A Aventura do Peso Certo......

Esta é daquelas que volta e meia, assaltam as mentes de alguns, poucos. Acho até que, de forma mais directa, nunca foi coisa abordada. Mas pronto, cá estamos a fazer a pergunta que engasga - alguns: Será que o nome tem...peso? A denominação pode ser algo a pesar? Influi o suposto peso do nome que se tem? Ainda há aquela coisa do pedigree, tipo as famílias brasonadas e depois a ralé, o povo? Será que esse pedigree não será hoje uma coisa esticada para os cantos, uma espécie de pedigree pal (plus) nesta imensa televisão tuneril??? Ou não, ainda contará a origem e a heráldica familiar como atestado automático de idoneidade tuneril???

Depois de muito pensar em torno da matéria, a resposta será nim, ou seja, nem uma coisa nem outra, nem sim nem não, muito pelo contrário; há efectivamente uma zona cinza, neutra, uma terra-de-ninguém, um Paralelo 38, onde e caso a caso, poderemos perceber muitas coisas, efectivamente. Se por um lado, parece evidente que - e na sequência do "boom" - muita da denominação adoptada - principalmente a que recorreu aos prefixos ao termo "tuna" e não só - encheu a nossa iconografia de N nomes, alguns perfeitamente disparatados, outros até a descredibilizar o todo do fenómeno, que fará a própria (nas tintas para essas coisas, seguramente), já outra linha tomou esta questão da forma mais simplista e quanto a mim mais lógica, a denominação tal qual ela é ou deveria ser, aquela que traduz somente o que está à vista, sem paródias semânticas pelo meio. Parece pacifico.

Depois há nomes que, aparentemente jocosos e/ou parodiantes, resultam na prática em algo credivel - crédito que se constrói paulatinamente - e há outros que, com nomenclatura tão higiénica, vai-se a ver na prática e afinal não passa a higiene do nome, porque no resto a coisa muda de figura; são as excepções à regra acima, será bom de ver. Olhando para o cenário geral, poucas são estas excepções, vamos convir, o que atestariam a aparente regra. Algumas tunas até foram fazendo uma certa inflexão nesta matéria, ora adoptando a forma mais simplista ou então abandonando a mesma e resgatando uma forma mais "formal" de denominação.

Certo certo é que em certas e determinadas situações, ora o suposto peso é abanado qual estandarte pelos próprios ou então assola as mentes o dito cujo pesar mas agora de terceiros. A questão nem estará, porventura, na dimensão e extensão histórica do nome e seu significado, seguramente. Estará porventura e antes a questão do suposto peso em causa quando se trata de aferir a sua real importância ao momento certo, concreto, de facto; aí sim, é que a questão se pode levantar, mais digo, levanta e em alguns casos, confunde. Sempre os mais incautos e desavisados, claro está.

Um dos vários problemas a jusante da tuna estudantil portuguesa prende-se com a constante confusão que alguns, muitos, operam entre dois conceitos completamente distintos: orgulho e arrogância. Orgulho não pode ser a ante-câmara de algo mais nefasto como o é a arrogância; pior, quando esta ultima é a gasolina que move o suposto orgulho; pior ainda quando essa arrogância vem somada ao tal pedigree pal plus que vem de longe-  qual "Constantino" - não se percebendo então porque hoje, ao invés de arrogante não se é somente orgulhoso de feitos que, regra geral, em nada contribuíram para - porque feitos passados. Para ajudar à festa, esse pedigree pal plus surge hoje como uma espécie de "trunfo adicional" que, pasme-se, serve - supostamente - para os dispensar de algo ou então para os elevar à partida a uma condição supostamente "inabalável", uma espécie de pole-position sem cronometragem de tempos e face aos demais, sejam eles quem forem e onde for. Nada de mais absurdo, diria até.

Mas quem, afinal, caí nesta falácia onde se procura capitalizar algo que merece sem dúvida respeito, orgulho dos mesmos e demais salamaleques derivados mas que em caso algum pode servir para mais do que isso, para discriminar positivamente ou negativamente?  Quem embarca nisto, afinal? Quem é desavisado, quem não distingue o lógico, evidente e claro como água. A Prima do Mestre de Obras não é a mesma coisa que a Obra Prima do Mestre, como bem sabemos. Como a Estrada da Beira é uma coisa e a beira da estrada outra.  Não se trata de uniformizar ou normalizar, nada disso. Trata-se antes de distinguir-se claramente, respeitando quem tem vetusto background, pedigree, linhagem ou LOP e por aí fora, e nada a obstar - e eu muito menos, até como curioso sobre a história tuneril que sou, respeitador incondicional da mesma - entre o que se é e/ou foi e o que se faz ou deixa de fazer; são verbos distintos, claramente: O que somos e o que fazemos não é a mesma coisa. Confunde-se muito dois conceitos que são na sua génese distintos, completamente distintos, ainda que se cruzem. Cruzem, mas não devem confundir - nem confundam.

A diferença entre os anéis e os dedos é que os primeiros são sempre dispensáveis - mesmo que de família, a transitar de geração em geração - e os segundos já não, fazem falta, manifestamente, porque mais importantes, fulcrais, valiosos, indispensáveis. É esta diferença que faz toda a diferença, porque a mesma demonstra claramente o que é importante e o que é acessório, dispensável, mesmo que respeitável até. Podem ser anéis muito bonitos, da colecção privada da Coroa Britânica até; sem dedos para os colocar de nada valem, não passam de peças de museu para inglês ver.

O Peso Certo, é, afinal, a mistura em doses equilibradas do cruzamento do que fazemos com o que somos. Quando há desequilíbrio, naturalmente algo está errado; o problema é que se porventura poderemos ser aquilo que fazemos, já não fazemos apenas e só porque... somos ou fomos; Lenine era comunista e andava de Rolls Royce; na verdade, dizia-se comunista quando tudo o fazia, afinal... capitalista (menos o parlapié).

Estou particularmente à vontade para discorrer sobre esta matéria e por motivos cronologicamente óbvios. O que, curiosamente, me deixa mais à vontade ainda para perceber e apreender todo o contexto em questão. Concluo, pois: Não há qualquer duvida que os nomes pesam e devem pesar mas apenas e só naquilo que deve, exclusivamente, ser ponderado, respeitado e com isso, acarinhado até. Fora desse âmbito mais, digamos, romântico/histórico, deve ponderar sim aquilo que se é, tenha-se o nome que se tenha (preferencialmente bonito e decente, vá....:)))))) ) e mostrando orgulhosamente sempre o que se faz (e não arrogantemente o que se julga bem fazer.....). O que num contexto mais abrangente como o nosso, o tuneril, obriga todos a portarem-se à altura dos acontecimentos, sabendo-se distinguir aquilo que é distinto, sabendo-se perceber o que é para ser percebido, sem mais delongas. Nem se espera outra coisa, sequer.

Comentários