A Aventura da Fossilização



Começa a ser recorrente mas de facto, não me deixam alternativa, lamentavelmente. É que quando se pensa a música como algo a oferecer ao público, troca de sensações, emoções e sentimentos, provavelmente não ocorreria cair-se nessa fossilização. Passo a explicar-me:







É cada vez mais o prato do dia nos certames e desde há uns anos para cá. A lógica tenderia a indiciar o total oposto, ou seja, a produção artística e a criação em massa, até, como forma de diferenciação, afirmação e projecção de cada agrupamento, de cada tuna. Ora, temos precisamente o oposto - salvo raras e honrosas excepções - que se traduz num arrastar penoso, repetitivo, Ad Nauseam, num constante repetir de temas com 20 ou mais anos em alguns casos, para os quais o comum espectador já não terá qualquer reacção excepto o bocejar e dar por mal empregue o seu tempo e dinheiro do bilhete. Percebe-se que para alguns espectadores de ocasião - que nunca viram um espectáculo deste género musical - seja tudo novo; acontece que a maioria dos que compõem as plateias de tunas são clientes habituais, como todos sabemos, deste género. Ora, concluí-se que as tunas que se barricaram num reportório levado até à morte apenas se preocupam consigo mesmas e não com o público supostamente o 1º e ultimo destinatário dos seus supostos trabalhos, criando-se aqui uma falácia que se explica pelo factor competitivo e por uma certa falência criativa assente numa imensa preguiça e aposta no sempre confortável "está feito e resulta".


Não é critica, sequer - cada um caça com o que tem, não havendo arte e engenho para mais - mas antes e sim uma constatação de facto, que é comprovado com toda a facilidade deste mundo. O que me parece antes e sim, criticável - mesmo observando outras premissas que são mais do legitimas, deve-se referir - é a constante aposta de alguns eventos no mais do mesmo, embrulhando os mesmos com uma áurea de novidade perante o público, quando todos sabem que tal não é verdade. Bom, cada um saberá de si e colherá, a prazo, o que semeia, seguramente. Não é algo de novo, sequer. Nem tão pouco uma critica pela critica, devo referir. O que se percebe é uma espécie de carrossel que prejudica, essencialmente, o público, não mais nada ou ninguém. E não será por falta de opções de qualidade e com inovação, seguramente. Elas existem, estão aí; não são infecto-contagiosas.....


O aspecto que mais interessa referenciar é a falta de criação e, por oposição de fase, a repetição para lá da exaustão de temas que estão mais do que gastos precisamente pela constante repetição, quando deveriam ter tido há muito o seu período de nojo e consequente luto, de forma a poder-se um dia mais tarde, re-escutar os mesmos com renovado gosto. Pode-se articular todo o tipo de argumentação e mais alguma mas a verdade é que a produção de temas novos actualmente é residual. Obviamente que se somarmos a esta falta de produtividade musical - sejam originais sejam covers sejam o que forem - uma constante repetição de cartazes em alguns certames - também os há que mudam ciclicamente os intervenientes, o que por si só, garantem sempre algum refresh à partida - temos uma clara aposta em mais do mesmo que deve, pelo menos, ser assumida; quem opta por X ou Y deve assumir as opções que toma e não travestir as mesmas. Aliás, nem adianta, porque facilmente desmontável tal argumento.


Repito: Cada um sabe de si e Deus de todos, diz o povo e com razão. Nem sequer se pretende contestar ou beliscar até opções. Tudo muito certo e cada um fará as suas e eu respeito-as, ache bem ou mal. Deve-se é assumir as mesmas. É disso que se trata aqui. Por isso parece-me falacioso, enganador e pouco honesto dizer-se que se inova e depois dar-se mais do mesmo ao público, afinal, quem escuta as tunas. E mais do mesmo falo de musica, apenas e tão só. Se quem procura inovação e algo realmente inédito, novo, tem de apostar nisso mesmo - e não em quem lhe irá dar, seguramente, tudo velho, gasto, bafiento e cheio de teias de aranha. É do assumir da opção que se trata e não da opção em si: se querem algo novo, assumam o risco; se não querem, não o assumam, apostem em mais do mesmo mas não travestindo de inovador aquilo que é precisamente o oposto disso mesmo. Agora opte-se.


Sei fazer parte de uma galeria restrita chamada de "clientes frequentes". Certo. Logo, o grau de exigência é distinto do do comum mortal que, um dia, cai de para-quedas no evento tuneril. Correcto novamente. Mas tal não invalida o facto: Há eventos que basta apenas trocar o ano e a edição que no resto são um copy/paste do ano anterior e do anterior e ainda do anterior. Uns há até que se repetem há mais de uma década em quase tudo, até nas premiações, pasme-se. Repito, são opções. Respeito-as. Mas não se pode dizer de algo que é mais do mesmo como sendo a novidade do ano. Quem opta por mais do mesmo deve no limite não ludibriar o público. É que se para alguns é sempre tudo novo - a 1ª vez tem este maravilhoso encanto - para muitos outros não o é. E a fossilização é tudo menos evolução.


Finalmente e a titulo pessoal: É uma maçada. Um tipo vai sempre na expectativa de ouvir algo de novo, de verdadeiramente novo, fresco, a estrear, reluzente. E quando regressa vem muitas vezes com a sensação de ter sido "enganado". Eu sei não ser a intenção, claro que não. Mas efectivamente é o que resta no fim. O mais do mesmo é, até por isso, um desperdício. Quando surge uma excepção a esta repetitiva "regra" eu "devoro-a" com toda a atenção e gosto. Muito recentemente foi a Estudantina Feminina de Coimbra que me "lavou" os ouvidos e me "escovou" a alma: 25 minutos de pura magia, bom gosto, novidade, qualidade, etc. Mas foi a excepção.....


A rematar, questiono: Quem e de quê se tem medo? E medo de inovar...porquê??


Comentários

OMEGA disse…
Subscrevo inteiramente.
Abraço
JPS