A Aventura da Retoma



Tuna de Derecho de Sevilla


É necessário recuar até 2005, ou seja, 13 anos.


Foi a última vez que uma Tuna espanhola venceu o FITU "Cidade do Porto", no caso, a Tuna da UNED de Úbeda. De notar que as primeiras dez edições foram todas ganhas por tunas espanholas - Tuna Universitária de Obras Públicas de Burgos, Tuna de Medicina da Universidade Complutense de Madrid, Tuna de Biologia de Sevilha, Tuna de Medicina de Murcia, Tuna do Distrito Universitário de Granada, Tuna de Medicina de Santiago de Compostela.


Somente na XI edição - 1997 - é que pela primeira vez vence uma tuna portuguesa - no caso, a Estudantina Universitária de Coimbra. De lá para cá apenas tunas de Porto Rico - Segreles e Bardos - interrompem as vitórias de tunas portuguesas. E eís chegados a 2018 e ao XXXII FITU Cidade do Porto, onde uma tuna espanhola volta a vencer, no caso, Tuna de Direito de Sevilha.


Será ler mais além do que os números e as datas indiciam. Há uma tendência clara nos últimos anos que se faz notar: Se por um lado são poucos os certames por cá que têm no seus cartazes tunas espanholas - e vamos resumir aos últimos 3 anos - não será menos verdade que as tunas espanholas que nos têm visitado ultimamente têm obtido muito bons resultados quando competindo com ilustres congéneres nacionais - algo que há muito não se via, muito pelo oposto.


Criou-se no final dos anos 90, inicio deste século, por cá, a noção/clichê/frase feita de que "uma tuna espanhola é mais do mesmo" e que "são sempre mais fracas que as portuguesas", noções que separada ou conjugadamente foram sendo assumidas como verdades dogmáticas pelos tunos nacionais. Mas - e tudo tem um "mas" - não será bem assim.


Por partes:


Sim, é verdade que genericamente a tuna portuguesa galgou qualitativamente e face à congénere espanhola se compararmos o que fomos no boom e por uns bons 10 anos, talvez pouco menos; era fácil a uma tuna espanhola então vir a um qualquer certame em Portugal e ganhar - bastará verificar os certames que ocorriam então de cariz internacional e verificar precisamente isso nos seus quadros de honra.


Só em meados de 1998 em diante é que as coisas se invertem neste particular. Mas tal não significou que a Tuna espanhola tenha perdido qualidade e muito menos que algumas das suas tunas de referência a tenham perdido. Descontando os ciclos de mais ou menos fulgor do lado de lá da fronteira - e agora mesmo atravessa-se um de fraco fulgor, deve-se notar - sempre houve quem se mantivesse à tona e mais além, com qualidade assinalável de forma genérica. Se nos anos 90 eram essas muitas, agora serão poucas mas existem, andam por aí, cá estão.


Dito de outra forma, sempre existiram tunas espanholas com qualidade; ora mais, ora menos, ora cá vieram mais vezes, ora menos vezes. O que aconteceu de 1998 em diante foi um aumento qualitativo e genérico da tuna portuguesa, logo, não se notando tanto a diferença anteriormente existente, invertendo-se até - não esquecer que há muitas mais tunas activas em Portugal que em Espanha.


Criou-se, pois a falsa noção de que a tuna espanhola era sinónimo de qualidade sofrivel ou então, se quisermos, que a tuna portuguesa é sempre melhor que a tuna espanhola. Ora, tal noção é - como se constata - errada. Os últimos 10 anos marcaram de igual modo um decrescendo acentuado na participação de tunas estrangeiras em certames por cá, logo, tal raridade subsidiou ainda mais o mito em causa e, ao mesmo tempo, tornando ainda mais desconhecido o que do lado de lá da fronteira se foi passando: Os certames de Circuito continuaram a desenrolar-se, os de distrito - como sendo Sevilha ou Madrid (Politécnico), p.ex., continuaram e assim sucessivamente, mesmo que genericamente num cenário de deflação.


Ou seja, o binómio «a tuna portuguesa é sempre melhor» + «poucas tunas espanholas a visitarem Portugal» - traduzindo, alguma altivez aliada a alguma ignorância - resultou num óbvio equívoco. Aliás, nos últimos 3 anos e pelo menos temos assistido - e em participação com tunas nacionais de reputação insuspeita - a algumas tunas espanholas a obterem resultados muito parecidos aos que tinham há 20 e muitos anos atrás quando em festivais por cá.



Porque tal ocorre então mais recentemente?


Tenho para mim claro: A baixa qualitativa das tunas portuguesas genericamente e nos últimos anos é um facto que, aliada à tal linha mais tradicionalista de algumas tunas espanholas que ainda vão aparecendo por cá originam com alguma facilidade a retoma de bons resultados, lembrando outros tempos. Os bons resultados de nuestros hermanos por cá devem-se mais à quebra qualitativa do lado de cá do que propriamente a um incremento da mesma do lado de lá. O que nos faz perceber duas coisas desde logo:


O lado mais conservador da tuna espanhola tem, afinal, a sua validade - como se constata. E o lado mais liberalista da tuna nacional tem igualmente a sua validade - como também parece por estes dias claro.


Se calhar é uma boa altura para a tuna nacional mudar alguma coisa. Sei lá, assim de repente, os seus saturados reportórios - aquilo que precisamente tanto se censurava às...tunas espanholas. Pois.


Em 2011 escrevi isto - Vide a "Aventura"imediatamente anterior a esta:


A Tuna portuguesa está sob alçada de uma "troika" absolutamente letal - o prémio, o ego e Bolonha - e que a prazo médio fará devolver com juros elevados o que se anda a gastar indevidamente. Receio falências em catadupa de muitas, a breve trecho, por falta de liquidez nos seus activos ou por manifesta incapacidade em manter o actual estilo de vida. Muitos andam de Ferrari mas que é o mesmo de há 20 anos atrás agora com nova pintura, jantes e escape cromado e tudo; mas arranjos novos não são novos temas....

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