A Aventura da Primazia....

Resulta do estudo aturado e ao longo dos anos esta curiosa percepção: Porque raio há uma obsessiva e quase psicopata procura pela primazia, pelo "ser-se o 1º" ou o "mais" ou o "melhor"? Mais, porque é que em tunas então a coisa assume contornos de alguma aldrabice - por um lado - e, por outro, de alguma fanfarronice, quase que a dizer "cuidado, respeitinho, que nós somos os mais isto e aquilo..."????

Bem sabemos que a linha entre orgulho e arrogância pode ser algo ténue, concede-se pois nessa zona cinzenta. O certo é que, em Tunas, muitas vezes se retroactiva ao Paleolítico coisas, fundações, etc, que não só não fazem sentido algum como, ainda por cima, são desprovidas de qualquer prova de facto, de jure, que as sustente ainda que seja somente de forma indirecta. Muitos procuraram - e ainda procuram - em Foz Côa que as pedrinhas lhes dissessem o quão antigas são as suas Tradições - as dos outros são quase sempre muito mais recentes, tá bom de ver...

Em Tunas - e é mais um hábito, costume, no caso deste, mau costume, que herdamos da tradição tuneril Espanhola - é deveras impressionante - há casos que, para lá de impressionante, chega a roçar o indecoroso... - a tal obsessão em retro activar o mais possivel, de forma a conferir uma - suposta - superioridade, ascendente, um pedestal único e por aí fora. O problema é que, e como dizia um amigo meu espanhol e tuno, afirmar que a Tuna X é a mais antiga do mundo tout court será como dizer em que preciso dia nasceu o Barroco. Tratando-se de uma tradição, aculturação que se vai transformando ao longo do tempo e do espaço, de facto, parece algo inverosímil apontar uma data em concreto, sob pena de se arriscar sobremaneira e com isso alguma exposição ao ridículo, até. Mais até, definir desde logo, tratando-se da Tuna, tal coisa, é por si só um exercício perigoso e que carece à partida e a abrir de algo crucial: definir de facto quando é que a Tuna se torna uma instituição e deixa de ser somente um hábito, o tal correr a tuna. O que carece, antes disso, de se saber e conhecer a evolução que houve do hábito para a institucionalização; não creio que se saibam onde moram os alicerces, que fará o resto da casa....

Claro que nestas coisas, o salto é sempre maior do que as pernas podem realmente dar; chega-se, em Espanha, a encontrar documentos que falam dos "estudiantes de leyes" que tocavam umas violadas e, vai daí, a tuna de Direito de XPTO é datada de Mil Setecentos-e-troca-o-passo: valente tropeção, caso para dizer, ao se confundir a prima do mestre de obras com a Obra Prima do Mestre. Uma coisa é dizer-se - como aqui já o disse - que a 1ª tuna instituição, com carácter permanente, hierarquizada, reconhecida como tal - será, pretensamente e ao que se julga saber, a Tuna Compostelhana; Outra será afirmar a pés juntos tal coisa como sendo uma insofismável verdade. Do que se sabe e tem conhecimento, é assim; Mas pode não o ser, haja prova em oposto.

Claro que o Tuno "tuga", aqui da Tunolândia, vai daí e, imbuído de um espírito Aljubarroteiro, não vai querer ficar atrás do vizinho Castelhano e, qual Padeira, arruma com umas larachas de primazia temporal e dizeres vários tão ou mais engraçadas do que as espanholas. Não deixa, contudo, de ser algo que até na Serenata acontece: Vai-se sempre cantar à Donzela que ela "é a primeira" e que "é a única....", apenas com uma diferença, ela sabe que não o é (saberá?).....Ai como é belo o romantismo em Portugal!!!!!!!!!

Como por cá existe um imenso buraco negro onde não se consegue discernir retroactividades supostas, pretensas ou até mesmo as  - poucas - verídicas e com nexo causa-efeito, vai daí, caí-se numa autêntica corrida ao Ouro Tuneril: Encontrar os tetravós da nossa, da própria Tuna, para assim passar-se a ter uma aureola quase angelical e celeste de competência, bem saber e fazer e por aí fora. A chatice é que quase sempre nunca se encontrou nada de facto antes que justificasse o agora e, quando se encontrou - muito pouco, mesmo - raramente se fez essa transposição com sabedoria, competência e acima de tudo, lucidez; muita coisa dita que antes aconteceu em Portugal a nivel de tunas em 99% dos casos surge, hoje, despernada, contada a metade ou a 1/3 da mesma, isolando frases, momentos ou acontecimentos precisos que, convenientemente , omitem outros. Mas que aconteceram e estão documentados devidamente.

A procura dessa suposta Primazia histórica nunca ou raramente assentou numa recolha efectivamente correcta das fontes documentais que comprovam várias coisas -e não só uma ou duas que até dão jeito explorar hoje até à exaustão, "esquecendo" todo o resto do percurso tido. Ao que julgo saber, isso irá mudar em breve, fruto de trabalho de pesquisa intenso, isento e cientificamente correcto, deixando o atrás dito bem claro, de forma inequívoca, diria até. Ou seja, muita coisa vai finalmente dar à tona da água e, provavelmente, alguns ficarão algo mal na fotografia que sempre quiseram tirar e onde apareceu somente quem quiseram que nela surgisse, usando uma tesoura virtual para cortar quem ou o que não interessava que na mesma fotografia lá estivesse. Bem como o oposto irá ocorrer: alguns e algumas coisas surgirão, finalmente, à luz do dia.

Um dos sinais que mais reflecte esta procura louca pela primazia foi quando no "boom" se procurou dizer o indizível: Tunas que foram outrora mistas deixam a dada altura de o ser e vai daí, as duas que surgiram dessa reclamam as suas fundações respectivas para a data da anterior tuna mista. Será, quiçá, um dos mais claros exemplos dessa postura. Por outro lado, há casos onde a data de fundação apenas e só reflectiu uma mera data mais significativa, por força da maior preocupação em fazer, em exercer do que propriamente outra coisa; ás tantas até haverá Tunas que se dizem nadas num determinado ano mas antes dele já exerciam actividade de facto enquanto tal, enquanto instituição. Pelo oposto, haverá também quem faça uma espécie de reescrever da sua própria história procurando os tais dizeres nos calhaus da sua Universidade que, de alguma forma, atestem alguma coisa, seja lá essa coisa o que for, que nunca é a coisa que conta.

Claro que o colocar em bicos de pés assenta sempre que nem uma luva aos que mais abanam o estandarte da antiguidade, tenham-na ou não; caso houve em Portugal, pasme-se, de duas tunas reclamarem a mesma Tuna como "mãe", sendo certo que pelas amostras de DNA concluí-se que a mesma não terá deixado qualquer descendência directa. Ou seja, duas tunas a querer a herança que não existe porque não a legou seja a quem seja; Esta nem o CSI conseguiria resolver....

Respeitar a história de uma Instituição não é colocar-se em bicos de pé; só o faz quem, por alguma razão, sabe que a história que conta está ou mal contada ou contada às pingas, desfasada, desgarrada, desconectada, não contando toda a história. Até por isso a Primazia acaba por ser, quando é apregoada aos sete ventos sem razão aparente, uma mostra de tremenda insegurança quanto ao que se é, pois não se percebe porque antes se era assim; É muito fácil cavalgar coisas de gente que não se conhece....

É por estas e por outras que a coisa do Primvs Inter Pares acaba por ser do mais inócuo que pode haver. Faz-me lembrar certa ocasião, numa festa popular do interior do país, onde por "acidente" fui parar, quando, e no público à futrica estando, olho para cima do palco das festividades e escuto dois "compinchas" de outras tantas tunas que lá estavam prestes a tocar e passo a citar "estão aqui as duas melhores Tunas de Portugal"! Por momentos, senti-me um cidadão do Kiribati, esperando que as águas me afogassem no meio daquele público, não fosse alguém no mesmo me reconhecer como Tuno e me viesse pedir alguma "satisfação" pelo dito acima em palco, como se eu tivesse alguma coisa a ver com aquilo......

Comentários

Eduardo disse…
Não será antes a da "prima azia"?...

Ou da "prima ásia"?

E quanto mais prima... já lá diz o ditado.

Sem azias,

aquele abraço!
Pode dar-se o caso, claro, evidentemente. Mas lá está, vai tudo da real importância das coisas e da forma como elas são propagadas aos sete ventos. Há quem sofra da tal azia, há quem sofra de excesso de narcisismo e por aí adiante. Agora, vai de cada um saber interpretar e relativizar as coisas.

Quem a tem - primazia - naturalmente não precisa de mais delongas. É a minha profunda convicção.

Abraços!
António Pedro disse…
Caro RT:

Espero que este post não tenha nada que ver com o da Estudantina Feminina no PTunas. “As Garotas" não são nenhuma obra de ficção e estiveram de facto em actividade na Secção de Fado entre 1988 e 1990. Acabaram presumivelmente por falta de rumo artístico. Seguiu-se-lhes a “Tuninha" que também não singrou, dando origem às Mondeguinas. Para o comprovar existem gravações do Sarau em que se apresentaram, que te facultarei com todo o gosto. Talvez fiques é chocado, eheh. Abraço
J.Pierre Silva disse…
Bom apontamento!
O Aventuras sempre a bombar!
Caro António Pedro, de todo, de todo!

Nem sequer me reportei à - feliz - fundação da novel Estudantina Feminina de Coimbra. Aliás, uso exemplos sem os mencionar e apenas para caracterizar, nada mais. Seguramente que e no caso, não me reporto a esta última, de todo.

Meu caro, ao fim destes anos todos, o difícil será ficar...chocado. Em todo o caso ainda sou gajo para admitir que algo de bombásticamente "novo" o consiga fazer...:)))

É esta Aventura apenas e só mais uma crónica de costumes. Mais nada. Agora cada um que a leia da forma que bem entender!

Á nova Estudantina Feminina de Coimbra só posso desejar muito sucesso e felicidades; aliás, sou muito caro a tudo o que for pedrada no charco (entenda-se como tal projectos sérios). Parece-me ser o caso. Coimbra está, de facto, a mexer-se! E ainda bem!

Abraços!!!!!!!!
Aliás, meu caro António:

Seguramente que os exemplos que dei os mesmos saberão que o são; a "suprema tragicomédia" é que, muito provavelmente, alguns nem disso se dão nota.....:)))

O meu mais sincero apoio à EFC pelo seu surgimento; quem me conhece sabe porque apoio tudo o que nasce e se propõe a ser sério. Estou naturalmente convosco, meninas!

Abraços!
António Pedro disse…
O António Pedro chama-se Capacete. Já não publicava nada no blogger há séculos, nem me lembrei de assinar!

Quanto ao resto, penso que ficarão contentes pelas palavras de incentivo (e bem precisam delas).

Cumpre referir apenas que tanto quanto sei a TUNAF é a tuna feminina mais antiga do país... em actividade. E ainda bem que o são, porque são, de facto, incríveis!

Ah, e disse que ficarias chocado porque... imagina uma espécie de pitagórica versão tuna e feminina, numa gravação manhosa nos idos dos anos 80. Aí tens "As Garotas". Se não chega para te assustar é porque estás muito bem vacinado, eheh.

Pena tenho de não conseguir perceber a quem te referes, de facto, no teu texto, porque fiquei com alguma curiosidade. A minha posição é: a idade trás responsabilidades. Nada (mas mesmo nada) mais.

Um abraço RT
Ó Capacete, amigo Capacete....já tou tão entradote que nem assinando como António Pedro me "enganaste"....:)))))

Começo pelo - teu - final. E que diz tudo, mais uma vez: A idade trás responsabilidade. Ora cá está a "palavra da Salvação". Daqui em diante quem *ijar fora do penico tá a "pôr-se a jeito", deduz-se.....:)))

Quanto a antiguidades: Ás tantas vão ser descobertas coisas muito interessantes sobre essa - e outras - matérias. Em Bragança vamos abrir o livro, não literalmente mas pelo menos com algum "estrondo", presume-se; não é que seja pelo barulho do estrondo em si mas mais pelo que é o tal "pressuposto dogmático" e que caí com uma "pinta" descomunal....:)))

Quanto a vacinas; acho que depois daquela da Febre Amarela que tomei em idos do Século passado, dificilmente algo me poderá surpreender...em todo o caso, vamos lá pegar o toiro de frente, caso haja...:))))

Quanto à EFC: Só me posso colocar ao lado delas. Incondicionalmente. Se é o que julgo que seja - e vindo de onde vem nem questiono a intenção e o berço - então podem contar com mais um fã (não, não é piada a ninguém...!!!!). Têm aqui um "Embaixador". Porquê? Remeto para a ultima "Aventura"....

Quanto ao teu ultimo parágrafo: Um dia destes conversamos como deve ser; ou com as barrigas encostadas ao Bar ou com os pés por baixo da Mesa....é só combinar. Aí chegados já sabes com o que contas.....::)))))


Abraços desde a Invicta!
Caro Capacete, aquele abraço!

Aproveito a oportunidade para te pedir algo e com urgência, se fizeres o favor:

Dizem as meninas da EFC que existiu, em idos de 1988, um agrupamento intitulado "As Garotas".

Serias capaz, porventura,de me enviar provas documentais e factuais da existência da mesma?

Se sim, grato!!!! Se não, grato à mesma!

Abraços!