A Aventura da Sapiência..




Antes de mais, um pequeno abrir de aspas para explicar este interregno: Respeito pelo desaparecimento físico de um amigo, apenas. Nada mais que isso.


Aspas fechadas, pois.


Dizia-me no outro dia, em modo Facebook, um amigo que muito prezo, algo como isto e sobre o livro do qual sou co-autor e cito "quando os pseudo métodos pedagógicos de enfiar a verdade pelas cabeças dentro derem lugar ao verdadeiro ensinamento." 


Ora, apraz-me tecer uns quantos considerandos sobre a reflexão em cima, na expectativa de que a frontalidade - que prezo, aliás - constante na mesma tenha eco na devida proporção, graciosamente pois então: a falar é que as pessoas se entendem. E comecemos precisamente pelas pessoas.
 

Um livro, qualquer um,  é escrito por pessoas, naturalmente.Obviamente que dependendo do contexto, temática e objectivos, o livro pode ou não reflectir o que é o seu autor. Parece pacifico. Quando se trata - como se trata este no caso - de um livro cuja metodologia é a investigação, de cariz histórico, factual portanto, onde até prova em oposto são apresentadas provas do que é dito e escrito, parece-me absolutamente irrelevante avaliar a obra pelo autor e não pelo que ela é, mostra, demonstra, comprova. Já antes tinha escrito sobre esta pseudo-dualidade - que não se coloca, de todo - entre quem escreve e o que é escrito. A tentativa de diminuir um escrito por força da sua autoria não é um exercício inteligente; ao invés, deve-se rebater o escrito de forma então a diminuir o trabalho feito pelo autor. O cerne da questão está, no caso em apreço, repito, no conteúdo da obra e não no seu(s) autor(es). O Príncipe é uma fantástica obra sobre politica, tenha sido Nicolau Maquiavel um tipo porreiro ou não - e aqui a doutrina diverge...



Depois, o que se entende por "enfiar a verdade pelas cabeças dentro"? A verdade é diminuída por força do estilo do discurso, pergunto eu? Ora, se é, mutatis mutandis, pode sair reforçada por força de um discurso mais, digamos, comedido, certo? Pois eu acho que não em ambos os casos. A verdade inserta no conteúdo não é mais nem menos verdade por força da forma como ela é propagada, goste-se da forma ou não; essa falácia tão cara nos dias de hoje, onde a mentira repetida ad nauseam assume, por força disso mesmo, contorno de verdade dogmática. Conviria aos mais incautos perceber que uma verdade vale por si só, independentemente de qualquer outro considerando mais, digamos, mundano.Compreendo que se possa misturar conceitos tão dispares entre si como o são o da verdade e o estilo de retórica: contudo, o outfit não define o conteúdo. No mundo tuneril nacional todos os dias somos bombardeados com estilos, estéticas, retóricas absolutamente execráveis; no entanto nada disso altera o essencial, a verdade dos factos. As aparências cada vez mais iludem.


Se por um lado compreendo o dito spam na passagem da mensagem como senso algo desagradável, não me parece minimamente justo e até justificável, por outro, que tal exagero hipoteque o essencial. Até porque tal hipoteca para ser exercida carece de algo fundamental: Ter conhecimento, ter lido a dita cuja obra. É fácil dizer-se que o Mein Kampf de Hitler é uma heresia. A pergunta que fica por responder é quem o leu e o que dele concluiu. Parece claro que muitos falam do titulo do livro sem nunca o ter lido de facto. Quer o Mein Kampf quer outros livros que por aí existem. Não me parece sensato.


Finalmente, o dito verdadeiro conhecimento. Não há falso conhecimento, que eu saiba; há conhecimento ou desconhecimento, simples, não carece de grande teorização. Nem sequer catalogo de falso conhecimento o reiterar da mentira como sendo verdade; uma mentira não ganha credibilidade por ser repetida até à exaustão. O conhecimento procura-se, cultiva-se, busca-se, persegue-se. Isso é conhecimento, ponto. O resto é desconhecimento, ponto final. É como a Praxe, não há boa nem praxe, há Praxe e depois casos de Policia. Aqui é a mesma coisa. 

Não queria ficar com essa sensação mas por vezes, assumo, assalta-me tal feeling: É confortável ao ego que haja algo que sirva para explicar a nossa preguiça em querer aprender mais; um bode expiatório é sempre uma desculpa para algo, uma fuga para a frente. Não sei, mas é o que me parece por vezes. Espero estar enganado e sinceramente, acreditar que o conhecimento se procura, se cultiva, simplesmente, sem grandes delongas, spams ou feitios assim ou assado resultantes de uma fulanização qualquer que, por muito tentadora que seja não serve de nada quanto à questão substantiva. Um livro nunca, em caso algum, pode ser incómodo. Nem os Versículos Satânicos de Salman Rushdie sequer. Ou o Mein Kampf. Aliás, se muitos tivessem lido este ultimo então e a seu tempo, provavelmente não teria ocorrido a 2ª Guerra Mundial. E já na época o "tio" Adolfo era antipático à brava.


 
Nada pessoal. Aliás, se fosse, o erro seria o mesmo: Deve-se ler o livro, qualquer livro, pelo que ele contém. Não por mais razão alguma. A não ser que não se queira saber o que lá consta. E aí, nem prego nem estopa; querendo opinar-se há que saber algo sobre. Digo eu. Caso oposto, corre mal. 



No mundo tuneril nacional quando se trata de observar e reconhecer o conhecimento a coisa assume contornos no mínimo ridículos, investindo-se mais tempo e recursos em procurar diminuir quem sabe ao invés de se canalizar os mesmos esforços e recursos para o conhecimento de facto. Sempre foi assim. Até por isso um livro sobre a Tuna estudantil é uma aventura a dobrar: 1º) pela temática em si e 2º) pela urticária que causa precisamente aqueles que deveriam ser os últimos a coçar-se de incómodo: os Tunos. Pela minha parte é para o lado que melhor durmo; não preciso de promover nada nem ninguém sequer. Porque acredito no valor intrínseco das coisas. Como sempre disse a melhor publicidade a um livro é o próprio livro. Logo, aguardo antes e sim - coisa que até agora teve 3 ou 4 ocorrências registadas - criticas ao livro depois de lido. O resto é...o resto.

Comentários

OMEGA disse…
O que eu acho que o "QVID..." tem de bom é precisamente colocar as perguntas, procurar os dados da respectiva resposta e deixar ao leitor concluir em função desses dados. Não é papista nem fala de "cátedra". E como os autores lá referem, se não mais, pelo menos vale como apontador de caminho para a investigação... e a sabedoria daí resultante.

Abraço
JPS
Eduardo disse…
Contra a Sapiência...paciência...

Muita...

Abraço!