A Aventura das 3 Más Heranças




A Tuna espanhola - e consequentemente, os seus estudiosos - foi, é e será sempre importante no contexto tuneril internacional. Ninguém o nega.

Contudo, há 3 más heranças pelos mesmos legados à narrativa dos anos 80/90 do Séc.XX, aquando do boom tuneril português, onde se "comeu" tudo o que nos foi posto à frente, precisamente pelos supracitados (que "aproveitaram", assim, a combinação de 2 factores por cá: A novidade + a ignorância sobre o tema.)


Clarifico:


1) O Falso postulado de que a Tuna é um modo de vida e não uma expressão musical.

2) O Falso postulado de que a Tuna enquanto expressão musical nasceu em Espanha.

3) O Falso postulado de que a Tuna estudantil é exclusivamente de homens.



 - A Tuna não é um modo de vida. Isso é rigorosamente mentira e não tem por base rigorosamente nada além de romanticismo pré-histórico mais próprio do estudante do que do integrante de uma tuna. Ninguém vive da actividade tuneril, o estudante em tempos remotos é que usou a expressão musical tuneril - entre outras, como a prestidigitação ou a declamação, p.ex. - para sobreviver (coisa distinta). Decorre precisamente do erro clamoroso importado do lado de lá da fronteira que dizia (e vai dizendo ainda) que a tuna é fenómeno exclusivo dos estudantes. Errado: Não é.



Se no lado de lá ela é maioritariamente exercida pelos estudantes (tal como de lado de cá), isso não lhe confere poder de exclusão seja sob que ponto de vista seja, mesmo que "secando" qual eucalipto todo e qualquer fenómeno tuneril à sua volta que não o de estudantes. Foi precisamente esse erróneo discurso que levou a potenciar o mesmo erro do lado de cá da fronteira, bem como a potenciar outros erros discursivos que carecem não só de veracidade; há antes e sim provas precisamente do oposto.



- A Tuna tout court não nasceu em Espanha. A expressão musical Tuna mais antiga de que temos constância em actividade nasceu cá em Portugal [1870 - Estudantina - Tuna Brandoense]. Poderia ter sido no Chile, em Espanha ou na Nicarágua. Mas não, foi cá, por casualidade. Mais uma vez, cavalgando o "efeito eucalipto" da tuna estudantil, os estudiosos castelhanos sempre mantiveram a narrativa de que a tuna nasceu em Espanha: Ora, tal afirmação pressupõe um erro a montante: Precisamente só rotularem de tuna as de estudantes - o uso dos termos estudiantina, rondalla ou murga apenas são formas depreciativas para poderem "justificar" a superioridade e exclusividade da tuna estudantil face às restantes, tentando diminuir estas e subjugá-las à errada lógica de que tuna é de estudantes e só - sendo o resto cópias. Falso. Errado. Néscio. Ou pior, mal intencionado porque pretende conferir um ascendente da tuna estudantil 1º sobre tudo o resto e depois um pretenso ascendente do fenómeno tuneril castelhano sobre todos os restantes no planeta - o que é uma arrogância mal intencionada.



- Finalmente, porque os dois cancros anteriores quase que o fazem adivinhar na sua sintomatologia, era quase fatal que se caísse - como caíu e caí - no 3º cancro deste "discurso", a Tuna é exclusivamente de Homens. Errado, Falso, Mal Intencionado. Há inúmeros relatos de tunas exclusivamente compostas por Mulheres desde o último quartel do Século XIX em várias latitudes, incluíndo Espanha. E eles sabem disso - o que agrava a intenção primeira dos autores deste cancerígeno discurso completamente errado. Há N trabalhos de investigação que o comprovam de forma inequívoca. Há livros, monografias, teses de doutoramento que provam, uma vez mais, que a Mulher sempre esteve presente, fora e dentro da Universidade. Há até videos em linha que nos mostram tal, em idos de 1968, por exemplo - ver "No-Do" no youtube - onde surgem Tunas Femininas Estudantis. Factos, não fabulações ou invenções ou narrativas mal intencionadas.



Há, por tudo isto, que terminar liminarmente com estes 3 cancros na narrativa tuneril que apenas servem obscuros interesses que roçam entre a mais primária tentativa de colonização pan-tuneril e a mais primata tentativa de masculinização do fenómeno tuneril, o que é, além de anacrónica, estúpida e cretina, um erro de lesa tunae.



A Tuna é uma expressão musical antes de tudo.
A Tuna enquanto expressão musical não nasceu em Espanha.
A Tuna não é um exclusivo do Homem.



Que fique claro. Definitivamente.

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