Há gente que insistentemente
baralha tudo, confunde alhos com bugalhos, troca as coisas todas que são
impossíveis de trocar por natureza, bastando apenas um pequeno esforço mental
aliado a uma boa dose de honestidade e moralidade para perceber o que realmente
está em causa, do que se trata, do que realmente importa. Na tuna nacional
estudantil então, é um fartote. De riso, às vezes, tal é a desonestidade moral.
Uma coisa é uma coisa, outra coisa é…outra coisa.
É uma gente que vive
permanentemente no engano e gosta, nunca se desenganando, pois. Alimenta-se do
engano que cuida como a uma flor, nem sequer admitindo que porventura possa
estar a regar uma planta daninha. São aqueles que quando escutam a “Ana Lee” dos
GNR juram a pés juntos que o Lótus Azul é o carro do Rui Reininho, que com a
mão sobre a cabeça do próprio filho proclamam que o Papa Nicolau existiu e era
português e que a Junta da Colaça é uma freguesia algures no interior norte de
Portugal. São os que não percebem que a Obra-prima do Mestre não é a mesma
coisa que a Prima do Mestre-de-obras – por muito boas que elas sejam, ambas – e
que acham ainda que um homem feito de pau é a mesma coisa que um homem de pau
feito – mesmo que o Pinoquio demonstre o contrário e apelando à nossa inocência
mais cândida…
Continua-se a entender a tuna
estudantil como um prolongamento da Praxe quando não o é; continua-se a
entender a tuna estudantil como uma coisa exclusiva dos estudantes quando não
é, estes é que a foram resgatar ao seio popular. Continua-se a achar que tuna
que é tuna toca só em português e temas populares quando de todo, nada disso,
não é o que mostra a história sequer. Continua-se a achar que tuna que é tuna é
meia bola e força no malho em cima da pele do bombo qual Mariante do Rio Douro,
ferrinhos tocados como se se tivesse Parkinson (com o devido respeito por quem
sofre desta terrível doença) e a camisa do traje bem tingida de Touriga
Nacional. Não, meus caros, estão enganados, nada disso é tuna. Foram
Vªs Exªs enganadas. Fortemente. Quem vos vendeu essa “noção” de tuna vendeu-vos
vinho a martelo, da melhor contrafacção que pode existir.
Mas pior que estar enganado –
como o ultimo a saber anda, regra geral este tem um nome que apela à
tauromaquia – é persistir no erro mesmo depois de alguém,
mais, digamos, atento, o alertar para a falácia onde se encontra mergulhado. A
Tuna é um agrupamento musical por excelência, que em Portugal nasce no seio
popular e é resgatado depois pelo meio estudantil, quer liceal quer
universitário. Tocava sentada então, nos seus primórdios e as peças que
interpretava eram quase exclusivamente instrumentais, num processo dinâmico de
adaptação dos temas populares de cá e de outros países e de temas clássicos interpretados por outros
grupos que, então, eram inacessíveis ao comum mortal. Ouvia-se Mozart pelas
tunas porque o Povo não tinha acesso à música clássica e dita de erudita de outra forma. A Chotiça mais não é que a adaptação
popular portuguesa de uma dança escocesa (scotish » chotiça). Há que dizer o
óbvio: Quem sabe disto e sabe alguma coisa sobre a tuna não pode continuar a
dizer que tuna que é tuna só toca música portuguesa e popular; quem o diz
nestas condições ou é burro ou é mal intencionado. Não,
não tem de tocar só musica popular portuguesa, não, é mentira, é tanga, não há
nada que prove isso. Se lerem um programa de actos de um espectáculo na transição do Século XIX
para o de XX – primórdios da tuna estudantil nacional – não encontram um único
tema popular português no reportório apresentado por qualquer tuna de então:
nem um. A tanga do popularucho tuga tem 25 anos e foi impingida por alguém que
disto nada sabe, puto, nickles, niente.
Uma coisa é uma coisa, outra
coisa é outra coisa. Que não se queira aprender sobre algo acho pessoalmente mal mas respeito a opção pela ignorância
desde que depois não venha o ignorante armar-se ao pingarelho e assumir-se como
grande Mestre (de Obras, prá aí, sem prima boa ainda por cima…) sapiente em tunas. Quem não
sabe pois que das duas uma, ou procure saber ou se cale. Propagar mentiras é
que não, já bastam os últimos 25 anos tuneris portugueses, eles mesmos pejados
de tangas, petas, trotes, calinadas e bazófia que baste.
Uma coisa é uma coisa, outra
coisa é outra coisa. É absolutamente inaceitável o culto da ignorância e do
erro sistémico logo no meio que mais exigente deveria ser para com o rigor, a
excelência e a investigação. Inadmissível. Até para o Mestre.
Comentários
Não é que eu, há cerca de um mês atrás, estava com uma das minhas tunas num terra muito bonita em Portugal (para não ferir susceptibilidades vou só dizer que tem uma Ponte e fica perto De um rio chamado Lima), onde íamos tocar a concurso num festival organizado nessa belíssima localidade, e estava eu sentado numa esplanada junto ao tal rio, com os meus camaradas, e a tocarmos e a cantarmos músicas para nossa distração e eis que, uma moça lá da localidade, e tunante, me diz: 'Olha lá, porque é que vocês cantam temas espanhóis e brasileiros? Vocês não sabem que isso não é de Tuna? As Tunas só tocam em Português!'
Rapidamente respondi: 'Mas tu não sabes que nós não somos uma Tuna? Somos um grupo de extraterrestres que vestiram um traje académico, arranjamos instrumentos musicais típicos das Tunas, e estamos aqui para te chupar o cérebro! E como seres de outro planeta temos alguma sensibilidade musical e escolhemos Músicas bonitas para tocar... mas tens razão... para nos misturarmos melhor nas tunas e levarmos a cabo a nossa tarefa de vos chupar os cérebros, vamos tocar antes a Mulher Gorda e o Pito da Maria!'
A moça respondeu: 'Olha que parvinho!'
Ao qual retorqui: 'Pois é menina... mas para perguntas parvas, respostas parvas!'
O problema é que esta não foi a primeira vez que me disseram isto... e tenho receio... que não irá ser a última!
Um oceano de diferença: "As tunas só tocam em Português" está ERRADO. Certo é "As tunas TAMBÉM tocam em Português".
O problema aqui é como quando nos deparamos a olhar para um helicóptero; sabemos o que é, até já andamos nele mas sempre que vemos um lá ficamos a olhar pró ar como se fosse algo absolutamente novo, inédito, quase marciano - citando-te - mas não, está ali, já vimos muitos a voar e assim, mas sempre que ele aparece mais pertinho, pronto, lá ficamos embasbacados. Aqui, o helicóptero tuneril é a verdade das coisas, "apenas" com um senão - e que senão: Muitos juram a pés juntos que o helicoptero só o é se for Amarelo tipo INEM e com letras SÓ em Português, caso contrário "não é um helicóptero, é a passarola do padre Bartolomeu de Gusmão - que, como esta "balta jobem" sapiente comó caraças sabe, é o orgão genital da moçoila que limpa o Confessionário todos os dias.....e pronto, é isto...
Outra coisa diferente é a Dona Rosa - que faz uns filetes de pescada soberbos, há mais de 20 anos - querer que em todas as casas do mundo só se comam os seus filetes de pescada. Todos os dias.
Aí dir-lhe-ia: com todo o respeito, Dona Rosa, estou farto de filetes de pescada.
Aquele abraço.
Capacete
Que não permitem que a mesma se cumpra, se afirme, se desenvolva e evolua por si, criando e tendo o seu próprio regulamento interno sem que este tenha de passar obrigatoriamente pelos seus olhos e aprovações?
É isto legal?!
Que fazer nestes casos em que a visão no seio académico é (demasiadamente)limitada para perceber que os errados são os que estão em contramão na autoestrada e que por sinal são eles próprios e não o resto do mundo lá fora?
Deixo este comentário mais como um pedido de ajuda e orientação do que meramente como uma descrição ridícula de uma realidade ainda existente.
"O mito é o nada que é tudo..." já lá dizia o outro.
Por mais que Deus queira e a obra até nasça... se o Homem não sonhar... nada feito.
Mas "eles não sabem nem sonham", meu caro.
Que um tuno de cada vez abra os olhos. Basta que um de cada vez o faça e haverá (como dizia Ary dos Santos) "uma besta humana que rumina" a menos a dizer - e fazer - parvoíces.
Um de cada vez. Não é preciso mais.
Abraço!