A Aventura da Produção...


Não é assunto sobre o qual se tenha derramado muita tinta. Aliás, quase nenhuma, em rigor.



E vem a propósito daquilo que se convencionou chamar de produção de espectáculos e no caso, produção de certame de tunas. Um dos aspectos mais "esquecidos" e tão importante, paradoxalmente, para o sucesso - ou fiasco - de um evento. E produção envolve também a de palco, outra falha clamorosa da esmagadora maioria dos certames de tunas, que nem sequer sonham o que tal seja, que fará a sua real concretização e planeamento anterior. Tudo é feito dentro do maior amadorismo deixando praticamente ao sabor do acaso o desenrolar dos acontecimentos em cenário. Mas regressemos ao certame propriamente dito.


O paradigma do certame de tunas que temos é - mais - uma herança do paradigma espanhol que importamos directamente dos anos 70 e dos seus Grandes Certamenes , com adaptações pontuais mas que, no essencial, possui rigorosamente a mesma liturgia, imutável desde o (re)-inicio dos anos 8090 do Século XX, com a sequência que se traduz na fórmula "apresentação c/jogral/apresentador/video-hall » tuna » apresentação » tuna » intervalo » apresentação » tuna » apresentação » tuna » apresentação » Tuna organizadora » entrega prémios » Final. Esta é a liturgia onde, dentro da mesma, a formula assume quase sempre a mesma metodologia. Se há espectáculos que ao longo dos tempos foram alterando aqui e ali o formato da apresentação em si mesma (deixa de ser a figura do jogral e passa a ser p.ex. uma projecção) tal não significa per si a alteração da fórmula sequencial do que se convencionou chamar de espectáculo de tunas e no caso. A sequência está lá à mesma. Logo, o paradigma é em rigor, igual a si mesmo.


Admito que possa haver certames/espectáculos que se tenham mutado a este nível mas sinceramente duvido. Aliás, em rigor, o certame de tunas em si mesmo é um perfeito espartilho a nível de produção, vamos convir, não deixando alternativa (excepto se regressar ao formato dos tempos do Franquismo, à porta fechada e só para o Jurado) quase nenhuma ao seu paradigma. Contudo, sempre que surge algo verdadeiramente fresco, novo, alternativo e eficaz, deve ser realçado, até porque potencia mais e maior interesse por este tipo de espectáculo.


Recentemente fui brindado com tal refresh pelo Festuna deste ano em Coimbra, que apresentou um formato distinto e uma produção a condizer, revelando clara preparação prévia e tempo investido, para lá de recursos afectados à mesma produção, num trabalho de casa tão moroso quão exemplar e naquilo que deve ser a produção de um evento de tunas, contando uma história - no caso, da Tuna anfitriã e ao longo do ultimo ano - que se foi "partindo" estrategicamente por módulos distintos e que foram servindo eficazmente a função "apresentação", soberbamente entregue a um speaker na boa tradição de um "John Stewart" ou "The Colbert Report",  apenas pecando por alguma extensão num ou noutro nesses módulos, o que não hipotecou em nada o resultado final - se atentarmos ao facto recorrente de que muitos certames, demasiados, com os típicos jograis e apresentadores gastam demasiado tempo útil que, se for devidamente contado, é capaz de fazer corar o organizador de ocasião.


Bem sabemos que a função dos apresentadores/jograis é importante mas tratando-se de um evento musical e no caso, de tunas,  a primazia na gestão do tempo é das mesmas - e não de mais nada nem ninguém. Casos há que as apresentações chegam a passar mais de um 1/3 do total do tempo do evento, o que, vamos convir, é demasiado para um evento desta natureza. Já nem entro aqui em considerandos que abordam a repetição ano após ano, certame após certame - de replay´s falei na "Aventura" anterior a esta.





Em idos de 1993, mais ano menos ano, em entrevista aos Jogralhos da U.Minho e para o meu então programa de rádio, dizia o meu bom amigo Quim Mendes que "há que inventar um novo modelo de festival, este está gasto", dizia ele em 1993. Bom, já naquela época se dizia do modelo como sendo "gasto". Amigo Quim, como diria Cordobita, "lo que no puede ser, no puede ser y además es imposible". Aqui é mais ou menos a mesma coisa. Mas lá que se pode dar a volta ao texto, com trabalho de casa, imaginação, recursos vários, planificação prévia e acima de tudo, vontade em inovar de facto, lá isso pode. E deve. O Festuna provou isso mesmo, tornando o espectáculo a esse nível diferente do habitual. E deixo novamente a questão: quem tem medo de inovar e.... porquê?




Comentários

Sir Giga disse…
Não esquecer, contudo, que é necessário que os intervalos entre as tunas sejam longos o suficiente para que a tuna que sai tenha tempo de sair e levar a parafernália toda (e às vezes é muita) e a que se lhe segue possa montar o estaminé. Isto pode levar mais de cinco minutos.
Os GAIJUS já tentaram mais que uma vez fazer sketches ou textos rápidos para acelerar a coisa, mas acabávamos sempre a ter que encher chouriços a seguir. Mas o Festa Ibérica também é um festival especial, já que é o único festival de jograis com tunas nos intervalos :D.