A Aventura do "Kitsch Tuneril"



Antes de mais, um pedido de desculpas aos meus "clientes" habituais: O tempo não estica e é-me complicado manter o ritmo de outrora do "Aventuras", pelo menos por agora. Certamente melhores dias virão.




Agora, a "Aventura" de hoje. É impressionante, devo confessar. A capacidade de ressurreição da ignorância no mundo tuneril é algo de absolutamente sui generis. E mais único é quando supostamente abunda num meio que deveria ser o completo oposto, o universitário, por natureza sedento de conhecimento. Presume-se.

Vou calçar os sapatos do Diabo. Tentar, pelo menos. Com tanta desgraça e coisa séria, livros e trabalhos, regras e regrinhas, elege-se a Tuna como meio para fazer fora de casa aquilo que não se permite fazer dentro dela. É uma espécie de exorcismo da condição social. Duas faces da mesma moeda que caí para o lado que se pretende e mais jeito dá. A hipocrisia do oportunismo é de tal ordem, que ainda por cima convidam os paizinhos e demais família a ir ao festival para ver as habilidades em palco dos meninos e meninas, com toda a cagança e toda a pujança, é bom de ver. Adiante.

Nem me alongo com as tangas dadas aos papás, numa espécie de virtudes publicas versus vícios privados. Vou ao cerne da questão. A entronização da ignorância como profissão de fé aliada ao famoso "o-meu-conceito-de-tuna". Duas paralelas que perfeitamente alinhadas são uma espécie de Fort Knox da tolice, do disparate e do autismo. Não permitem sequer a audição tranquila dos outros, não os lendo devidamente, não os escutando com calma, simpatia e ponderação. São dois preservativos extremamente eficazes no impedimento da propagação da cultura tuneril. E ao mesmo tempo foco da doença do "quero, posso e faço". Não se percebendo que nesta cultura secular que é, efectivamente, dinâmica, não se faz o que se quer sem que com tal não haja disso consequências. Não, não falo de coisas mesquinhas, de todo. Falo em consequências genéticas, de um fenómeno que se auto-regulou desde sempre. E é precisamente por essa auto-regulação existir que a entronização do disparate é inútil, ineficaz, despiciente, está a mais, não serve de nada, excepto adornar, florear, rebuscar, pincelar e por aí fora. Os disparates serão sempre disparates. Alimentá-los só abona contra os que o fazem e levá-los a cenário só os ridiculariza. Mas será assim tão difícil perceber-se que nós, Tuna, somos também parte do viver em sociedade?

Depois, confunde-se tudo e todos. Confunde-se Liberdade e seu exercício com umbiguismo puro e duro; trata-se a Tuna com a mesma desfaçatez e desdém com que se trata o ex-namorado ou ex-namorada, ao pontapé, numa espécie de "para quem é bacalhau basta". Chamam "carinho" ao disparate que fazem amiúde. Não querem saber de uma suposta imagem a defender, a da Tuna em 1º e depois sim da sua tuna e da sua própria. É tanga. É o Reino de Nárnia em versão tunante, só que ao invés de se entrar no reino pelo armário, aqui é ao contrário, entra-se no reino do vale tudo saindo dele, do armário. É a tuna para alguns  algumas uma espécie de playground experimentalista onde o resultado da causa e sua consequência é apenas um pormenor.

Confunde-se evolução com teimosia, tradição com birra, respeito pela Tuna enquanto fenómeno musical com livre exercício de libertinagem estética. Uma espécie de versão tuneril Kitsch assaltou a tuna nacional, os Sex Pistols das tunas estão aí. Tudo muito Gangnam e Harlem, de preferência. O problema é que a Tuna não se mede pelos Likes! nem pelos disparates que se fazem em seu nome. E quem não percebe isto não sabe o que anda aqui neste mundo tão especial a fazer. Está aqui como poderia estar noutra cena qualquer. E a Tuna não é uma cena qualquer. De todo.

Faz-se o que se quer. Na Tuna sempre se fez o que se quis. Nada de novo. E continuam a querer, alguns, inventar a roda e o fogo. Criar algo "completamente novo" numa cultura que basicamente se foi renovando em dois Séculos, revigorando, recauchutando. Mas que adianta falar sobre uma cultura se o que interessa é aquilo que os nossos egoístas umbigos clamam quando sobem ao palco, o auto-polimento dos mesmos?

Tomara que houvesse a defesa da Tuna em sentido lato na mesma proporção e empenho com que cada um defende a sua Tuna. Isso, sim, é que seria bonito de ver. Mas é impossível. A puberdade tuneril ainda grassa. Tudo muito Kitsch, como convém. Chocar é que é, pensam. A mim não me chocam; já nada me choca. Apenas despertam um sentimento: pena. Por andarem por cá mas não estarem cá.


Post Scriptum: Não está escrito em lado algum que se deve dizer "Bom dia!" pela manhã quando nos cruzamos com alguém conhecido ou nem isso. Nem tudo tem de estar escrito para que exista, seja respeitado e seja prática reiterada normalmente aceite pela sociedade. Mas "gosto" imenso desta nova filosofia Kitsch que nos diz que para se evitar pisar o traço contínuo, se for preciso até se mata a velhinha que circula na berma....


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