As Aventuras de Um Tuno - V





[As Aventuras de um Tuno]. Obra de ficção algures no Tempo e no Espaço, sem uma ordem cronológica espartana, numa narrativa hipotética de factos que poderiam ter acontecido, ficção baseada na vivência de quase três décadas.



Na Sexta Feira, treze de Janeiro...


Quiseram os Deuses que fossemos apadrinhados pela mais conceituada Tuna nacional, a pedido nosso, a que eles gentilmente acederam. E, como reza a canção, precisamente numa Sexta Feira treze de Janeiro. Claro que tal envolveu conhecimento mútuo, amizades criadas, alguma cumplicidade e muita identificação de valores entre ambas. Naturalmente, nem poderia ser de outra forma e num tempo em que os apadrinhamentos eram recorrentes. Na visita imediatamente prévia à sede da Tuna que nos iria apadrinhar e para acerto de detalhes fomos recebidos por um cartaz que dizia "Próxima Sexta feira, apadrinhamento: Trazer as seringas p.f.". Intimidante.


Uma semana depois rumamos então à mesma sede para a oficialização da cerimónia. Sobe a escadaria primeiro o Guerreiro, Magister então, dirigindo-se à respectiva sala enquanto o resto da Tuna aguardava à entrada do edifício por novas ordens. Uma hora, duas horas e nada. Entretanto mandam-nos subir. Uma sala escura, sem luz mas apenas com holofotes dignos da PIDE/DGS para interrogatórios. Muitos Tunos com a Capa traçada e com a cara velada. Música clássica soturna, ambiente lúgrube. Uma mesa negra com velas, caveira e afins. Ao centro da mesma, quase a lembrar a Última Ceia, o Magister da Tuna madrinha e restantes camaradas. Em frente à mesa, uma urna fechada. "Vocês sabem onde está o vosso Magister?", pergunta imediata. Silêncio quase supulcral. "Então vocês querem ser apadrinhados por nós e perdem o Magister?". Manteve-se o silêncio mas desta vez percebendo onde ele estaria. Escutam-se umas pancadas na madeira e eís que saí da urna o nosso Guerreiro com um cantil de whisky nas mãos e com a face ligeiramente rosada, originando o nosso riso geral, imediatamente silenciado pela mesa. Entre várias provas a que fomos sujeitos uma ficou na retina, quando nos pedem para tocar um tema nosso e, a meio do mesmo, a mesa nos interpela dizendo "muito bem, agora cada um de vós que passe o seu instrumento para o Tuno ao lado e voltem a tocar a mesma música!". Escusado será dizer o que aconteceu de seguida....


Voltamos ambas as Tunas à rua para efectuarmos as provas que nos tinham dado: Desde uma lista infindável de objectos que oscilou entre uma porta de um Mini e um pneu traseiro de um trator, até ao molde em gesso dos testículos dos corceís da Praça D. João I, passando por fazer uma letra para a qual nos deram o mote do refrão, bem como musicar a mesma. Pelo meio, entrevistas gravadas a "profissionais liberais nocturnas que não emitem recibo" das ruas mais suspeitas do burgo. Uma panóplia de coisas completamente estranhas mas que não nos impediram de executar a esmagadora maioria das mesmas com sucesso. Encontro marcado no Lar Feminino da Rua do Rosário para serenata em conjunto. Chegamos à hora marcada e já aguardados eramos pela Tuna madrinha. Um portão de ferro e uma sebe a separar a rua do pátio interior onde iria decorrer a serenata. Mandam-nos passar os instrumentos por cima da sebe, todos, deles e nossos, um a um. Finda tal tarefa mandam-nos subir pela mesma sebe e saltar para o pátio. Estando o último de nós no mesmo, escutamos então do lado da rua um sonoro "muito bem, agora podem abrir o portão para nós entrarmos!!!"....


Serenata em conjunto feita a preceito para gaúdio das donzelas do Lar. Desde então, tornamo-nos orgulhosos afilhados e - julgo eu - também orgulho dos padrinhos. O Apadrinhamento de uma Tuna é um acto que define a própria Tuna.

Comentários

Eduardo disse…
Ah!, Saudade!...