A Aventura do Sonho





Tive um sonho, de Sábado passado para Domingo. Algo estranho. Deve ter sido da mudança de horário, quiçá. Ou da Hora do Planeta, às tantas.


Para lá de estranho, fiquei com a sensação nitida de algo batido, déjà vu. Bom, adiante....


Um auditório, cheio. Muito barulho. Calor. A pagina tantas, surgem uns apresentadores, um casal. Não me lembro, nem em sonhos, de ver alguém citar tantas vezes Deus em vão, tal a frequência com que proferiu com sotaque carregado "Ó Bailha-me Deussss". Ele, volta e meia, ainda tinha piada. Na ponta do palco uma "santa" ia dizendo que eles não estavam ainda prontos e lá regressava ao lado de dentro do pano. E a dupla lá ia citando Deus e enchendo chouriços, numa liturgia tão previsivel quão burlesca dignificando assim a nobre arte da improvisação. Reparo ao lado e vejo uma mãe e as primas, figuras que - estranhamente - se tornaram omnipresentes ao longo do sonho, vá-se lá saber porque. Freud deve ter explicação para tal - digo eu.


Depois vieram as Tunas. Aí as Tunas!


Foi do caraças: Anedotas, chistes mais ou menos batidos, diálogos com o público de minutos seguidos, troca de piropos aqui e ali, num caos instalado, parecendo um arraial digno de festas da Srª da Agonia. Recordo com particular carinho - quis assim a minha percepção Kierkgaardiana que diz que a vida só se compreende mediante um retorno ao passado, mas só se vive para diante - uma actuação onde 2/3 da mesma é o filho em palco a falar com a santa progenitora - e as primas, as primas.... - como se estivessem em casa, uma delícia a todos os títulos. Tudo isto com muitos "F.R.Ás" e quejandos à mistura, tornando este meu sonho em 3 partes de gritaria e uma de música, fazendo lembrar os jogos de futebol do Vitória de Setúbal.


Nos intervalos do granel e das conversas em família do palco para a plateia e vice-versa lá tocaram qualquer coisita, uns com mãos nos bolsos, outros a tocar e a cantar muito - o que não é a mesma coisa que bem. O som era algo difuso, onde apenas se ouvia tudo o que era "meia-bola-e-força", "cantado" à Super Dragões em dia de clássico, todos juntos para parecerem muitos, a uma só voz, united. Recordo agora que era mesmo uma só voz, a principal. Harmonias vocais, nada de nada. As violas eram tocadas como os escuteiros tocam, tornando cada tema igual ao anterior, uma espécie de Kumbaya em looping, sempre aprazivel pelo ponto de vista do arraial montado. Bordões, bandolins devidamente tocados, baixos, barítonos e tenores, música, vá, é que nada.


Bom, não foi bem bem assim. Recordo-me agora vagamente que, por acaso, até escutei música bem tocada e cantada mas foram apenas 25 minutos de um imenso e penoso sonhar com 4 horas e pico. 25 minutos claramente a mais no contexto do sonho, uma espécie de pato fora do lago, um muçulmano em Fátima, um Zézé Camarinha numa parada gay. Foi aqui que fiquei na dúvida se tinha sonhado com um festival de tunas ou com um Woodstock de stand up comedy de caseiro cariz rural, lembrando o António Silva a dar o prémio de melhor costureira do bairro, "de forma completamente imparcial" à sua filha. Umas horas depois descobri que, afinal, este sonho foi uma homenagem ao nosso Portugal mais pequenino, caseirito e fazedor-de-estrangeirinhas, que as personagens na foto em cima tão bem caracterizaram em filme datado de 1933. Há sonhos que duram 84 anos....


Ainda bem que foi apenas um sonho. Ou como dizem no Alentejo, mais vale uma mão inchada que uma enxada na mão....:)

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