para dentro (pode ser também informação de cá para lá ou seja, feita por quem cabe informar). Cabe confirmar as fontes em caso de dúvida nas mesmas - anonimato, boato, etc - ou então, partindo do pressuposto da idoneidade de quem nos envia uma notícia - um Magister em nome da sua Tuna teoricamente merece idoneidade, p.ex., e até prova em oposto. Parte-se, portanto, de um principio de boa fé, deixando que os outros informem e usem os meios que têm à sua disposição para informar. Caso essa informação esteja errada ou levante dúvidas, caberá a quem de direito exercer o respectivo contraditório, o que é mais do que normal, até louvável que assim seja, a bem da verdade. Se quem informa desatar a pôr em causa a idoneidade de tudo e todos, mais não lhe resta do que deixar de informar, dando por impossivel essa mesma missão. Até aqui, parece óbvia a constatação.

O "problema" começa quando alguém, não gostando do que lê, desata a pôr em causa o mensageiro ao invés de exercer o tal contraditório, pondo o outro lado da moeda à mostra sobre o tema em questão. E aqui, meus amigos, a coisa muda automaticamente de figurino. Pior será quando alguém - independentemente de ter e quanto à questão substantiva, razão ou não - vem sugerir a quem informa que "deve retirar a notícia" e sugerir audazmente que quem informou deve "banir o autor da sua base de dados de utilizador". Não, não me apetece sequer desatar a cantar "kirikirikirikiriki" de megafone em riste, de todo. O assunto é mais sério do que isso.

Por momentos, senti-me um cidadão libio natural de Benghazi, confesso. Algo se está a passar mas para todo e qualquer efeito, a versão que vale pró mundo exterior é o do Kadhafi porque os outros são da Al Qaeda, meia duzia só e está tudo bem porque o povo é feliz e sereno! Aqui, quem vale à verdade? O videofone do reporter, a internet? Ou o canal estatal do Kadhafi? Se algo se passa e "não bate certo", o que vale mais, o contraditório ou um mero diktat em sentido único? Como é que a malta cá fora sabe que, hoje, na Libia, anda tudo ao estalo? E porque andam ao estalo? O mensageiro é outra vez o gajo que fica mal na fotografia ou, afinal, há mesmo algo a contar cá prá fora? A quem interessa, em suma, não se contarem as estórias tal qual elas são?

Bem sei que, por vezes, a bem da nação, mais vale estar sossegado, de forma a não amplificar algo que tem um valor residual e que, por força dessa amplificação, pode ganhar outra dimensão, desmesurada até, face ao assunto substantivo. Nem se trata, aqui, de constatar o óbvio: as comadres zangam-se, logo, isso só interessa à familia das comadres. O problema é quando a comadre Maria abre o livro publicamente e a comadre Manela, ao invés de dizer de sua justiça pelos mesmos meios (pode também estar calada, lá isso pode...) vai ter com o carteiro e diz-lhe "tire a carta que a Maria pendurou na porta da Junta de Freguesia e saque-lhe o Cartão do Cidadão, tá?".

Ainda há, concluí-se, quem, das duas uma, ou se ache o Kadhafi (e aí meus amigos, problema do mesmo...) ou então não perceba patavina como funciona uma sociedade actual, que se quer informada e formada, dirimindo com elevação, educação e até alguma ciência, diria, o contraditório, de forma a que todos (já que instados a tal) possam perceber e concluir por si mesmos e não a concluir unilateralmente algo que alguém quer forçosamente que os outros concluam, sonegando-lhes a hipotese de pensarem sobre todas as vertentes da questão em jogo.

Um orgão de informação que se preze não pactua, de todo, com tal "erro de percepção" e por duas razões: porque não pode e depois porque, se porventura o fizesse, deixaria automaticamente de ser um orgão de informação e estaria, por isso, a soldo de alguém. Constato, nos dias de hoje, haver quem não saiba lidar de facto com o contraditório, preferindo a tentativa (goradíssima!) de calar terceiros. Ora, não vivendo nós na Libia ou na Coreia do Norte, não percebo sequer como é que ainda há alguém que ache que, lunaticamente, possa impedir, condicionar, castrar, sonegar informação. Note-se, até pode estar errada a mesma mas não é impedindo-a de chegar que ela se confirma como falsa ou verosimel. Aliás, pela lógica, se alguém a quer impedir de chegar ao destino será porque então tem interesse objectivo em que a mesma não se conheça. Ora, daqui em diante estamos conversados.

Tudo isto seria cómico se não se tratasse de universitários e tunos. Parece que, afinal, os bota-de-elástico saudosistas da opinião única não são somente da geração dos nossos pais e avós. E isto é algo preocupante. Não pelo que estes pretendem (tiro à agua!) mas essencialmente por provar uma certa forma de estar em que este pequeno grande mundinho das tunas nacionais se encontra.....sinceramente, quero acreditar que é erro de percepção. Se não for, é-me igual, admito...

Comentários

Eduardo disse…
Lamentável... e revelador de um pensamento nada... científico... - a não ser que estejamos a falar dos sucedâneos do socialismo científico... à la Lenine ou Kim Il Sung.

Abraço!
J.Pierre Silva disse…
De facto, lamentável.
E se quem perpetrou esse episódio e quis encostar os mensageiros à parede (e deles exigir o que não podia nem devia) fosse liminarmente denunciado publicamente pelo órgão informativo, heim?
Não era simpático, mas era capaz de servir de emenda e exemplo.

Nestas coisas meu caro, deixei de achar produtiva a constante atitude pedagógica e de ultra-compreensão. Estamos num mundo que só percebe a linguagem directa, firme e por vezes rude, quando se trata de por pontos nos iis.
Talvez pr isso é que me tenho isentado de mandar bitaites ou reflexões, pois que ando em fase de ressabiamento e muito pouco diplomático. hehehehe

Forte abraço.
Ilustre WB:

O dito orgão informativo não o fez porque seguramente entende que a resposta pública elevaria a matéria a assunto pertinente, o que de todo não o é. Por outro lado, o dito órgão informativo e desde há algum tempo que não patrocina polémicas que apenas visam, por estéreis, uma mais que provável publicidade gratuita a terceiros, o que seria duplamente errado por dispensável.

Resta dizer que, obviamente, e ao que sei, o órgão informativo em causa respondeu pelas vias próprias na justa medida e rigor face à questão, como não poderia deixar de ser.

Abraços!
Veiga Trigo disse…
Tratar-se-á de uma mera questão epistemológica. Não mais que isso, obviamente. Deus me livre.

E que tal um muro? É que há seres que andam aqui a mais...é por estas e por outras que a rapaziada é arrogante, tem nariz empinado, não se quer misturar...pronto, ok, javardices...

Boas Aventuras

O Aventureiro de Coimbra
Sir Giga disse…
Estamos a falar de uns meninos (literalmente) que, não tendo a hombridade de responder a uma crítica que lhes enderecei (respeitante à má imagem das tunas por eles veiculada e toda a cidade do Porto) no dito órgão de informação, mandaram mensagem por terceiros. Obviamente, e indo eu tomar café todos os dias à sua respectiva faculdade, interrogo-me porque não vieram eles interpelar-me (para mais jogando "em casa"). Ou porque não responderam em sede própria?

Enfim...não é de hoje, portanto.
josé disse…
Caríssimos,

Ao participar neste post, fi-lo a partir de um terminal da AAC. Por uma razão de haver já uma sessão iniciada, tudo leva a crer, apareceu como identificação da minha intervenção, o nick "Veiga Trigo". Assim venho desde já pedir desculpa ao "blogger", quem quer que seja, pelo uso abusivo do nome.

Boas Aventuras

O Aventureiro de Coimbra