A Aventura do Verdadeiro Amor

Aqui há uns tempos, em amena cavaqueira, alguém da minha Tuna - hoje já nos seus quarentas e pai de filhos - dizia-me de forma convictamente inocente que "a malta que ficou por lá além dos anos em que estudou acabou por prejudicar a tuna".

Retive a frase, até porque eu fui um desses que por lá ficou mais anos do que aqueles 5 que precisei para acabar o curso. Aliás, muitos mais. É daquelas coisas onde a carapuça serve na perfeição. Sem paninhos quentes.

Entretanto guardei a mesma frase na gaveta da memória, algures e hoje recuperei-a. Porque a retive, a mesma "obrigou-me" a reflectir sobre ela e olhando hoje e ontem para a minha tuna.




Real Tuna Infantina 


Comparar é sempre exercício ingrato, logo para começo. Outros tempos, logo, outras visões. Afasto a comparação tout court e passo então ao essencial: Porque razão nós ficamos mais anos na nossa Tuna para além daqueles ditos "normais" ? (as aspas são propositadas, adiante explico porque).


Depois de muito reflectir - e já não estou de forma activa na minha Tuna desde 2004, ou seja, há claro distanciamento e, por consequência, discernimento q.b. - acabei por concluír o seguinte:


Fica-se porque se tem um amor tremendo, daqueles genuínos, sem condicões, puros, à sua Tuna, ponto. Seria tão mais fácil ser mais despreendido e simplesmente sair para, depois, de fora, poder opinar sem contribuir directamente. É outra forma de lidar com a coisa, respeito - respeito esse que, quando ao contrário, não existe, surge disfarçado por uma altivez arrogante como quem olha para alguém que não quer largar o brinquedo. Há quem lhe chame o "eternizar a ilusão de um instante" como se isso fosse sarna: Não, não é. Ainda há aqueles que não podendo ficar - porque a vida não lhes permitiu tal - desdenham nos outros que puderam ficar, numa comezinha inveja sem sentido. E mais interpretações à la carte existirão, certamente. A teorização errada de que a Tuna "tem de ser obrigatoriamente composta por estudantes" é desmentida pela própria história da Tuna em Portugal: Por exemplo, até 1937 a Tuna Universitária do Porto não foi exclusivamente composta por estudantes. Hoje muitas tunas existem compostas maioritariamente por ex-estudantes.


Certo, certo, é que só se fica num sítio quando se gosta dele, de lá estar, de lá sentir, de lá viver e conviver. Quando tal deixa de acontecer parte-se tranquilamente para outra. Simples. Não carece de grandes teorias. É como em tudo na vida - e numa Tuna não haveria de ser distinto. Não há em rigor qualquer outra explicação - por mais romanceada que seja até. Por isso é que acho odioso qualquer tipo de piada falhada por génese aos que ficam nas suas tunas anos a fio; é como querer dizer a alguém que é ridiculo amar algo - e amar algo é tudo menos ridiculo.


Era hoje incapaz de voltar ao activo na minha Tuna - até porque lá estive muito tempo além da licenciatura. Amo-a hoje à minha maneira. Hoje não me imiscuo, estou fora e assim pretendo manter-me, o andor é de outros porque já antes o carreguei quer em momentos épicos quer em momentos péssimos. Faço hoje outras coisas. Estou noutra tuna, até. O despreendimento foi todo meu a seu tempo devido e com toda a naturalidade sucedeu; logo, tendo sido natural lá ficar foi natural um dia deixar de lá estar - com toda a saudável liberdade que a vida nos oferece. Hoje vibro com as suas glórias e entristeço-me com as suas derrotas - mas de outra perspectiva.


E quando a vejo em momento menos bom, sinto que fiz bem em lá ficar os anos que fiquei. Porque se fiquei foi precisamente para, com o meu humilde contributo, que o futuro viesse a dar-lhe mais momentos bons do que momentos maus. E isso é tudo o que se quiser menos censurável. Aliás, chama-se a isso Amor.

Comentários

Concordo com o teu artigo. Nao poderia deixar de concordar... tambem eu estive mais anos do que os tais 5. Estive porque tinha amor a Tuna, mas acima de tudo, amor a ser Tuno e amor a correr la tuna, como dizem os nossos irmaos espanhois.

Nao acho que isso seja mau ou negativo. Com as devidas salvaguardas e possivel estar-se 15, 20, 30 anos a Tunar com a nossa 'alma mater' sem a prejudicar. E so saber estar. Em vez de estar na primeira fila, passemos para a segunda. Em vez de decidir, aconselhar. Em vez de fazer, ensinar.

Os mais novos veem nisso seguranca sabes? Veem que eles tambem, um dia, podem estar no nosso lugar e com isso assegura-se perpetuidade. Nao so da Tuna em si, mas da cultura, dos costumes, das tradicoes... da essencia da Tuna.

Nos portugueses temos esta mania de achar que ha lugar e tempo para tudo. Nao e bem assim. Muitas vezes estamos enganados. Tal como disse e preciso SABER ESTAR. E preciso saber que ficar calado e ver os outros discutir e decidir e mais precioso do que dizer; 'eu acho de deveriamos fazer assim'... Isso sim e que pode prejudicar aquilo que mais amamos.

Um grande abraco,

El Yakare!

P.S: perdoa-me a acentuacao mas estes teclados ingleses nao sabem o que isso e.
Unknown disse…
Estás perdoado....:)

Abraços!