A Aventura do "Uma Vez Tuno, Tuno para [quase] Sempre"






Sobre um artigo que o meu Amigo Felix Martín Sárraga publicou no FB, e que versava sobre uma questão concreta: Será que existe idade para estar na Tuna?


Tema recorrente, volta e meia lá surge à tona.


Aqui, confesso que tenho mais dúvidas do que certezas. Se olharmos para o passado pelo ponto de vista histórico, custa-me a acreditar que tenha existido uma idade, ou outro qualquer limite, para se estar numa Tuna de cariz estudantil. Curiosamente, tal como hoje não encontro esse tal limite.

No "boom" dizia-se, em tom perfeitamente mitológico - porque associava de forma completamente errónea a Tuna com a Praxe, por força da sobreposição dos actores destas duas realidades distintas - que "terminado o curso se deveria sair do activo". Mas também se dizia "uma vez Tuno, Tuno para Sempre". Resta saber que densidade cada uma das "teorias" assumia e caso a caso: Ainda há Tunos desse tempo no activo. Mas a esmagadora maioria deles, desse tempo, há muito que deixou de o ser, apenas o é romanticamente, o tal "para sempre Tuno".

Por outro lado, não podemos escamotear a realidade Tuna de Veteranos ou Quarentuna, que nos últimos 20 anos começou a surgir e a reforçar-se por cá, justamente com alguns dos Tunos do "boom" tuneril de fins dos anos 80/inícios anos 90 do Século XX. Logo, a teorização do tal limite para se estar no activo caí por terra pela mera percepção do fenómeno Tuna de Veteranos/Quarentuna.

Num outro quadrante, a definição genética da Tuna enquanto grupo essencialmente musical faz com que se conclua, e na presunção de que não há limite de idade para se fazer música, que é absolutamente normal qualquer pessoa fazer parte de uma Tuna; se tiver sido estudante, numa Tuna estudantil. Há mais Tunas que não estudantis e certamente aqui a questão da idade dos seus componentes nunca se levantou.

Finalmente, o que me diz a minha experiência de Tuno com 24 anos de palcos e serenatas:

Se fosse pelo plano pedagógico antigo, teria feito neste lapso de tempo pelo menos 4 cursos superiores. Se fosse ao abrigo de Bolonha, mais, seguramente. Nunca senti, por terminar o meu curso, e na Tuna, qualquer problema apenas por nela continuar.

Na Tuna nunca senti, em momento algum, qualquer constrangimento pela idade que tinha e a dado passo; no limite, o mais prejudicado com tal fui eu, ao dar confiança em demasia a imberbes iniciantes - tendo a esmagadora maioria respeitado a lógica que advém de uma boa educação em casa e outra de igual calibre na Tuna, o que é gratificante, por oposição a alguns que "apanhei" e que apenas me fazem, hoje, arrepender não lhes ter rapado o cabelo - ou melhor que isso, pô-los a andar.

Aqui chegado, entendo que o prolongar na Tuna por muitos anos de um Tuno acaba sempre por ser mais prejudicial ao próprio Tuno, por contraposição ao lucro efectivo que a Tuna recolhe, ao manter gente mais velha que serve de ancora, com mais e melhor experiência, faroís, guias, exemplos, opinion makers, diplomatas - e já nem falo na qualidade artística, sequer.


Dito isto, este tema suscita-me mais dúvidas do que certezas. O que se me é dado a ver é que, de facto, não há limite para se continuar a Tunar - ainda há pouco perdemos o nosso melhor paradigma de tal, Napo. Agora, também sei que há um tempo para tudo e que a exposição em demasia pode ser prejudicial ao próprio Tuno, até pela "balda" que vai dando com a melhor das intenções e que, por vezes, tem de retorno da parte dos mais novos autênticas tentativas de assassinato de carácter.

E digo tentativas porque eles, hoje, não sabem fazer as coisas. Não é generation gap, é um facto: Tirando honrosas e excelentes excepções, as tunas portuguesas estão hoje pejadas de imberbes que julgam tudo saber e poder, quando nada sabem e podem. Atiram pedras sem perceber as consequências do seu arremesso, que nestas coisas resulta sempre num efeito boomerang. Não percebem isso, sequer. Daí a pertinência da experiência numa Tuna.

No meio de todas as dúvidas que este tema me coloca, há, porém, uma certeza, algo que eu considero um pilar neste - e noutros - temas conexos: Tuna que não respeite a sua História, os seus Fundadores, os seus mais antigos elementos não é Tuna, é um simulacro, uma contrafacção, uma caricatura. Que irá, por isso mesmo, a prazo mais ou menos curto, claudicar, por perda ou até mesmo hostilidade às suas próprias raízes.

Aliás, cada vez mais é claro que a grande diferença entre uma boa Tuna e uma má Tuna não é somente musical, é essencialmente - e cada vez mais - entre a que respeita e acarinha a sua história e até a dos outros, por contraposição aos que pura e simplesmente ignoram ou até mesmo hostilizam a sua própria história.

E é aqui que a frase "Uma vez Tuno, Tuno para sempre" ganha caminhos distintos; numas, tal frase é efectiva, com gosto, carinho e cuidado. E ficam os mais velhos tranquilamente. Noutras tunas, esta frase é para os outras tunas, nunca para os próprios. São os tais que vão colapsar mais dia menos dia - quando perceberem que são eles os 5 que restam na tuna, caídos em desgraça faz tempo.

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