A Aventura do Respeito




Não se julgue que o recente episódio protagonizado pelas Mondeguinas é caso único, isolado ou fugaz. Não, de todo. Pensar tal só demonstra total desconhecimento da realidade que o associativismo usado como antecâmara das Jotinhas resolveu inundar e desde há muito tudo o que é actividade estudantil - como se eles fossem os únicos a representar os ditos seus estudantes.


A falácia é conhecida há muito. Não há aqui nada de novo. É toda uma filosofia que se reduz nas Queimas/Semanas Académicas/Recepção ao Caloiro e afins - quando deveriam estar preocupados com todo o restante ano lectivo em prol dos seus ditos representados. Máquinas de fazer dinheiro em pouco espaço de tempo, que usam os ditos representados apenas e só para a obtenção de dinheiro fácil - revelando desastrosa gestão face aos cargos para que foram eleitos.


O associativismo estudantil em Portugal é desde há muito uma anedota em si mesma. Pior quando trata os seus representados unicamente como fonte de captação de capital face às sucessivas gestões de vão de escada - o que explica depois como "gerem" as jotinhas e depois os partidos onde irão invariavelmente militar no futuro. Se fosse apenas problema deles não seria tão grave como é quando confrontados com a vida estudantil, que vai - deveria ir - mais além do mero lucro. Claro que o resultado é uma evidência: Alguém pagará os desbastes de tesouraria e já se percebeu quem. Um vício.


É evidente que para essa gente cultura estudantil é meramente um clichê porque o Quim Barreiros origina muito mais retorno. Não seria tão grave se tal e pelo menos proporcionasse condições dignas para os grupos estudantis - que não levam cachêt algum, refere-se - pudessem apresentar-se junto dos também seus representados culturalmente de forma elevada, condigna e tranquila. Mas não, ainda por cima são vistos como empecilhos, entraves, quiçá como pseudo-artistas que têm de ser aturados pelos magnânimos aprendizes de Secretário de Estado, que toleram até, calcule-se lá, que a malta toque umas modinhas saídas da mais pura veia amadora. Genial. E trágico.


Por todas as razões em cima o que as Mondeguinas fizeram - e daqui as saúdo efusivamente - não pode ser visto como uma excepção mas antes como paradigma a seguir. Porque se quem dá o que tem a mais não é obrigado, quem não dá o que tem é porque simplesmente se está nas tintas, passando a ideia clara que os grupos culturais são descartáveis, dispensáveis, uma chatice até. E é precisamente essa noção execrável de quem não tem um mínimo de noção dos lugares que ocupam que deve ser alvo de atitudes como a tida pelas Mondeguinas.


Se essa gente não quer proporcionar condições - que são e comparativamente aos "artistas" que eles contratam quase irrisórias - a quem de forma graciosa e voluntaria se apresenta perante a sua Academia, os seus colegas, os seus estudantes, então que tenham a decência de nem sequer os convidarem a prestarem-se a papeís que eles sabem de véspera serem ignobeís. Não convidem: As tunas não precisam de caridadezinha embebida em favor, precisam de cooperação inter pares. Se quiserem. Se não quiserem, porreiro, as tunas têm mais e melhores freguesias onde pregar sem serem alvo de apartheid.


Já não tenho paciência para esta gentalha que acha que por sermos grupos lá da Universidade tudo lhes é permitido, como se fossemos nós o Zé Cabra ou o Quim Barreiros. Não, jovens jotinhas, as vedetas não somos nós, são os "artistas" que vocês contratam sabendo que quem os vai pagar é o mexilhão do costume - a leste do paraíso na sua santa e alcoolica ingenuidade.


Brinquem aos Woodstocks à vossa vontade. Mas não usem as tunas para a vossa brincadeira. Paguem a quem vos dá retorno, porreiro, é lá convosco. Desde que não usem de forma descartável os vossos colegas que, pasme-se, fazem mais pela representação da vossa instituição, ano após ano, do que vós.



Post Scriptum: Sei haverem excepções e louvo-as. Mas com toda a frontalidade, não fazem mais que a vossa obrigação. Cooperar é isso mesmo, entreajuda simples.

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