A Aventura do P.R.E.T - Presto



"A Tuna nacional é profundamente néscia - e na generalidade - no que toca à sua própria génese, natureza de facto, espaço vital, importância cultural e acima de tudo, no que se reporta à sua própria percepção daquilo que é de facto, a tuna estudantil; subsiste o equívoco Supremo: "Sou tuno, logo sei tudo sobre a tuna". Nada de mais falso por arrogante postura."






É, seguramente, a conclusão mais polémica e central de todo este P.R.E.T e que deriva, uma vez mais, do estudo feito no âmbito da obra “Qvid Tvnae”. Tão polémica quão verdadeira por facilmente comprovável, e que atravessa transversalmente todo o fenómeno, diria até: Não há aqui qualquer inocência ou, por outro lado, má intenção, apenas constatação de facto: A Tuna nacional é profundamente néscia no que toca ao seu próprio conhecimento.


Compreende-se, pois, a enorme incredulidade que tal possa originar; afinal, escutar vezes sem conta a mesma história e mais tarde a mesma ser honestamente desmontada com factos e provas, passando o que sempre foi tido como verdade à condição de mentira, não é, efectivamente, algo de fácil digestão seja para quem seja.
Mais para mais numa comunidade que, regra geral, não se preocupa com o estudo do que fomos e somos mas antes e sim com a mera fruição e vivência tuneril – o que não sendo pernicioso, muito pelo oposto, não propicia a uma postura dialéctica (praticar algo nunca foi impeditivo do estudo sobre a matéria em apreço; aliás, estranha dualidade maniqueísta que apenas se pode articular com um único fim: tentar justificar a ignorância quando o saber e conhecimento está, hoje, disponível e acessível).


Contudo, não será por não se querer saber algo que esse algo não ocorreu, não aconteceu ou não sucedeu. Uma coisa será a nossa postura perante o fenómeno (mais ou menos vivido, mais ou menos estudado, etc) outra será necessariamente o apurar dos factos, sua veracidade e comprovação de Jure. É preciso notar que e até ao “Qvid Tvnae” nunca foi feito em Portugal um trabalho de pesquisa sério e rigoroso de arqueologia tunante, de recolha de textos, imagens, jornais de época, clichés fotográficos, etc, passando pelos livros estrangeiros existentes, cruzamento de dados, entrevistas até, que devidamente tratados levaram – e até prova cientifica em oposto – ás conclusões vertidas no mesmo livro. Pela seriedade do trabalho de 5 anos efectuado e pela seriedade emprestada à mesma pesquisa pelos autores é a mesma obra, por essa razão, inatacável; Tudo o que é dito é, pois, comprovado e verificável, aberto à dialéctica – ao contrário do comum tuno português, que a nega sumariamente. Estranho, vamos convir.


E nega o tuno português essa mesma dialéctica por 3 ordens de razão genéricas, que se subsidiam umas às outras e em casos extremos, até se canibalizam:


1º) O Tuno português espelha e resume o seu parco saber tuneril na sua própria prática reiterada:

Recusa, por isso, a dos outros liminarmente, seja na forma praticada, seja na forma teórica. O que não viveu e não vivenciou nada vale. A recusa de outra perspectiva que não a sua é, pois, uma característica morfológica. Pior, desdenha quem a tem, quem a apresente, quem a comprove. A assunção de que basta/bastou ser/ter sido Tuno para saber de facto sobre a Tuna é o hall de entrada da ignorância tuneril.


2º) O Tuno português lida facilmente com a Verdade Tuneril dos factos apenas e só se os mesmos lhe forem convenientes:

Não o sendo, deixam de ser factos passando automaticamente a opiniões, logo, algo menor e que apenas vincula o opinador de ocasião. O contraditório só é possível quando o que se escuta do interlocutor lhe é simpático, se não o for então deixa de ser contraditório e passa a ser arrogância. A enorme aversão à dialéctica e espírito crítico com abertura de mentalidade é, pois, carácter genético do tuno português. O que num estudante universitário será, no limite, deveras preocupante.



3º) O Tuno português reproduz rapidamente o erro sem tão pouco se questionar; ao mesmo tempo critica o Rigor e a Verdade questionando tudo e todos excepto a questão nuclear:

É notável esta característica pois consegue eficazmente elevar o erro à condição de dogma mas que, em simultâneo, tenta impedir a prossecução do Saber com rigor e verdade questionando tudo aquilo que colateralmente é possível usar para criticar (o autor, o pesquisador, o estudioso, o seu cabelo, o seu discurso, a sua escrita, o seu hálito e assim sucessivamente) na certeza de que é impossível atacar a questão nuclear por única a tratar; não sabendo da matéria de facto - mas julgando saber - ao querer contestar nunca o faz quanto à questão substantiva mas antes e sim contesta e ataca tudo aquilo que nada tem a ver, por manifesta falta de conhecimento tuneril que lhe permita dirimir o assunto substantivo.


Compreende-se algum induzir em mitos, erros, falácias originárias do “boom”, onde o suposto conhecimento então era propagado pelo nada rigoroso e muito menos cientifico “diz-que-disse-porque-ouviu-dizer-assim-e-assado” ao tuno XPTO da conceituada Tuna ZYX.  Compreende-se que se tenha dito – como eu tantas vezes disse no passado, mea culpa faço – que as tunas eram idosas respeitáveis nascidas no Século XIV ou XV, quando apenas na segunda metade do de XIX nasceram tal e qual as conhecemos e com as características que detêm grosso modo. O que era assim passou, por isso, a ser assado. Citando o Povo português sempre sábio, “p´ra melhor está bem, p´ra pior já basta assim”, num perfeito exercício, aliás, de aplicação da tal dialéctica que falta ao Tuno português, curiosamente. Novamente estranho.


Compreende-se de igual modo que para o Tuno que esteve e tunou no “boom” muitas das actuais revelações trazidas à superfície sejam profundamente chocantes, quase obscenas até, porque foram “educados” (mal, constata-se hoje) num contexto que vivenciaram e onde se reproduziam frases soltas – mas carentes de contexto, como se fosse possível p.ex. dizer a data exacta em que nasceu o Barroco, um absurdo, naturalmente – que foram “fazendo escola” dogmática – desde o Califa de Tunes passando pelo Sopista, indo até ao trajar do caloiro e passando pela não menos maravilhosa concepção de que a Mulher não pode estar n uma tuna, entre outros erros de Lesa Tvnae – e que, hoje, perante novas revelações e constatações, percebendo que o que era X, afinal, é Y, possam tais dados novos e recentemente trazidos à to[u]na provocar choque, imensa desconfiança no que é agora dito e, quiçá, alvitrar uma ou outra denominação menos graciosa a quem deu à estampa tais factos. Percebo perfeitamente. O que não invalida em nada a realidade dos factos hoje claramente enunciados, deve-se notar.


Poderão, até, alguns dizer que o que lhes interessa foi somente o que viveram e vivenciaram. Naturalmente. Eu mesmo digo tal, nada aqui a obstar. E porque nada a obstar nessa vivência de cada um, não obsta de igual forma tal à Verdade. Não querendo dizer que o período do “boom” foi uma mistificação – porque intensamente vivido pelos seus actores de então – parece hoje inegável e evidente que teve tanto de intenso como de néscio; Viveu-se até ao limite mas em contrapartida não se soube nem procurou saber como de facto as coisas era, são; Pior, passando mitos, lendas urbanas, dogmas de ¾ de mês como sendo factos, verdades, que de tal – hoje, constata-se – nada terem.


Foi essa [i]lógica do “boom” que foi sendo transmitida e que hoje, na posse de dados fidedignos, deve ser desmontada de forma elevada, correcta e comprovada. Tal é finalmente possível. Eis a suprema reforma de mentalidade a operar na tuna nacional: Mostrar porque razão o Pai Natal não existe. O verdadeiro impacto das provas factuais agora reveladas não se fará notar actualmente – infelizmente – mas sim a médio/longo prazo. Até lá, operar a mudança das mentalidades, essencialmente. E esperar que as mesmas sejam capazes de saber colocar em causa tudo o que dizem e julgam “saber” e que hoje se comprova que, afinal, não.


A Tuna portuguesa tem História e cultura próprias. Que não têm 25 anos. Tem mais. E muito para contar, descobrir, saber. Assim queiram.



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