A Aventura da Razão à Posteriori




Fala-se por estes dias pré-Queima das Fitas mais uma vez, do FITA.





O tema é levantado novamente mas agora com motivações distintas. Já neste blogue e desde 2005 que venho falando, analisando e comentando este sui generis certame e o seu não despiciente cenário de bastidores. Aliás, até antes o fiz noutros fóruns, o que me permite escusa de o enquadrar, qualificar ou delimitar agora. Parece hoje evidente que o que então se escreveu e percepcionou hoje está patente em toda a sua plenitude. Não era preciso ser vidente para perceber que os dias que atravessamos eram mera questão de tempo. Eís-los.

Uma nota deveras importante nesse percurso de alerta continuo e que tem anos - e não assunto do dia:

Não foi por acaso que em 2011 surgiu o Manifestvm Tvnae, ratificado no ENT do ano transacto por unanimidade em Vila Real. Mesmo sabendo-se que a esmagadora maioria das tunas passou olimpicamente ao lado do seu conteúdo, reflexões e conclusões. Não foi, portanto, por falta de avisos.

Retomemos a actualidade.

Eís-nos chegados a um ponto óbvio de ruptura, que o boicote há dois anos atrás ao O.U.P. e Tunas da Universidade Portucalense provou, dando o pontapé de saída para o inevitável desenlace a que hoje assistimos. A TEUP entretanto seguiu o trilho da independência face ao "MCV" e hoje temos a Tuna de Biomédicas a saltar fora deste caso chamado FITA - e a ver vamos os próximos episódios que aí virão, já que sabe-se à boca pequena que as águas estão deveras agitadas. Pode-se aqui verificar tal desenlace. Motivou já intervenção de uma Associação de Estudantes, como se pode ler aqui. Começa, finalmente, a haver consciência do problema nuclear.

A razão alegada será a presença passada no F.I.T.U. destas tunas acima mencionadas - o que olhando para a ultima edição coloca logo na mesma circunstância as presentes então da Academia do Porto. O "MCV" passou  a usar como «critério» para aceder ao FITA a participação no F.I.T.U., o que não só é bizarro como absolutamente inédito: Nunca se viu um certame dito de tunas organizado por exclusão de participantes num outro certame. O que é uma inovação, vamos convir. Que atesta desde logo da tez dos ditos organizadores. "Foste ao FITU, não vais ao FITA", sendo que o oposto obviamente não será critério. A motivação é a exclusão e não a inclusão, é penalizar arbitrariamente e não uma simples escolha baseada nos mais simples critérios que sustentam uma qualquer escolha de cartaz para um certame de tunas.

Caiu, por fim, a máscara. O mais que evidente, esperado por alguns desde há muito, aconteceu, finalmente. Sempre foi dito que o FITA não era um certame de tunas de facto. O seu largo historial de coisas obscuras, mal contadas, de pré-audições em causa própria, de comissionistas a puxar a brasa à sua tuna, de um imiscuir constante de quem dele nada tem a ver, a sistemática repetição de actores ano após ano que replica um dado mainstream que hoje se desmorona qual castelo de cartas, o jogo de interesses constante, tudo misturado na Bimby "pracheira" do "MCV" que dá ordens (?) à F.A.P. e ponto final, tornou o FITA naquilo que ele é hoje: Uma espécie de Titanic festivaleiro prestes a afundar a pique.

Não foi por falta de aviso, repete-se. Os sinais estavam aí,  diante de todos. Dos detractores e dos defensores. Por isso é que hoje, alguns, passam olimpicamente para o lado dos detractores. Note-se, contudo, que os detractores de hoje não o são da mesma forma que o são os de sempre. Nem o termo deve ser visto de forma depreciativa: Ser detractor do FITA pelo que ele se tornou é, prova-se hoje, a melhor forma de, paradoxalmente, ser dele um defensor, ou melhor dito, pretender nele uma revolução.
Foi essa perspectiva objectiva e isenta de romantismo bacoco que permitiu a uns poucos ver as coisas tal qual elas se colocavam - e não a perspectiva lírica e ingénua de quem sempre olhou para o FITA como apenas um belo momento na Queima para os Finalistas cantarem e dançarem no Coliseu ao som das suas tunas. Tudo certo, não se contesta isso sequer; a alegria de uma Queima é muito importante. É já esta Queima - mais uma - ferida de morte na sua pretensa alegria. Como também nunca se diabolizou o FITA, apenas e só se olhou para ele objectivamente, de forma desprendida e pelo ponto de vista das Tunas - que é aquele que me interessa.

Mas o FITA nunca foi só festa. O Titanic quando estava a meter água tinha a sua banda a tocar ironicamente o tema " Mais perto de Ti, Meu Deus" como se nada se estivesse a passar, tudo isto no meio de pânico, gritos e de um salve-se quem puder. Há que o assumir, hoje - mais vale tarde que nunca. Foi, aliás, o salve-se quem puder que serviu de mote de gestão a muitas tunas que alinharam ao longo de duas décadas e pico no FITA, que se foi mutando em si mesmo mas sempre sob a batuta de quem dele nada tem a ver, de quem em tempo algum poderia e deveria nele mandar. Podia-se mudar o formato mas nunca se mudou o conteúdo. Os alertas, porem, sempre existiram. Hoje constata-se que com razão. O que nos leva ao ponto essencial.

É sempre chato ter-se razão depois das coisas acontecerem, por mais razão que se possa ter. Vivem-se tempos onde o que interessa é o imediato, o hoje, não se pensando no que pode acontecer mais tarde. Eleva-se a retórica do «viva o momento, now» como Bíblia a seguir. E pior que isso, passa-se um atestado de menoridade e de total insignificância quando alguém, em tempo útil, alerta, questiona, levanta situações ilustra factos, originando com que - ainda por cima - sejam mal vistos ou de forma depreciativa aqueles que tiveram o cuidado de o fazer, então. É, se quisermos, em micro escala, um dos grandes males que assola as actuais gerações, habituadas que estão a exigir agora aquilo para o qual não se precaveram e desvalorizaram antes. Herói não é o que antes das coisas acontecerem o previu; herói é o que vai resolver as coisas que correm mal agora. Coisa tão portuguesa: Casa roubada, trancas às portas.

Ainda assim, nem sequer é isso que interessa em ultima análise - mesmo que não deva agora tal passar ao lado. O que interessa agora é somar  - e não dividir, que é precisamente o que o "MCV" quer com tudo isto. A comunidade tuneril pode agora alertar, recordar, dizer que avisou, que não foi por falta de aviso, que nada disso resolve a questão de fundo, afinal. O que importa, agora, é mostrar de forma inequívoca, factual, sem meias tintas, firme, que a Tuna é uma coisa e o resto outra. Mostrar que a Tuna não deve nada a ninguém a não ser a si mesma. Mostrar que não necessita desta gente para rigorosamente coisa alguma. E isso passa por ter uma nova atitude, somando-se a quem já dela comunga e sempre comungou. Cabe-nos a nós, que sempre olhamos para tudo isto de forma objectiva e justa, receber quem hoje mostra claro arrependimento num alinhamento que, prova-se, tem custos.

Melhor que tudo que se possa dizer ou cobrar seja a quem seja é o desenlace a que estamos a assistir. Tudo tem portanto, um lado positivo e negativo. A Queima estraga-se mais uma vez mas em contrapartida desta vez foi A vez e no que toca a tunas. Resta averiguar e daqui em diante quem é que permanece alinhado com esta gente - ficando provada a motivação dos mesmos - e quem é que se definitivamente assume a sua condição independente de Tuna. Evidente que depois de tudo isto nada voltará a ser como antes. Quem ficar no comboio dos "pracheiros" daqui em diante vai naturalmente colher o ónus do estigma: É que depois desta «Magnolada» não há ponto de retorno.

Por isso, saúdo quem salta fora hoje, mesmo que seja por lhe verem o tapete a ser puxado. Por mim, são bem vindos sem mais delongas: Mil vezes um arrependido que um teimoso néscio.

A Tuna não precisa de se sujeitar à Praxe coisa nenhuma: Leiam, Informem-se, Pensem. Porque foi precisamente por não o terem feito que hoje temos "isto".





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