A Aventura da Sustentabilidade




Após a minha retirada voluntária dos palcos, a percepção do meio tuneril não se alterou por força de tal. Pelo oposto, tornou-se ainda mais critica e, assim, refinadamente mais livre. Obviamente que, se antes opinativa, agora idem, apenas se tornando musculada: Naturalmente.


Dito isto, o que tenho visto nos últimos anos - e entendendo-se que não conheço, porque humanamente impossivel, tudo o que vai acontecendo pelo país. Ainda assim, do que me é dado à estampa:

Há Tunas que estão a trilhar caminhos de auto-sustentabilidade dignos de nota e registo, porque em clara ascensão naquilo que são os vários pilares que, quanto a mim, essenciais são para a prossecução de tal caminho, que inevitavelmente, levará - e já leva - ao sucesso e por tempo prolongado, espera-se. Não confundir aqui com aquilo a que chamo de "projectos-foguete", que ascendem tão depressa como caem - prova inequívoca do oposto a um projecto tuneril sustentado.


Mais haverão, certamente. Mas destaco particularmente dois no lado masculino e dois no lado feminino - reconheço graciosamente a minha incapacidade para tal análise quanto ao fenómeno das tunas mistas.


A Estudantina Académica de Castelo Branco é uma verdadeiro caso de sucesso em toda a linha e em consonância com as tais premissas que eu considero essenciais. A sua génese e respectivo entorno - não esquecer que Castelo Branco foi e é uma cidade com uma actividade tuneril fora do vulgar - é relativamente recente, fruto certamente de uma aprendizagem que veio dos anos 90 e posteriores. Tal caminho potenciou o evitar de erros e o catalizar de recursos, a que a fundação da sua Associação Cultural em 2009 não é certamente alheia - muito pelo oposto - diversificando o seu core business de forma extremamente pertinente e feliz, onde os seus vários grupos vão servindo para potenciar recursos, aumentar competências, corrigir erros e, assim, gerar sucesso artístico. Os resultados estão aí, com a EACB a dar cartas, num entorno associativo de facto - e não apenas de nome, como alguns fazem - com um certame altamente respeitável e respeitado. Em resumo, a base está lá, o cuidado idem, os resultados são espelho de tal: Todo um percurso.


A Tuna de Tecnologia da Saúde do Porto é mais um caso de estudo. Uma trajectória de ascenção contínua, de sucesso em sucesso, tendo evitado e contornado a seu tempo vicissitudes que, até, oriundas da sua própria casa, poderiam colocar em risco tal caminho. Se atentarmos ao entorno em que a Tuna TS se enquadra geográfica e sociologicamente - a Academia do Porto - percebe-se que o grau de dificuldade dobra apenas e só por tal motivo. Projecto sustentado no tempo e espaço, com diversificação de projectos associados ao grupo - destaco particularmente o seu projecto social - que apenas e só revelam dinâmica constante, que por sua vez atraí, gerando interesse acrescido. Musicalmente competente, oferecendo espectáculo de alto nivel, sem contudo descurar as suas bases genéticas, respeitando os seus fundadores e passado, numa rota de crescimento sustentado que, quanto a mim, é o mais relevante neste momento e no que toca a Tunas do Porto. Um certame com créditos firmados auxilia também a essa noção global. Por tudo o atrás dito, a TS é, quanto a mim, neste momento, a Tuna do Porto mais relevante.


Duas Menções mais que Honrosas a adendar aqui neste particular : Hinoportuna e Tuna Bruna - Tuna Universitária da Figueira da Foz. Em condições e cenários distintos são dois excelentes exemplos do que aqui abordo.


No plano feminino, aponto dois projectos que hoje são certezas, quer pelas suas trajectórias ascendentes, mas essencialmente pela coerência do rumo escolhido em tempo útil, que obviamente origina destaque, relevância e reconhecimento. Cada uma delas com o seu trajecto próprio mas no que toca a uma filosofia em busca do sucesso, parecidas. Falo da Vibratuna - Tuna Feminina da UTAD e da Estudantina Feminina de Coimbra, que, confesso, são duas das poucas tunas femininas que consigo escutar de principio a fim com particular gosto e deleite artístico - como aliás, já fiz.


Mais certamente haverão, e nos dois planos em cima abordados, que cumprirão com a lógica que em cima derramei - e que apenas a mim vincula, naturalmente. Mas olhando para a última década com olhos de lince, entre projectos fossilizados, falsos alarmes, trespasses de "negócio" - do tuneril à barbearia, projectos-foguete & trupes musicais, desaparecimentos liminares, salta imediatamente à vista desarmada quem prima pela presença, coerência, respeito, essência, humildade, rigor, classe e acima de tudo, inteligência. Não é fácil juntar tudo isto num mesmo projecto. Mas há quem consiga. E é desses o palco: Quem não aparece, não existe.


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